Histórias de Sucesso

Cafeicultura

ORIGENS RECONHECIDAS

Estratégia utilizada pelo Sebrae Minas e por associações produtoras resulta em duas novas marcas território: Café do Sudoeste de Minas e Café da Canastra


Lucas Lucas Alvarenga

Um dos produtos agrícolas mais exportados pelo Brasil, o café fascina por seu aroma e sabor. Em terras mineiras, o grão encontrou as condições ideais para se desenvolver e, não à toa, o estado concentra 50% da produção nacional. Além disso, historicamente, Minas valoriza suas regiões produtoras, o que é evidenciado pelo trabalho do Sebrae Minas de construção da estratégia de origem. Até 2022, Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Chapada de Minas, Campo das Vertentes e Região Vulcânica haviam sido beneficiadas pela iniciativa. Neste ano, outras duas regiões lançaram suas estratégias de marca: o Sudoeste de Minas e a Região da Canastra.

O trabalho começa com a percepção de elementos geográficos, climáticos, sociais e culturais característicos de uma região. Com a mobilização de governança local legitimada, o Sebrae Minas constrói – em parceria com os produtores – uma estratégia de diferenciação de marca que reflita a expressão local. “O trabalho envolve três etapas: entender a ambição de negócios, a cultura e a estrutura da região; definir os valores e a personalidade do território; e expressar a linguagem da marca”, explica a analista do Sebrae Minas Lucilene Pessoni.

As lideranças locais participam de todo o processo. “A implementação da estratégia considera a regulamentação da produção a partir de uma atitude sustentável, a proteção do território contra o uso indevido de seu nome geográfico e a garantia da legitimidade da origem, elevando a percepção do valor do produto”, enumera a analista.

Agricultura consciente

Suzana Passos mantém a tradição cafeeira da família na propriedade localizada na Região Sudoeste de Minas
Crédito: Pedro Vilela

O reconhecimento da Região Sudoeste de Minas como Indicação de Procedência (IP) era pleiteado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) desde o ano passado, e a chancela foi recebida em julho. A região é formada por 21 municípios, que respondem por 10% da produção do estado, movimentando R$ 2,2 bilhões ao ano. As lavouras situadas entre 700 e 1.250 metros de altitude, o bioma de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica, o grande volume de chuvas e a variação térmica entre 5 °C e 28 °C proporcionam excelentes condições físico-ambientais para que os pequenos cafeicultores inovem e atraiam mercados exigentes.

Entre esses produtores, há quem carregue o amor pela cafeicultura no coração, como Suzana Passos, que mantém a tradição cafeeira da família, iniciada há quatro gerações. Empreendedora nata, ela trabalha com o marido Wilson na propriedade do casal, o Sítio Cachoeira do Cambuí, e colabora com os pais Armindo e Maria Célia na Fazenda São Domingos, ambas em Muzambinho. A agricultura consciente conserva o solo e as nascentes, gera energia limpa, reduz a emissão de carbono e preserva 30% dos 200 hectares da fazenda dos pais de Suzana. “Quando retornei para a propriedade deles, trouxe comigo a vontade de aprender sobre toda a cadeia produtiva do café. Esse entusiasmo me fez ter ainda mais capricho com os grãos produzidos”, diz a produtora. Atualmente, a fazenda produz 3 mil sacas de café ao ano, de variedades como catucaí, mundo novo, acatu e acaiá.

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Ávida por conhecimento, Suzana estreitou laços com o Sebrae Minas a partir de 2016, quando se tornou uma das cafeicultoras assistidas pelo Educampo. “O programa permitiu trazer uma visão técnica empresarial para dentro da porteira, com a oportunidade de gerenciarmos custos e tomarmos decisões mais conscientes, além de ter proporcionado visitas técnicas, missões e consultorias de boas práticas. Por sua vez, a criação da marca território nos mostrou o quanto o café faz parte da nossa cultura”.

Para valorizar essa tradição, em 2018 a Associação dos Cafeicultores da Região Sudoeste de Minas buscou apoio do Sebrae Minas para atuarem em conjunto em prol de uma estratégia que reconhecesse a origem do café de Suzana e de outras centenas de produtores, como o presidente da associação, Fernando Barbosa da Silva. “A marca expressa um reconhecimento à região, que tem suas características, valores e cultura. Defendemos uma cafeicultura sustentável e consciente e percebemos que o mercado está cada vez mais atento aos produtos de qualidade. Por isso, iniciativa é importante para fortalecer a identidade e a origem do território, valorizar o trabalho dos produtores e buscar oportunidades de negócios. Além disso, o Sebrae apostou no fortalecimento da governança local, que gerencia toda a estratégia da marca”, enfatiza o dirigente.

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O cafeicultor de São Pedro da União participou da construção da marca território por meio de workshops e do estudo da história da região. “Também participei do Sebraetec, que apresentou boas práticas agrícolas e de pós-colheita, fundamentais para reduzirmos drasticamente a quantidade de resíduos no beneficiamento do café”, salienta.

Natureza governa

José Carlos Bacili é produtor e presidente da Acanastra
Crédito: Pedro Vilela

Localizada entre o Oeste e o Sul de Minas Gerais, a Serra da Canastra fica na cabeceira do rio São Francisco, rodeada de quilômetros de belas paisagens naturais típicas do Cerrado brasileiro. A região também é conhecida pela qualidade dos queijos artesanais, iguaria que recebeu, em 2008, o título de Patrimônio Cultural Imaterial do país. Mas, se engana quem pensa que só de queijo vive a Canastra. A cafeicultura tem ganhado destaque, com uma produção significativa. E para valorizar ainda mais a origem produtora, a Associação dos Cafeicultores da Canastra (Acanastra) e o Sebrae Minas criaram a marca território Café da Canastra, uma estratégia de promoção e posicionamento do produto no mercado para fortalecer a união dos produtores e a identidade do território.

Anualmente, a Região da Canastra produz cerca de 750 mil sacas de café de 60 kg, em mais de 1,1 mil propriedades, em um total de 33 mil hectares de área plantada. O território é formado por dez municípios aptos para a produção sustentável de cafés especiais: Medeiros, Bambuí, Doresópolis, Pimenta, Piumhi, Capitólio, São João Batista do Glória, Vargem Bonita, São Roque de Minas e Delfinópolis.

Anualmente, a Região da Canastra produz cerca de 750 mil sacas de café de 60 kg, em mais de 1,1 mil propriedades

Graças às características únicas do café produzido na região, identificadas pelos pesquisadores Flavio Borém e Helena Maria Ramos Alves, em 2022, a Acanastra, com apoio do Sebrae Minas, deu entrada junto ao INPI no pedido de IG, na modalidade Denominação de Origem (DO), no ano passado. A conquista foi confirmada neste mês de setembro.

Para José Carlos Bacili, engenheiro agrônomo, produtor e presidente da Acanastra, a natureza governa tudo na Canastra. “Ao longo dos anos, desde a introdução da cafeicultura na região, criamos um jeito único de produzir café, integrado com a valorização do ambiente e de nossa cultura. Estamos sempre atentos a novas tecnologias e manejo, gerando maior produtividade e qualidade nos cafés. Com a parceria do Sebrae Minas, organizamos nossa governança para valorizarmos ainda mais o trabalho dos produtores e o reconhecimento da região. A criação da marca território é um importante marco em todo esse processo”, comemora.

A engenheira agrônoma e produtora, Joyce Cristina Costa conhece os desafios da atividade. “Nossas fazendas preservam o meio ambiente, valorizam os colaboradores e praticam uma agricultura de alta produtividade. Com o Sebrae Minas, conseguiremos atrair novos parceiros e teremos um café ainda mais valorizado, de origem certificada”, conta.

Segundo a analista do Sebrae Minas Karina Santos Rocha, os produtores irão se beneficiar muito com as iniciativas a serem implantadas no território. “A estratégia proposta para o Café da Canastra expressa e comunica o propósito, os valores, a identidade, as tradições e o posicionamento da região no mercado. Mais do que isso, serve para mostrar que não se trata de um simples café, mas de um produto com origem controlada que gera valor para o território e para produtores, compradores e consumidores”.

Reconhecimento ao pioneirismo do cerrado

Cerca de 130 mil sacas de café ao ano são certificadas com a Denominação de Origem (DO)
Crédito: Arquivo Federação

A trajetória da Região do Cerrado Mineiro na construção da sua marca território é um exemplo para outras experiências em Minas e no Brasil. Cerca de 130 mil sacas de café ao ano, produzidas em 115 mil hectares, são certificadas com a Denominação de Origem (DO) e exportadas para mais de 30 países.

Em 2005, a região se tornou a primeira do país a receber a Indicação de Procedência (IP). Cinco anos depois, a Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro encontrou no programa Educampo uma oportunidade para construir uma estratégia de marca território para o local. “O trabalho que substituiu a marca ‘Café do Cerrado’ por ‘Região do Cerrado Mineiro’ consagrou a qualidade e a atitude dos cafeicultores. Ao tornar a região a primeira DO para o café do Brasil, em 2013, a marca território inseriu o Cerrado Mineiro no patamar de Champagne, na França, e de Brunello di Montalcino, na Itália”, ressalta a analista do Sebrae Minas Naiara Marra.

Com uma governança forte, sustentada por 15 entidades associadas à Federação, a região também se destaca pela agricultura regenerativa e pela preservação da água, contando com o apoio dos programas Restaurar e Educampo. Foi a partir da última iniciativa que a Fazenda Palmito, do produtor Cassemiro Nunes dos Santos, alcançou um aumento de quase 12 sacas por hectare. Além disso, a propriedade localizada em Patrocínio, no Alto Paranaíba, gerou o Nunes Coffee, o mais caro do mundo, em 2017. Cultivado no sistema de sequeiro, o grão tipo cereja descascado foi negociado a R$ 55 mil a saca por compradores australianos e japoneses durante leilão do concurso Cup of Excellence, realizado naquele ano, no Espírito Santo.