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INTELIGÊNCIA A SERVIÇO DA SUSTENTABILIDADE

Há 25 anos, Educampo dissemina conhecimentos e contribui para a evolução do agronegócio mineiro


Ana Paula de Oliveira

Quando se formou em Medicina Veterinária, em 1985, o produtor rural Paulo Geraldo Honório Pereira tinha planos diferentes de seus antecessores. Neto e filho de cafeicultores, ele tinha a meta de tornar-se produtor de leite e implantar um programa de qualidade total em sua propriedade. Para isso, comprou alguns hectares de terra, que somou a outros que havia herdado, e começou sua jornada à frente da Fazenda Ecossistema, em São Pedro da União, no Sudoeste de Minas Gerais.

A aposta se mostrou bem-sucedida, e, anos depois, os dois filhos de Paulo, já formados em Agronomia, passaram a auxiliá-lo. Além disso, há 12 anos a Ecossistema passou a contar com o apoio do Sebrae Minas, por meio do Educampo, iniciativa criada para disseminar inteligência a favor do desenvolvimento individual e coletivo do agronegócio. “A atividade no campo depende de muitos indicadores, e tínhamos dificuldade em analisar os dados de forma sistemática e integrada. Ou seja, trabalhávamos às escuras, e o Educampo nos trouxe a luz que faltava”, comenta o proprietário rural.

Em 2022, o Educampo completou 25 anos, período durante o qual contribuiu para que mais de 10 mil proprietários de fazendas leiteiras e cafeeiras passassem a fazer parte de uma rede de compartilhamento de informações, com acesso à tecnologia para favorecer o aumento da produção, a competitividade e a rentabilidade das propriedades rurais. Por meio da plataforma, produtores, consultores especialistas em gestão e empresas parceiras desenvolvem capacidades e criam oportunidades para o futuro dos negócios no agro.

“Em 1997, ano em que foi criado, o Educampo oferecia consultorias para capacitar o produtor a gerir e desenvolver uma empresa de sucesso. Mas o crescimento da demanda gerencial e tecnológica, a permanência e a adesão de novos produtores e o volume robusto de informações geradas exigiram a criação de um ambiente de desenvolvimento continuado e compartilhado, resultando em uma rede que impulsiona o agronegócio”, explica o analista do Sebrae Minas Expedito Pereira Lima Netto.

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Produção sustentável

Referência no ramo de leite, a Ecosssistema integra essa rede. A propriedade tem erca de 200 hectares e um plantel de 480 animais – 240 deles produzindo, em média, 8,5 mil litros de leite por dia, volume que salta aos olhos e reflete uma série de medidas adotadas nos últimos anos para melhorar o manejo nutricional, a genética do rebanho, o conforto animal e a gestão dos custos. “Com dados mais apurados, conseguimos avaliar melhor nossos passos, tomar decisões mais acertadas e direcionar os recursos”, observa o proprietário Paulo Geraldo Pereira.

Na fazenda, destacam-se a implantação de um sistema de irrigação de pivô central e a adoção de agricultura de precisão para potencializar a produção de alimentos para a suplementação do rebanho, além da implantação de uma usina solar fotovoltaica, que proporcionou avanços significativos na eficiência energética da fazenda. Para o futuro, outra meta é implantar um biodigestor para evitar o desprendimento de gás carbônico na atmosfera e transformar o chorume em biofertilizante.

De acordo com Sidney Menezes, médico veterinário e consultor do Educampo que acompanha os trabalhos na Ecossistema, esse conjunto de medidas tornou a propriedade não apenas produtiva e lucrativa, mas ecologicamente correta. “A fazenda alcançou patamares internacionais utilizando as áreas de reserva e de proteção permanente como fontes de sequestro de carbono. É um índice de 0,45 quilo de CO2 equivalente por quilo de leite produzido, o que é muito positivo”, diz.

Paulo e os filhos, Rafael e Tadeu, estão à frente da Fazenda Ecossistema
Crédito: Pedro Vilela

Fundamentos ESG na prática

Tomando a governança como pilar central, o Educampo está alinhado às melhores práticas de ESG. A sigla, derivada do inglês environmental, social and governance – em português, ambiental, social e governança –, traduz um conjunto de práticas voltadas para a preservação do meio ambiente, responsabilidade com a sociedade e transparência empresarial. “Partimos dos aspectos gerenciais, principalmente econômicos, para desmembrar as demais ações. De fato, nosso ponto central é a governança, que envolve um conhecimento mais aprofundado da fazenda e do negócio. Com conhecimento, os produtores passam a tomar decisões mais conscientes”, destaca Expedito. Ainda segundo ele, nos últimos anos o pilar ambiental tem ganhado força, e estudos realizados apontam que as fazendas com melhores resultados técnicos e econômicos apresentam melhores indicadores de sustentabilidade.

Tal relação se comprova na prática. Para se ter ideia, um balanço com produtores participantes do Educampo em dez anos – de 2011 a 2021 – mostrou, no caso do leite, que a produtividade das vacas subiu de 18 para 28 litros por dia, ou seja, houve incremento de um litro por ano. A quantidade de animais também aumentou, saindo de 0,98 para 1,76 vaca por hectare. No café, a produtividade saltou de 43 para 49 sacas por hectare. Ambos os segmentos quadruplicaram o lucro anual no período.

“Ninguém alcança resultados tão significativos sem investir em capacitação de colaboradores, tecnologia de ponta, práticas de manejo e fertilidade do solo, nutrição animal de nível avançado, entre outros fatores. Tudo isso está relacionado à sustentabilidade. São indicadores que mostram que as fazendas estão no caminho certo. Após dez anos, esses produtores estão entregando às gerações futuras uma pecuária muito mais sustentável”, acrescenta o analista do Sebrae.

As fazendas da família de Jorge Naimeg participam do Educampo desde 2005
Crédito: Pedro Vilela

Experiência compartilhada

Foi em busca de oportunidades que os pais do produtor rural Jorge Fernando Naimeg deixaram Minas Gerais e partiram para o estado do Paraná, na década de 1960. Compraram lá um “pedacinho de chão” e, em 1965, plantaram a primeira lavoura de café. A atividade prosperou, e foi possível investir em terras também em Minas Gerais, para onde a família retornou, em 1981, dando início a um grupo sólido, formado por três fazendas – Pântano, Londrina e Ouro Verde – localizadas em Coromandel, região do Alto Parnaíba, hoje administradas por quatro dos seis filhos, três administradores de empresa e um engenheiro agrônomo.

As fazendas Pântano e Londrina se beneficiam do Educampo desde 2005, totalizando, atualmente, uma área de 450 hectares destinados à cafeicultura – a produção anual nas duas propriedades é de 15 mil sacas. “Decidimos participar do Educampo para dar foco à gestão. Naquele momento, precisávamos evoluir nesse aspecto. A possiblidade de contar com um especialista para trazer um olhar de fora é muito importante quando se está envolvido na operação diária”, afirma Jorge, gestor do grupo.

Ele diz que a qualidade do produto é prioridade nas suas propriedades. Com um vasto histórico de premiações, recentemente eles faturaram as categorias “Natural” e “Cereja descascado” no 10° Prêmio da Região do Cerrado Mineiro, que revelou os melhores cafés das safras 2021/2022. Para alcançar tal patamar, os proprietários investem nas melhores práticas do mercado. Um exemplo é a implantação da onfarm, uma biofábrica usada para isolar microrganismos utilizados na proteção da lavoura e que substitui os pesticidas químicos. “Decidimos adotar práticas mais sustentáveis e menos agressivas ao meio ambiente, oferecendo ao consumidor um café cada vez mais saudável”, completa Jorge.

A capacitação dos colaboradores também é uma realidade no grupo. “Nosso Q-Grader, o responsável pela qualidade do café, era funcionário de longa data e coordenava as ações no terreiro. Investimos em sua formação, e hoje ele é habilitado na metodologia de avaliação sensorial Specialty Coffee Association (SCA), usada no mundo todo”, conta o produtor rural. Ele ressalta que outro ponto fundamental para a entrada do grupo no Educampo foi a possibilidade de compartilhar informações. A implantação da fermentação própria, por exemplo, é fruto disso. “O programa nos proporciona uma série de experiências que agregam muito à nossa operação”, complementa Jorge.

Celebração e reconhecimento

Os 25 anos do Educampo foram celebrados com uma ação especial, preparada pelo Sebrae Minas dentro da 10ª Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte. O evento contou com painéis sobre o futuro do agronegócio e homenageou produtores de leite e café, além de consultores especialistas que se destacaram nos últimos dez anos. Paulo Geraldo Honório Pereira e Jorge Fernando Naimeg estavam entre eles.

“Ter a nossa propriedade entre as dez mais eficientes do Educampo nos enche de orgulho. Isso coroa e valida todo o trabalho que temos desenvolvido ao longo dos anos”, disse Paulo. “Estar entre as melhores fazendas do Educampo, que possui tantos produtores competentes, é muito gratificante, um sonho realizado. É o reconhecimento do trabalho que temos executado e mostra que estamos no caminho certo”, completou Jorge.

Uma programação especial marcou os 25 anos do Educampo durante a 10ª Semana Internacional do Café
Crédito: Pedro Vilela