Histórias de Sucesso

Pecuária

Parceria que gera valor

Programa de desenvolvimento da atividade leiteira na Zona da Mata mineira completa 35 anos em 2023


César Macedo

Há 18 anos, o Sebrae Minas apoia uma iniciativa que tem contribuído significativamente para a sustentabilidade e competitividade de pequenas propriedades leiteiras da Zona da Mata mineira. Criado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) há 35 anos, o Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL) é uma referência de trabalho sério, comprometido e bem-sucedido em seu propósito de capacitar estudantes e prestar assistência técnica e gerencial aos produtores de leite da região.

A sigla ESG vem da expressão em inglês environmental, social and governance, que, em português, significa meio ambiente, social e governança

O cronograma inicial do programa previa desenvolver ações ao longo de apenas dois anos. Porém, como os resultados foram positivos tanto para o aprimoramento da formação dos estudantes quanto para o desenvolvimento da bovinocultura leiteira da microrregião de Viçosa, os organizadores decidiram dar sequência aos trabalhos. Nessa longa caminhada, novos parceiros se uniram ao programa. O Sebrae Minas, por exemplo, entrou como apoiador em 2005, levando know-how de gestão para que os produtores assumissem também o papel de empreendedores rurais comprometidos com o aumento da produtividade e rentabilidade a partir de uma governança sustentável, da responsabilidade social e do correto manejo ambiental para diminuição da emissão de carbono – atributos que integram a agenda ESG.

Os números do PDPL são superlativos. Segundo dados consolidados, 171 estudantes das áreas de Medicina Veterinária, Zootecnia e Agronomia participaram do programa em 2022. Neste ano, 135 estudantes estão matriculados. No total, estima-se que cerca de 2,8 mil alunos já tenham passado pelo programa de estágio supervisionado desde a sua criação, com aproximadamente 300 produtores rurais contemplados.

Apenas no ano passado, 43 propriedades rurais localizadas em 22 municípios receberam assistência técnica gratuita. Entre palestras, cursos e oficinas, foram oferecidos cerca de cem treinamentos para os estudantes, que, em busca de uma melhor qualificação, realizaram em torno de 1.360 visitas técnicas às fazendas, totalizando 7,5 mil horas de atendimento periódico. Buscando obter uma visão holística do negócio rural, o PDPL atua em diversas áreas da propriedade, dentre elas: controle zootécnico; alimentação monitorada; manejo geral do rebanho; controle de qualidade de leite; reuso de dejetos; boas práticas ambientais; e gestão econômico-financeira que avalia diversas ferramentas gerenciais, incluindo fluxo de caixa, custo de produção e mais de cem indicadores técnicos e econômicos.

Outro dado significativo: levantamento dos resultados do programa em 2021 mostra que a média de produtividade unitária nacional é de 6,1 litros/vaca/dia, enquanto a média do PDPL alcança em torno de 20 litros/vaca/dia.

Valor compartilhado

O professor Adriano Provezano coordena o PDPL, que auxiliou a mais de 300 produtores em 35 anos
Crédito: Pedro Vilela

De acordo com o professor Adriano Provezano, coordenador do PDPL, a iniciativa tem cunho social e procura gerar valor compartilhado. Trocando em miúdos: a ideia é colocar realidades distintas em contato – estudantes em formação e produtores rurais – para que haja benefício mútuo, numa troca de experiências que possa fundir conhecimentos acadêmicos qualificados com a vivência prática do campo. “Eu integrei a primeira turma quando ainda era estudante de Agronomia na universidade”, diz Adriano, que fez graduação e doutorado na UFV, onde atua como professor titular do Departamento de Economia.

No início, segundo ele, tudo era difícil: os estudantes relutavam em participar e os produtores ficavam desconfiados sobre a assistência. “Hoje, com a credibilidade e os bons resultados, tudo mudou. Temos filas de espera de produtores querendo ser atendidos e também de estudantes lutando por uma vaga, porque participar do PDPL passou a ser um selo de qualificação profissional reconhecido pelo mercado”, destaca. O professor afirma, com orgulho, que o programa ajudou, e muito, na transformação da pecuária leiteira da Zona da Mata. “Tradicionalmente, a região era formada basicamente por uma pecuária de subsistência, rudimentar, precária. Com o trabalho ao longo dessas mais de três décadas, hoje temos produtores atendidos pelo PDPL que produzem de 7 mil a 10 mil litros de leite por dia, fazendo uso de técnicas modernas e automatizadas”.

O produtor Antônio Maria Silva Araújo é um exemplo dessa transformação. Proprietário de uma fazenda de 300 hectares no município de Cajuri, a 14 km de Viçosa, ele saiu de uma produção diária de 200 litros de leite para os atuais 9 mil litros/dia. Nesse período, viu crescer o rebanho lactante de 50 cabeças para as atuais 350, sempre de maneira controlada, rentável e organizada. Antônio Maria conhece bem o trabalho desenvolvido pelo programa, já que participa desde o primeiro ano. Para ele, os ganhos com as visitas semanais ou quinzenais dos estudantes e técnicos são incalculáveis. “O programa mudou a minha vida. As consultorias me trouxeram muito conhecimento, que aplico em todo o processo produtivo do leite, desde a alimentação do gado até a forma de confinamento, incluindo práticas mais tecnológicas de ordenha, e no trato da saúde dos animais. Eu não tinha noção de planejamento e, hoje, tenho controle dos custos, dos insumos, da venda. Enfim, está tudo organizado e planejado. Eu só cheguei aonde cheguei graças ao PDPL”, ressalta.

Inspiração para o Educampo

Rodrigo Buso participou do PDPL e agora é consultor do Educampo
Crédito: Arquivo pessoal

O professor Adriano Provezano afirma que o início da parceria com o Sebrae Minas, em 2005, marcou uma mudança de chave importante, porque a instituição aplica, em sua forma de gestão, práticas modernas de ESG. “Inicialmente, tínhamos uma visão apenas de assistência técnica. Depois, passamos para assistência técnica com apoio gerencial. Com a incorporação das práticas de ESG, chegamos ao PDPL 3.0, que é uma assistência técnica gerencial e sustentável”.

A parceria, que inclui apoio financeiro e de gestão, também é celebrada pela gerente de Agronegócios do Sebrae Minas, Priscilla Lins. “Por meio do PDPL, o Sebrae Minas apoia a formação de melhores profissionais para atuarem no agro e cria oportunidades para que produtores de leite da região sejam mais profissionais, contribuindo com o desenvolvimento desse importante segmento para Minas Gerais, que é o leite”, afirma. A gerente destaca, ainda, que um dos programas mais importantes do Sebrae Minas no setor de agronegócio, o Educampo mantém uma filosofia de trabalho semelhante à do PDPL. Presente em 363 municípios mineiros, a iniciativa contribui para que cerca de 7 mil produtores de leite e de café possam fazer parte de uma plataforma de compartilhamento de informações que, também, inclui visitas técnicas. É exatamente no PDPL que buscamos os consultores que atuam no Educampo. Atualmente, são 40 egressos do programa, mas, ao longo dos últimos 25 anos, foram centenas”, contabiliza a gerente.

Um deles é Rodrigo Rossini Buso, que atua na região de Uberlândia. Médico veterinário formado na UFV em 2012, a partir de 2009 ele participou do PDPL. “O programa foi fundamental para minha formação e para o início da minha vida como profissional. Tudo que a gente aprendia em sala de aula já podia colocar em prática no campo, levando informações de qualidade para os produtores e funcionários, sempre em busca de mais benefícios para a atividade leiteira”.