Histórias de Sucesso

Inovação

Alcance ampliado

Programa ALI tem resultados promissores nos primeiros ciclos das modalidades Rural e Indicação Geográfica


Ana Cláudia Vieira

Há mais de 15 anos, o Programa Agente Local de Inovação (ALI), iniciativa nacional do Sebrae, auxilia os pequenos negócios em ações de inovação, por meio do suporte gratuito de pesquisadores bolsistas. Em 2022, a iniciativa ganhou novas modalidades, entre elas as voltadas para atender a negócios rurais e estimular o desenvolvimento do potencial econômico e social dos territórios alcançados. E as novas vertentes já registram bons resultados.

O primeiro ciclo do ALI Rural em Minas foi realizado entre setembro de 2022 e março de 2023, com 17 grupos. Um deles foi integrado por 14 produtores da Associação Brasilminense de Apicultores (Abrapi), de Brasília de Minas, norte do estado. Eles tiveram o apoio da agente local de inovação Jéssica Oliveira Gaurat, que auxiliou na identificação dos principais gargalos da produção. Em encontros individuais e coletivos, foram mapeadas demandas e soluções em pesquisas acadêmicas e experiências do mercado que atendessem a cada um dos apicultores.

Jéssica Gaurat explica que os primeiros encontros tinham como objetivo entender o nível de conhecimento dos apicultores e que, embora eles estivessem bastante nivelados, foi avaliada a necessidade de se realizarem algumas capacitações. A primeira iniciativa foi uma palestra sobre boas práticas para produção apícola. “Contudo, a atividade ainda não contemplou todos os pontos necessários quanto à colheita e ao processamento do mel, que ainda resultavam em perda considerável do produto. Por esse motivo, solicitei ao Senar um curso mais elaborado, com duração de 40 horas”, detalha.

Outra ação de destaque foi a criação de novas rainhas para as colmeias. Jéssica explica que a produção média alcançada pelos apicultores de Brasília de Minas estava abaixo do normal e que a introdução de uma nova rainha, mais forte, poderia ampliar os resultados em até 60%. “Eles fizeram o curso de produção de rainhas e começamos a perceber os resultados já na safra seguinte, com enxames mais fortes e o aumento da produção”, comemora.

Avanços obtidos

Ricardo Mendes ampliou o número de clientes em 50% após as ações do ALI Rural
Crédito: Arquivo pessoal

O produtor e presidente da Abrapi, Ricardo Mendes, foi um dos participantes do programa ALI. Ele relata que suas dificuldades eram precificar o seu produto, apresentá-lo ao consumidor e, principalmente, calcular os custos finais. “A agente local me auxiliou a identificar os acertos e as dificuldades para o desenvolvimento da produção”, explica. Ricardo também buscou conhecimentos sobre gestão de negócios e marketing do produto e obteve resultados rápidos, como a ampliação do número de clientes em 50%, além da definição de preços de venda para os diferentes produtos comercializados, obtendo mais lucratividade.

Ricardo ressalta que os resultados alcançados com o ALI permitiram também ampliar o leque de produtos e vislumbrar novos passos. Atualmente, a produção anual da Abrapi é de aproximadamente mil quilos de mel, destinada a supermercados e a consumidores finais. São comercializados também mel no favo, cera alveolada, favo no pote, colmeias completas, entre outros itens da apicultura. “A nossa principal expectativa é tornar o nosso mel conhecido nacionalmente e, para isso, vamos começar pela certificação e rastreabilidade do produto”, relata o apicultor.

O analista do Sebrae Minas Ricardo Boscaro informa que um segundo ciclo do ALI Rural foi iniciado em abril, devendo ser finalizado em novembro. “Mais de 400 produtores estão sendo atendidos gratuitamente nos segmentos de apicultura, café, leite, fruticultura, olericultura, entre outros”, diz.

Território fortalecido

O ALI Indicação Geográfica (IG) busca auxiliar as governanças locais a encontrarem soluções inovadoras para questões práticas da gestão do território. “O objetivo é inovar e melhorar os processos de gestão das indicações geográficas, considerando sua regulamentação, controle, proteção e promoção. O programa é iniciado com um diagnóstico que identifica os principais desafios e gargalos da IG. Com base nesses apontamentos e nas prioridades, um plano de ação é elaborado e executado junto à governança local”, explica Ricardo Boscaro.

O primeiro ciclo do programa foi realizado entre setembro de 2022 e agosto de 2023, com quatro IGs: Canastra (queijo), Resende Costa (artesanato), Região das Matas de Minas (café) e Norte de Minas (mel de aroeira). O segundo ciclo foi iniciado em maio de 2023 e tem encerramento previsto para abril de 2024. São participantes as IGs de Salinas (cachaça), Campos das Vertentes (café), Cerrado Mineiro (café), São Gotardo (hortifruti) e Serro (queijo).

No primeiro ciclo, a IG Região do Queijo da Canastra recebeu o suporte da agente local Gleiciane Ferreira na identificação das oportunidades de melhorias no trabalho realizado, além da elaboração e do acompanhamento da evolução de um plano de ação junto à governança local. Para isso, foram realizadas reuniões com produtores e com a diretoria da Associação dos Produtores de Queijo da Canastra (Aprocan), responsável pela gestão da IG. “Dos problemas identificados, focamos naqueles que conseguiríamos tratar dentro do programa. Catalogamos 13 tópicos nesse recorte, abordados em um plano com 22 ações”, explica Gleiciane. Diretor-executivo da Aprocan, Higor Freitas, relata que o apoio do ALI foi fundamental. “Conseguimos desenvolver ações para as quais não tínhamos equipe suficiente, além de ter contribuições diversas, especialmente nos processos de emissão do selo”.

A marca coletiva identifica e distingue produtos ou serviços provenientes de uma associação, cooperativa, sindicato, consórcio, federação, confederação, entre outros.

Caseína é uma proteína do leite usada como suplemento alimentar e para elaboração das etiquetas de rastreabilidade de queijos, podendo ser ingerida.

Uma das principais ações do programa na Canastra buscou eliminar distorções com o uso da marca coletiva e do selo da Indicação Geográfica (etiqueta de caseína). A agente local relata que a marca coletiva, criada em 2014, foi amplamente difundida e passou a ser usada por todos os associados da Aprocan. O Selo da IG, por sua vez, começou a ser utilizado em 2019. “A etiqueta de caseína é incorporada ao queijo no dia da sua produção, evitando falsificações e, por meio de um código único, traz informações do produtor e do dia de fabricação da peça. O Selo da IG tem os objetivos de proteger o produto e o nome do território, além de comunicar a origem do produto. Só pode ser utilizado pelos produtores que atenderem a todos os requisitos do Caderno de Especificações Técnicas da IG. Já a marca coletiva atualmente é utilizada por todos os associados da Aprocan e funciona como uma espécie de expressão da identidade do território”, explica.

Como os dois instrumentos denotam ao consumidor o entendimento de origem produtora, o uso de ambos de forma descoordenada pode provocar confusão junto ao público. Para ajudar nesse entendimento, a solução a ser adotada é o cumprimento da regra – já prevista no estatuto da Aprocan – de que somente os associados aptos a utilizar o selo de IG poderiam também fazer uso da marca coletiva pertencente à associação. A mudança passa a valer a partir de janeiro de 2024. “O uso conjunto da marca coletiva e do Selo da IG comunica ao consumidor que aquele queijo tem, de fato, uma procedência e segue todos os critérios técnicos de produção definidos para o queijo da Canastra”, resume Gleiciane.

Resultados expressivos foram alcançados também na gestão de dados e informações. A partir do trabalho do ALI IG, foram adotadas ferramentas simples de gestão, como planilhas de Excel, que viabilizaram a definição de indicadores precisos, como os preços médios dos produtos indicados para os produtores. Para garantir o uso da IG como diferencial atrativo para o turismo regional, a comunicação com a comunidade foi aperfeiçoada. “A IG da Canastra é famosa nacionalmente. Mas, dentro do território, fazia-se necessário fortalecer o sentimento de pertencimento da comunidade, dos guias de turismo e dos proprietários de pousadas. Então, atuamos para melhorar isso”, relata Gleiciane. Foram realizados eventos para melhorar a interação entre diferentes atores, fortalecendo o reconhecimento e o orgulho da comunidade. Foi firmada, ainda, uma parceria com o Parque Nacional da Canastra para desenvolver e incluir uma disciplina específica sobre a IG no curso de Credenciamento de Condutores, munindo os profissionais com todas as informações necessárias para abordar corretamente o tema com os visitantes.

Uma das últimas ações do ALI na Canastra foi a criação e treinamento do Comitê de Degustação da IG. A partir de 2024, esse grupo será responsável por analisar sensorialmente todos os queijos candidatos a receber o Selo da IG. Houve, também, a apresentação dos indicadores do ALI IG na região para a governança local – formada pela Diretoria e pelo Conselho Regulador. E, apesar do encerramento do ciclo, o trabalho continua. Higor Freitas relata que, atualmente, cerca de 40 dos 800 produtores mapeados utilizam o selo de IG da Canastra. “Queremos atuar em aspectos que possam ser melhorados, principalmente no controle dos selos e de toda a IG, além de promover a adesão de mais produtores ao uso do selo. Isso aumenta o volume de produtos no mercado e contribui para que os consumidores entendam melhor o que é uma indicação geográfica”, finaliza.