Histórias de Sucesso

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É MINEIRO, UAI

Valorização da origem dos produtos garante mais mercados a pequenas agroindústrias de Minas Gerais


Fernanda Pereira

Ao se voltar para suas raízes históricas, a empreendedora Katya Salomão buscou matérias-primas produzidas em Minas e deu um toque sírio em um produto que todos estão acostumados a utilizar no dia a dia da cozinha: o azeite.

Bailarina e educadora física por formação, Katya se dedicou ao ramo de academias durante 35 anos, até que, em 2017, decidiu repensar as próprias escolhas. Ao participar do Empretec, teve a ideia de criar uma marca de azeites saborizados, para homenagear uma tradição familiar. “Temos origem síria e sempre consumimos muito azeite. Minha avó paterna adicionava ervas ao produto, e, graças a ela, passei a dominar a técnica”, conta.

Ao produzir o primeiro lote, sua meta era vender 50 garrafas durante os seis dias do seminário Empretec, mas acabou vendendo 108. “Pouco tempo depois, as pessoas começaram a me procurar querendo mais azeites, e me vi atendendo a uma grande quantidade de encomendas”, diz Katya. Na mesma época, ela começou a participar de eventos e feiras, e em poucas horas todo o estoque era vendido. Daí, então, veio a ideia de registrar a Kochen Azeites Saborizados.

Inicialmente, Katya imaginou que o negócio seria temporário. Os azeites, no entanto, fizeram tanto sucesso que a motivaram a se inscrever em cursos de sommelier de azeites e a aprender a selecionar seus fornecedores com máximo critério. Além disso, criou novos sabores e aperfeiçoou rótulo e embalagem com o apoio do Sebrae Minas, por meio do Sebraetec. E descobriu o Origem Minas, que mostrou como valorizar ainda mais seus azeites.

Katya Salomão homenageou a tradição familiar ao criar sua marca de azeites
Crédito: Pedro Vilela

Atrativos diversos

O projeto Origem Minas foi criado em 2012 pelo Sebrae Minas, em parceria com o sistema Faemg, para fomentar o desenvolvimento, a competitividade e a diferenciação das pequenas empresas do agronegócio e da gastronomia do estado. Por meio de repasse de conhecimentos, incentivo à regularização, promoção e apoio técnico, a iniciativa busca ressaltar valores como tradição, história, qualidade e exclusividade dos produtos mineiros.

De acordo com a analista do Sebrae Minas Danielle Fantini, o Origem Minas oferece capacitações em gestão, boas práticas de fabricação, design de embalagens, rótulos e logomarcas, rodadas de negócios e participação em feiras e eventos, entre outros incentivos ao segmento. “O programa reforça, por exemplo, a importância de uma boa apresentação dos produtos.”

Outras frentes são a ampliação do acesso dos empreendedores a novos mercados e o fortalecimento das relações com compradores nacionais e estrangeiros. “Uma das estratégias de que nos valemos é a participação do Origem Minas em diversas feiras e eventos, para apresentar e promover as marcas e gerar oportunidades de negócios”, acrescenta Danielle. De acordo com a analista, entre 2019 e 2022, o Origem Minas esteve em 48 eventos, que beneficiaram 250 empresas com a geração de R$ 1 milhão em negócios.

Além das vendas diretas, foram também criadas oportunidades de contatos entre as agroindústrias e o varejo, estimulando futuras negociações. “Ao participar do Origem Minas, vi que, mais do que oferecer os azeites ao consumidor, poderia valorizá-los ao atrelar minha história pessoal a eles e enfatizar a origem mineira, já que são produzidos em olivais de regiões como Vertentes e Serra da Mantiqueira”, explica Katya. Ela informa que os insumos utilizados nos 22 diferentes sabores são cultivados de forma orgânica, na fazenda de sua família em Lagoa Santa, outro atributo que soma positivamente ao produto. “Participar do projeto valoriza muito a marca, pois significa que você foi escolhido para representar a pluralidade que há em Minas, e isso é muito gratificante”, afirma a empreendedora.

Cerca de mil litros de azeites da Kochen são comercializados mensalmente via venda direta durante eventos em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo e por meio de representantes nas mesmas praças, além do site da marca e da página mantida no Instagram. Em 2022, a Kochen alcançou outro feito importante: foi agraciada com seis prêmios em um dos maiores concursos de azeites do mundo, a EVO IOOC, na Itália, destacando-se entre mais de 3 mil participantes. Foi medalha de ouro nos sabores pesto, laranja e tomilho e medalha de prata nos sabores defumado, alho negro e trufa branca.

A Dona Lázara Doces Caseiros, de Marlon de Oliveira, registrou grande crescimento após a participação no projeto Origem Minas
Crédito: Pedro Vilela

Doces de família

Dona Lázara Doces Caseiros é um negócio familiar que surgiu quando sua fundadora, moradora de Ituiutaba, precisou gerar uma renda extra para o sustento da família, em 1960. Ela fazia goiabada, com frutas do próprio pomar, e geleia de mocotó. “Dona Lázara era uma mulher visionária, sabia que as pessoas estavam saindo do campo, mas não perdiam o costume de comer os doces da roça”, diz Marlon de Oliveira, um dos netos e sócio do empreendimento, que atualmente está na quarta geração da família.

Os doces fizeram sucesso, e a família mudou-se para Uberlândia, onde abriu a primeira fábrica. Com o tempo, os filhos de Dona Lázara optaram por seguir outros caminhos, mas Valdete Alves de Oliveira, a mãe de Marlon, decidiu abrir a sua própria fábrica de doces. “Nossa produção utiliza as mesmas receitas da vovó e as mesmas técnicas artesanais, além de produtos naturais e de boa procedência. São doces saborosos e que trazem memórias afetivas preciosas”, garante Marlon. Além dele e de sua mãe, também trabalham na fábrica seu pai, José Manoel de Oliveira, e os sobrinhos Samuel e Gabriel Oliveira, que Marlon criou como filhos depois da morte do irmão.

O Origem Minas foi um marco para o empreendimento, por ter possibilitado a participação da marca em uma grande feira de negócios do ramo de máquinas e equipamentos realizada em março de 2022, em Uberlândia. “Fomos convidados a estar presentes por meio do Origem Minas. Durante a feira, fomos entrevistados por uma emissora de TV local, e, ao provar nossos doces, a repórter teve uma reação muito espontânea e inusitada, que acabou viralizando”, conta.

Após a feira, os sócios mantiveram o vínculo com o Origem Minas e participaram de outros eventos. Foi o que bastou para que o faturamento da marca crescesse mais de 600%. “Para uma pequena empresa, a visibilidade e a quantidade de clientes que conquistamos por participar nas feiras é algo impactante. Tem sido uma experiência maravilhosa”.

Atualmente, a Dona Lázara Doces Caseiros pode ser encontrada em empórios e casas de produtos artesanais em quase todos os estados, com exceção da região Norte. Cerca de 10 mil doces são produzidos todos os meses, como a geleia de mocotó, a goiabada e o doce de leite, carro-chefe da marca. O faturamento, por sua vez, saltou de R$ 7 mil para R$ 50 mil mensais em pouco menos de um ano, depois da entrada no Origem Minas. “O Sebrae e a participação no projeto Origem Minas nos trouxeram inúmeros ganhos”, destaca Marlon.

SAIBA MAIS

Acesse aqui e veja como participar do projeto Origem Minas