Economia criativa
Projetos que transformam
Sebrae Minas estimula iniciativas inovadoras para torná-las financeiramente viáveis e sustentáveis
Roger Dias
Neurodiversas: indivíduos que têm configuração neurológica atípica – ou seja, diferente daquilo que a sociedade considera o padrão. Essas diferenças influenciam comportamento, socialização e aprendizagem
Eu sou a DoroTEA, uma peixinha autista, estou aqui para ajudar e ensinar todos vocês a entender cada vez mais sobre o mundo neurodivergente. Tenho amigos bem legais e quero apresentá-los a vocês para que juntos possamos construir um mundo mais inclusivo e acessível às pessoas neurodiversas. O trecho de apresentação do livro “DoroTEA, a Peixinha Autista” já deixa bem claro o propósito do autor, o mineiro Bruno Grossi. Já na fase adulta, Bruno foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, desde então, apresenta, por meio da literatura infantil, o cotidiano de quem, como ele, precisa vencer desafios. “Muitas pessoas ainda têm dúvidas ou sequer sabem o quão difícil é o dia a dia de um neurodivergente. Por isso DoroTEA vive num mundo em que os amigos mostram a ela novas oportunidades e vivências fora do seu cotidiano, completamente estruturado”, explica.
A publicação recebeu o primeiro lugar na edição-piloto do Programa Sebrae Aceleração Criativa (Sacri), promovido pelo Sebrae Minas e voltado para micro e pequenas empresas (PME), microempreendedores individuais (MEI) e potenciais empreendedores que tenham uma ideia inovadora e criativa nas áreas de artes cênicas, música, artes visuais, literatura e mercado editorial, audiovisual, rádio, artesanato, cultura popular e entretenimento e queiram se capacitar para colocá-la em prática.
Na experiência inaugural, a iniciativa teve a parceria do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e recebeu a inscrição de 85 projetos, dos quais 25 foram selecionados para participar da capacitação. De acordo com a analista do Sebrae Minas Nayara Moraes Bernardes, os projetos contemplados reuniram características peculiares que atenderam ao objetivo do programa. “A escolha foi baseada em critérios de sustentabilidade, diversidade, criatividade e inovação. E, quando falamos de economia criativa, temos muitos projetos que abordam questões que impactam e beneficiam várias outras pessoas”.
A programação de capacitações on-line incluiu mentorias, palestras e consultorias individuais em oito módulos: mercado criativo, modelagem e validação de negócios, gestão de projetos e gestão de negócios, gestão financeira, comunicação e marketing digital para economia criativa, captação de recursos e fontes de financiamento, business innovation e apresentação comercial (pitch). Ao fim das atividades, a expectativa era que os participantes pudessem levar adiante seu negócio de forma financeiramente viável e sustentável. “A partir do programa, conseguimos buscar novas capacitações para as empresas. Algumas já participaram de outras iniciativas do próprio Sebrae Minas que impulsionam seus negócios”, afirma Nayara.
Três projetos considerados destaque receberam os prêmios de R$ 7,5 mil (1º lugar), R$ 6,5 mil (2º lugar) e R$ 5,5 mil (3º lugar). Primeiro colocado, Bruno afirma que o Sacri foi essencial para tornar seu projeto realidade. “O programa me transformou por completo. Cheguei com um projeto cru, formatado a partir de ideias soltas, sem visão empresarial. Depois do Sacri, saí com um projeto completo de inclusão, que passou a contemplar todas as áreas de atuação, como empreendedorismo, financeira, comunicação, gestão e planejamento”, diz.
E a troca entre os empreendedores continua, via grupo de WhatsApp. “Acompanhamos o crescimento de cada um em seu segmento. Para nós, tudo isso é fundamental, porque mostra que o Sebrae Minas pode contribuir para a transformação do negócio. Quando falamos de economia criativa, vemos que ela é forte em sua subjetividade, pois trabalha com o que não é palpável. E conseguimos levar um pouco da economia para dentro dos negócios criativos, trabalhando a metodologia ágil”, destaca a analista do Sebrae Minas.
Ajudar a empreender
O projeto Onde Transborda ficou em segundo lugar no programa Sacri. Para as 200 mulheres atendidas pela iniciativa, o trabalho com linhas coloridas, tecidos e agulhas representa a chance de deixar para trás um cenário de desamparo, sofrimento, fome e violência doméstica e iniciar uma nova vida. Ao se dedicarem ao bordado e à costura, elas passaram a enxergar a vida de outra forma e a projetar um futuro promissor.
Criado em 2013, o projeto fornece capacitações e contribui para que as participantes – mulheres em situação de risco e vulnerabilidade social – sejam inseridas no mercado de trabalho e passem a ter acesso a uma remuneração fixa. As ações tiveram início em Lagoa Santa e, atualmente, alcançam moradoras de cidades como Turmalina, Itamarandiba, Capelinha e Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. A idealizadora do Onde Transborda é a fashion designer Andreia Freitas. “Eu trabalhava em uma empresa que produzia roupas de festa, e a demanda era grande. Logo, tivemos a ideia de capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade. Depois das atividades, algumas delas passaram a trabalhar com marcas, enquanto outras montaram feiras para vender os produtos”, relata. No início, a iniciativa amparou diretamente 30 mulheres. “Na pandemia, montamos um grupo no WhatsApp para não perdermos o contato e conseguimos reunir outras participantes. O projeto cresceu e tomou outra dimensão”, ressalta Andreia.
Mães empreendedoras
Outra iniciativa premiada é o Coisas de Mãe, que auxilia mães recentes no empreendedorismo, contribuindo para o aumento da geração de renda. Atualmente, o trabalho envolve cerca de 150 empreendedoras na região do Vale do Aço, incentivando atividades como artesanato, venda de cosméticos, produção de embalagens e calçados, além de confeitarias e salões de beleza.
O projeto foi idealizado por Priscila Marques quando ela deu à luz o filho Lucas, hoje com 6 anos, mas só se concretizou em 2019. Ela conta que, quando ele nasceu, ficou bastante sensibilizada com as dificuldades que mães empreendedoras enfrentavam durante a gestação e após o nascimento dos bebês. “A partir de então, cinco outras pessoas e eu nos unimos para desenvolver ações capazes de contribuir para o sustento das mulheres. Organizamos cursos de capacitação para melhorar as vendas por meio das redes sociais, além de feiras para comercialização dos produtos”.
Priscila avalia que a participação no Sacri foi um grande estímulo para a continuidade das ações. “É um programa incrível, que abriu minha mente, possibilitou que eu ajudasse outras pessoas e ainda fosse premiada. É gratificante saber que conseguimos conciliar o desafio de unir maternidade e empreendedorismo.”