Histórias de Sucesso

Cafeicultura

Qualidade reconhecida

Sebrae Minas apoia a Região da Chapada de Minas na produção de café de alto padrão


Fernanda Pereira

O mercado de cafés especiais com origem controlada cresce cada vez mais, com muitas opções à disposição de quem aprecia a bebida. Um levantamento da Federação dos Cafeicultores do Cerrado mostra que o consumo de cafés especiais no Brasil tem registrado um aumento médio anual de 15%. Estima-se que, dos 22 milhões de sacas colhidas em Minas Gerais na safra 2022, 4,4 milhões foram de especiais. O estado destaca-se nesse cenário, respondendo por cerca de 50% da produção nacional deste tipo de grão, em seis regiões produtoras. Cada uma delas tem uma combinação diferente de fatores ambientais e climáticos, além do saber fazer dos produtores, que resulta em aromas e sabores específicos.

Entre as diversas regiões produtoras está a Chapada de Minas, localizada no Vale do Jequitinhonha. Composta por 22 municípios, ela é delineada pelos rios Doce, Mucuri e Jequitinhonha, tem solo rico em minerais, boas altitudes, clima úmido e temperaturas agradáveis, ambiente propício ao crescimento da cafeicultura de alta qualidade.

Há mais de dez anos, o Sebrae Minas atua junto aos cafeicultores locais e promove ações de fortalecimento de governança, representatividade e valorização da origem produtora. Entre as mais importantes estão a criação do Instituto do Café da Chapada de Minas (ICCM), em 2018, e o lançamento da marca coletiva Região da Chapada de Minas, em 2019. No ano passado, outra novidade: a inauguração da sede do ICCM em Capelinha e do primeiro laboratório de provas de café da região.

Segundo o gerente da Regional Jequitinhonha e Mucuri do Sebrae Minas, Rogério Nunes Fernandes, a criação do ICCM e da marca território impulsionaram a produção local. “Fizemos um trabalho de reconhecimento das características únicas do café da Chapada de Minas pelos próprios produtores. Paralelo a isso, mapeamos os cafés de maior qualidade, o que nos permitiu avançar em estratégias de mercado, como a exportação do primeiro contêiner para a Austrália, em 2020.” Atualmente, 5,8 mil produtores e pelo menos 20 mil trabalhadores vivem do cultivo de cafés especiais na Chapada de Minas, que produz, em média, 600 mil sacas por ano. Para continuar fortalecendo essa cadeia, o novo laboratório é essencial, por chancelar a qualidade dos cafés produzidos por meio de uma triagem isenta e permitir que os produtores tenham mais segurança na precificação.

Outra ação para ampliar a visibilidade do café da Chapada de Minas foi a realização do primeiro Prêmio de Qualidade da Chapada de Minas, promovido pelo Sebrae Minas durante a 10ª edição da Semana Internacional do Café (SIC), em novembro de 2022. Participaram 68 amostras, com 19 finalistas e seis vencedoras em duas categorias. As avaliações ocorreram após codificação e classificação dos grãos, realização dos laudos sensoriais das amostras e depósito em armazéns. “A premiação é uma vitrine para os produtores, que têm ofertado um café de primeira qualidade para o mundo”, destaca o analista do Sebrae Minas Julian Rodrigues.

Desafios superados

A Fazendo Mundo Novo, em Franciscópolis, foi fundada em 1970 pelo pai de Clotter Gusmão Serafim. Embora o filho participasse da administração da propriedade no que se referia a negociações e recursos humanos, não estava tão próximo da produção. O patriarca faleceu em 2017, e foi quando Clotter percebeu a necessidade urgente de modernizar processos. “Vínhamos de um contexto de preço do café muito baixo e períodos de estiagens prolongadas que foram derrubando a produção e a qualidade das lavouras em proporção geométrica”, relata. A fazenda já havia alcançado a marca de 5 mil sacas de café ao ano, mas estava produzindo um décimo da capacidade.

No ano seguinte, o produtor buscou orientação do Instituto do Café da Chapada de Minas (ICCM). Participou de encontros on-line promovidos em parceria com o Sebrae Minas, adquiriu conhecimentos e trocou experiências com técnicos agrícolas e outros produtores. Com o aprendizado, conseguiu recuperar 50 hectares de lavoura, dois quais 30 já estão em plena produção – o equivalente a 180 mil pés da espécie arábica, variedade Catucaí 2SL.

O esforço foi compensado: os grãos produzidos na Mundo Novo conquistaram o segundo lugar na categoria “Cereja descascado” do Prêmio de Qualidade da Chapada de Minas, com 87,5 pontos e uma diferença de apenas meio ponto para o primeiro colocado. “Metade do café que produzimos alcança alta qualidade. A partir de agora, faremos o máximo para aumentar o volume de produção desse café premiado”, antecipa o produtor.

Com as readaptações, Clotter espera fazer com que a fazenda reviva os bons tempos. Ainda segundo ele, o apoio do Sebrae e do ICCM foi fundamental para alcançar o resultado e vislumbrar um futuro promissor. “No momento mais desafiador, fui acolhido e obtive as orientações e o estímulo para continuar.”

A Fazenda Mundo Novo, de Clotter Serafim (ao centro), foi a segunda colocada na categoria “Cereja descascado” do Prêmio de Qualidade da Chapada de Minas

De volta às origens

O segundo lugar da categoria “Natural” do Prêmio de Qualidade da Chapada de Minas foi concedido a Ana Angélia Souza Rocha, que alcançou 87 pontos com um tipo arábica. Ela iniciou-se na cafeicultura em 1986 e, durante 25 anos, dedicou-se ao máximo à fazenda, junto ao marido, Diógenes Rocha, que era agrônomo. Depois que ele faleceu, a produtora vendeu a propriedade e se mudou com os filhos, primeiro para Belo Horizonte e, depois, para Uberlândia. Passados alguns anos, a paixão pela terra falou mais alto e, em 2020, ela retomou o cultivo dos cafezais ao adquirir a Fazenda Santa Catarina, na região de Capelinha.

Ana Angélia passou, então, a comandar a lavoura de 15 hectares ativos de café arábica Catuaí 144 e Catucaí com o apoio do filho agrônomo Dândio Moreno Rocha e do companheiro João Alves. As práticas adotadas estão alinhadas à preservação do meio ambiente e das espécies que compõem um ecossistema benéfico ao crescimento de plantas saudáveis e muito produtivas. “Cada inseto e microrganismo presente na lavoura tem uma função: os marimbondos eliminam pragas, as abelhas polinizam a lavoura, e assim por diante. Acredito que tudo isso contribui para um café com a qualidade que temos hoje”, afirma a produtora, que atualmente alcança a margem de 33 sacas por hectare.

Para ela, uma das melhores iniciativas do Sebrae Minas é a aproximação com os produtores, como ocorreu por ocasião da inscrição no prêmio. “Quando alguém se dispõe a nos ouvir e entender a nossa história, criamos um vínculo e estabelecemos uma relação de confiança, da forma como o Sebrae fez conosco. Eu me senti valorizada e incentivada a participar do concurso.” Depois das análises no laboratório de provas e das orientações técnicas, Ana Angélia e sua equipe passaram 30 dias selecionando minuciosamente os grãos, sem o auxílio de máquinas. “Esse resultado fez valer cada esforço. Estou encantada com a possibilidade de poder levar o nosso café para o mundo. Minha meta é continuar aperfeiçoando o produto e participando de concursos”, afirma.

Ana Angélia (ao centro) está à frente da Fazenda Santa Catarina, na região de Capelinha
Marcelo e Ana Paula Urtado, da Fazenda Três Meninas, estão entre os produtores do Cerrado que receberam o certificado da Preferred By Nature

Certificação verde

Em novembro de 2022, 34 fazendas vinculadas à Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (monteCCer) conquistaram o certificado da Preferred By Nature, atestando a gestão sustentável da produção e, principalmente, o baixo índice de emissão de carbono (CO2). Segundo o diretor superintendente Comercial monteCCer, Regis Damasio Salles, a iniciativa está alinhada às demandas mais atuais de mercado. “As grandes multinacionais compradoras dos grãos assumiram compromissos com as metas de redução de carbono, pois estão atentas às exigências do consumidor, a cada dia mais crítico e consciente quanto aos problemas climáticos e ambientais.”

A conquista resulta do trabalho iniciado em 2018 pela monteCCer, em parceria com o Sebrae Minas e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Foram desenvolvidos e aplicados indicadores socioambientais que resultaram no inventário da sustentabilidade das fazendas da região. Após a coleta de dados relativos a solo, fauna, flora, recursos hídricos, uso de defensivos e fertilizantes, foi possível elaborar um diagnóstico das emissões de CO2 em cada fazenda e concluir que elas mais absorvem carbono do que emitem. A Fazenda Três Meninas foi uma das propriedades avaliadas. “A redução das emissões, bem como o aumento do sequestro de carbono, foi uma consequência do manejo que adotamos, que visa ao equilíbrio e à resiliência, com olhar sistêmico e integrando a lavoura à paisagem”, destaca o produtor Marcelo Urtado.

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