Histórias de Sucesso

Fruticultura

Pequenas notáveis

Cultivo de frutas vermelhas tem se confirmado como uma boa alternativa para agricultores familiares de Machado, no Sul de Minas


Fernanda Pereira

Amoras, framboesas, morangos, mirtilos. É quase impossível resistir à beleza e ao sabor das frutas vermelhas. Originárias de países da América do Norte, da Europa e da Ásia, há alguns anos essas pequenas notáveis ganharam espaço nas áreas de cultivo brasileiras e na mesa dos consumidores. Entre as 15 localidades do país com maiores áreas dedicadas aos pomares está Machado, no Sul de Minas. No fim de 2022, a área plantada do município somava 18 hectares. Ao todo, 240 toneladas foram colhidas em um intervalo de 12 meses e movimentaram mais de R$ 3 milhões.

O cultivo das frutas vermelhas surgiu de um esforço da administração municipal em buscar alternativas para driblar a sazonalidade do café, principal atividade econômica local. Tendo em vista as características do solo e do clima, elas foram apontadas como uma opção viável para ocupar as famílias agricultoras na entressafra do grão. “A fruticultura demanda muita mão de obra, visto que não é possível, em sua grande maioria, a utilização de maquinários na colheita”, destaca Cláudio Wagner, analista do Sebrae Minas.

O programa de estímulo teve início em 2018, com a distribuição de 50 mil mudas de amoras a 13 produtores que, neste início de 2023, estão finalizando a quarta colheita da fruta. De lá para cá, outros agricultores se juntaram ao grupo, e, atualmente, o município registra 46 produtores.

Em 2019, o Sebrae Minas se juntou ao projeto por meio do programa Cultura da Cooperação. O objetivo era organizar os produtores e estabelecer um padrão de governança para a Associação dos Agricultores Familiares de Frutas Vermelhas de Machado (Fruverfam), que, logo depois, ganhou uma sede equipada com dois contêineres e uma câmara fria com capacidade para armazenar 30 toneladas de frutas.

Em uma segunda fase, o Sebrae iniciou junto aos produtores o programa Central de Negócios, capacitando-os a realizar compras e vendas coletivas, além de uma consultoria de mercado. “Foi avaliada desde a melhor forma de vender as frutas até as possibilidades de comercialização, o que os levou a participar de licitação da Prefeitura de Machado para fornecimento da merenda escolar. Hoje, 30% das frutas produzidas no município são destinadas às escolas e creches da rede municipal”, diz a analista do Sebrae Minas Adaiby Gonçalves. Segundo ela, os produtores familiares se adaptaram muito bem a essa cultura, que não exige investimentos em maquinário nem grandes extensões de terra para o cultivo.

Negócio em expansão

Para Sebastião Santos, a união entre os produtores tem sido fundamental para valorizar o produto e fazer boas negociações. “O Sebrae Minas mostrou que precisávamos nos organizar para fortalecer nosso mercado, e vem dando certo.” Um dos primeiros a plantar amora, ele conta que se surpreendeu com a quantidade de frutas colhidas logo na primeira safra, o suficiente para cobrir os custos de produção e obter lucro. “Acreditei que daria certo, mas foi bem mais rápido do que esperava.”

O produtor Sebastião envolve toda a família no cultivo
Crédito: Pedro Vilela

“O Sebrae Minas mostrou que precisávamos nos organizar para fortalecer nosso mercado, e vem dando certo.” Sebastião Santos, produtor Junto da esposa, Maria Aparecida Maciel, Sebastião se estabeleceu em um sítio próximo de Machado depois da aposentadoria, há cerca de dez anos. A propriedade já tinha 5,7 mil pés de café quando a cultura da amora foi inserida. As filhas Larissa, Nicole e Flávia se juntaram a eles na lida com os pomares, que ocupam meio hectare de terra e geram 12 toneladas ao ano. Gostaram tanto que arrendaram o cafezal, concentrando-se no trabalho com as frutas vermelhas e produzindo outros tipos. Em 2022, eles plantaram mais 500 mudas de amora e 280 de mirtilo. Este ano, vão investir em 1,5 mil mudas de framboesa e também testar o plantio do morango.

 

Bonança pós-geada

O produtor Flávio Henrique Teodoro não teve o mesmo sucesso que Sebastião logo na primeira colheita. Em 2021, uma geada sem precedentes atingiu Machado e outros municípios do Sul do estado, impactando as safras de vários anos. Das 4,5 mil mudas de amora e 800 de framboesa que ele havia plantado, apenas as amoreiras resistiram – e, ainda assim, com poucas frutas intactas. Os 600 quilos que conseguiu colher não chegaram perto de cobrir os primeiros investimentos, mas Flávio persistiu.

A produção de Flávio foi congelada na câmara fria da Fruverfam
Crédito: Pedro Vilela

Técnico em informática, ele era gerente de TI em uma grande empresa em Machado, até decidir deixar o emprego e adquirir um pequeno sítio, que já tinha uma lavoura de café. Viu na sugestão de se dedicar ao plantio de frutas vermelhas uma oportunidade de obter renda extra. E, como sua propriedade não oferecia as condições ideais a uma boa produção, arrendou outro terreno. Sem a experiência da lida na terra, o produtor utilizou seus conhecimentos contábeis e gerenciais e buscou suporte técnico junto ao agrônomo do projeto encabeçado pela Prefeitura. “Àquela altura, já tinha conhecimento de que o Sebrae estava auxiliando o pessoal na associação dos agricultores e me juntei a eles. Daí em diante, passei a compartilhar os aprendizados. O Sebrae tem nos mostrado que a produção das frutas vermelhas é um negócio que não evolui individualmente, mas depende da força coletiva.”

Na safra seguinte, em 2022, todo o trabalho de Flávio foi recompensado: ele colheu 13 toneladas de amora. Ficou tão animado que, no início deste ano, plantou mais 3,5 mil pés da fruta. Sua estratégia para conseguir bons negócios é controlar bem os custos da produção e equilibrá-los com os preços de mercado.

Tempo e paciência

As frutas vermelhas são, de fato, rentáveis. Mas é preciso tempo e paciência para uma colheita adequada e no momento certo, já que elas podem estragar com facilidade. Custou um pouco até Lêda Mezavila Corsini e a irmã Lídia Mezavila Araújo convencerem seu pai, Mauro Mezavila, a acreditar na empreitada. A família cultivava café havia muitos anos, mas o resultado da atividade não estava sendo mais suficiente para prover o sustento.

Em 2019, a família plantou 5,5 mil pés de amora tupy em parte do terreno. A primeira safra foi colhida em 2021 e, mesmo com os impactos da geada que atingiu a região, rendeu dez toneladas da fruta. “Foi muito gratificante, porque as amoras são trabalhosas, exigem muito manejo. Mas tem valido a pena, a planta se adaptou muito bem ao clima e ao nosso terreno. Nossa vida melhorou”, afirma Lêda.

Naquele mesmo ano, a família da agricultora plantou mais 1,2 mil pés de framboesa, que já renderam a primeira safra em 2022. Somando as duas espécies cultivadas, foram 12 toneladas de frutas colhidas. No início de 2023, foram plantados mais 700 pés de amora e alguns poucos de mirtilo. Assim como os outros produtores ouvidos, Lêda destaca a cooperação e união entre eles como algo fundamental. “O pessoal está realmente envolvido e compromissado. Temos aprendido muito com o Sebrae”, afirma.

Lêda (à direita) e Lídia (de pé, ao centro), junto aos filhos e ao seu pai, Mauro (assentado): família unida no cultivo das frutas vermelhas
Crédito: Pedro Vilela

De acordo com Cláudio Wagner, a ideia é continuar a oferecer suporte aos produtores e incentivar a profissionalização do grupo por meio dos programas de capacitação. “Apesar de ser uma produção muito familiar, a fruticultura é uma atividade rentável, mas que requer conhecimento gerencial para atender o mercado com profissionalismo, qualidade e constância no fornecimento”, adverte. A analista Adaiby reforça que, neste ano, serão priorizadas ações da marca coletiva, com investimentos em marketing para ampliar a divulgação do polo de frutas vermelhas de Machado.

Ações da marca coletiva, com investimentos em Marketing, serão priorizadas em 2023