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RESULTADOS INÉDITOS

Pequenos pecuaristas do Vale do Mucuri comemoram salto de 700% na produção de leite


Josie Menezes

A pecuária no Vale do Mucuri, no nordeste de Minas Gerais, está no topo do ranking do programa Sebraetec FIV. Nos últimos cinco anos, produtores da região se dedicaram ao melhoramento genético de seus rebanhos e, agora, colhem frutos, como o salto de 700% na produção leiteira, que passou de 70 para 500 litros por dia.

Presente em todo o estado, o Sebraetec FIV tem como principais objetivos o aumento da produtividade leiteira e a ampliação da renda dos produtores rurais. Para isso, o Sebrae Minas torna acessível a pequenos e médios pecuaristas a Fertilização In Vitro (FIV), tecnologia de reprodução que favorece o ganho genético do rebanho. Graças ao programa, produtores rurais arcam atualmente com 30% do valor do produto, enquanto os 70% restantes são subsidiados pelo Sebrae Minas.

A técnica permite acelerar a multiplicação de matrizes de alto valor genético, promovendo o nascimento de animais com maior potencial produtivo e selecionando características desejáveis de acordo com o objetivo de produção de cada propriedade. Para avaliar a eficácia do trabalho, o programa realiza o diagnóstico de gestação 30 dias após o implante do embrião, confirmando se as receptoras ficaram prenhas, e realiza o diagnóstico de sexagem aos 60 dias.

Além da tecnologia de fertilização, o Sebraetec FIV oferece consultorias contínuas, que auxiliam pequenos pecuaristas em ações voltadas à melhoria da produção.

Atuação conjunta

Os trabalhos no Vale do Mucuri começaram em 2020 e, atualmente, cerca de 150 produtores são atendidos. Segundo Gabrielly Dayrell, analista do Sebrae Minas responsável pelo programa na região, os números alcançados pelos produtores locais são inéditos, graças à atuação conjunta das instituições, que conhecem a realidade local, e aos próprios produtores, que se empenharam em todas as etapas do processo, desde a alimentação dos animais até o manejo correto.

Segundo a analista, o trabalho de conscientização dos produtores é realizado em parceria com entidades de fomento ao agronegócio, como Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), sindicatos rurais e cooperativas de crédito.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Machacalis, Luiz Alberto Gonçalves da Cruz, relembra como foi o início dos trabalhos do Sebraetec FIV na região: “A chegada de um e-mail informando sobre o programa foi uma tábua de salvação”. Ele afirma que a região clamava por socorro e a proposta de transferência de embrião trouxe esperança, dada a possibilidade de os animais passarem a ser produzidos nas propriedades locais.

Um tripanossomose é a doença causada pelo parasita Trypanosoma vivax, que causa prejuízos no rebanho, como perda de peso, redução da produção de leite e carne e até mesmo a morte dos animais.

Antes disso, produtores rurais do município tinham enfrentado dois períodos críticos: em 2016, animais de descarte do Sul foram comercializados indevidamente na região e espalharam tripanossomose “Para se ter uma ideia dos prejuízos, um de nossos produtores perdeu 70% do rebanho”, conta Luiz. Quatro anos depois, o anúncio da pandemia representou um novo entrave ao desenvolvimento da atividade, retomada com o apoio do Sebrae Minas. Gabrielly enfatiza a relação de confiança consolidada ao longo dos anos. “No início, vendíamos uma tecnologia cara e pouco conhecida no Brasil, pouco palpável para os produtores. Felizmente, eles confiaram na proposta, aderiram a ela e, agora, temos bons números para apresentar”, diz a analista.

Alta Performance

O Vale do Mucuri obteve excelentes resultados no Sebraetec FIV, afirmam Elias Ribeiro (esq.) e Luiz Alberto da Cruz (dir.)
Crédito: Leo Morais

Para Luiz Alberto, os resultados refletem um trabalho de melhoramento genético muito bem-feito. Já no primeiro ano, o Vale do Mucuri obteve o melhor resultado do Sebraetec FIV no estado, com taxa de prenhez de 76%. Em seguida, o sucesso foi repetido com outros dois recordes: 84%, em 2023, e 84,7%, no ciclo 2024/2025, enquanto a média de prenhez no Brasil varia entre 33% e 40%.

Segundo o dirigente, uma propriedade atendida pelo programa no município de Machacalis está caminhando para obter uma produção de leite de mil litros diários. Outro ganho, de acordo com ele, é o aumento do valor de comercialização dos animais, que passou de R$ 3,5 mil para R$ 12 mil. “O Sebrae foi a única instituição que enxergou essa possibilidade para nós e acabou contribuindo, inclusive, para a sucessão familiar rural. Passamos a ter renda suficiente para pai e filho trabalharem juntos em uma propriedade”, comemora.

O Sítio Irmãos Ribeiro, no município de Bertópolis, participa do Sebraetec FIV desde 2022. Elias Joaquim Ribeiro Filho herdou a propriedade do pai em 2010, mas só depois de ter acesso ao programa do Sebrae Minas o produtor passou a vislumbrar uma oportunidade real de crescimento do negócio. “No primeiro ano, alcancei um aproveitamento de 50% dos embriões. Já em 2024, consegui a proeza de 100% no índice de prenhez do rebanho”, conta.

Elias afirma que seus vizinhos estavam bem receosos no início, pois acreditavam que esse tipo de técnica só funcionaria em grandes fazendas. “É muito gratificante o que estamos vivendo. Nossa região sempre foi pobre e, agora, com os conhecimentos trazidos pelo Sebrae, nossa realidade mudou”, vibra. Ele atribui o sucesso obtido ao programa e ao cuidado com cada animal envolvido. “Lidamos diretamente com o nosso gado e, por isso, temos um jeito especial de tratá-lo, o que favorece o combate ao estresse animal. Também tivemos acesso a medidas adequadas de suplementação e água”, pontua.

FIV na Zona da Mata

Gisele Gimenes cria o rebanho em Rochedo de Minas
Crédito: Dante Bragança

O Sebraetec FIV tem fomentado o negócio de pequenos produtores de Rochedo de Minas, na Zona da Mata. Gisele Gimenes, da Fazenda Vargem Alegre, ficou surpresa com a rapidez do melhoramento genético. Praticamente sem novilhas em 2020, a propriedade já consegue separar entre 20 e 25 novilhas para realizar o procedimento e totaliza 74 animais frutos do trabalho, com taxa de prenhez de mais de 70%.

Para atestar a qualidade dos animais, recentemente, Gisele selecionou alguns deles para um torneio leiteiro com duas ordenhas e obteve a marca de 54 litros de leite na segunda cria. Outro resultado está na comercialização. “O preço dos animais está variando entre R$ 13,5 mil e R$ 20 mil”, comemora.

Resultados do Sebraetec FIV em Minas Gerais

Muito além de altas taxas de prenhez alcançadas, o Sebraetec FIV trouxe respostas a pequenos produtores de Minas Gerais. Como obter animais mais produtivos, mais férteis, adaptados aos diferentes climas e ainda mais longevos? A resposta é: investindo em genética melhoradora e oferecendo condições ambientais para a manifestação do potencial genético.

Francisco Augusto Lara de Souza, analista do Sebrae Minas, explica que os animais utilizados no Sebraetec FIV têm alto valor genético, resultado de um processo de seleção rigoroso. “Utilizamos apenas matrizes com Registro Genealógico Definitivo, lactação oficial comprovada por associações de criadores, como a ABCZ e a Girolando, e Relatório do Exame de Vínculo Genético de Bovinos por DNA. Já os touros empregados no programa são provados e genômicos”, ressalta.

Entre as raças mais procuradas pelos clientes, destaca-se o Girolando, em especial o Girolando meio-sangue, produto do cruzamento entre as raças Gir e Holandesa. “O Girolando combina o melhor de duas raças: a rusticidade do Gir com o alto potencial genético para a produção de leite do Holandês, resultante de muitos anos de seleção”, destaca Augusto Lara. “Com isso, o melhoramento genético impulsionado pelo Sebraetec FIV aumenta a produtividade e a competitividade no campo, representando uma inovação concreta e acessível, capaz de elevar de forma consistente os indicadores zootécnicos, de qualidade, reprodutivos e econômicos da pecuária de leite do estado de Minas Gerais”, conclui.