
Sustentabilidade
AGRONEGÓCIO SUSTENTÁVEL
Educampo impulsiona a sustentabilidade, alinhando pequenos produtores às melhores práticas globais
Josie Menezes
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) ocorrerá em Belém, capital do Pará, colocando o agronegócio brasileiro sob holofotes do debate mundial sobre sustentabilidade. Mais do que sediar o evento, o país é considerado líder em práticas agrícolas sustentáveis. Exemplo disso pode ser encontrado em um estudo da consultoria McKinsey, que mostrou que 61% dos produtores brasileiros utilizam produtos, processos ou tecnologias de origem biológica (animal, vegetal ou microbiana) no manejo de pragas, técnica que contribui para a redução do uso de pesticidas químicos. A pesquisa teve a participação de 4,5 mil produtores de nove países, foi divulgada em 2024 e colocou o Brasil em uma posição superior à da União Europeia e dos Estados Unidos, onde a adoção de insumos biológicos é mais baixa. Além disso, 63% dos produtores brasileiros afirmaram utilizar biofertilizantes, que são os adubos orgânicos naturais, feitos de materiais como esterco e resíduos vegetais. Além de práticas ambientais, inúmeras outras ações sustentáveis são aplicadas pelos produtores rurais brasileiros no âmbito da governança.

Crédito:Matheus Garcia
COP30 é o encontro encontro global anual em que líderes mundiais, cientistas, Organizações Não Governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima. É considerado um dos principais eventos sobre o tema no mundo. Será realizado de 21 a 25 de novembro de 2025.
O foco da COP30 está diretamente relacionado a iniciativas como o Educampo, plataforma do Sebrae Minas que tem fomentado o agronegócio mineiro por meio da gestão do negócio rural e do estímulo a práticas agrícolas inovadoras e responsáveis. Considerando que investir em métodos que minimizem impactos ambientais é pauta obrigatória para os mais diversos tamanhos de negócio, o Educampo atua como protagonista para que que pequenos produtores fornecedores de empresas do ramo de alimentação e bebidas, como Nestlé e Danone, se alinhem às melhores práticas. Via intercâmbio de experiências, disseminação de tecnologias e aprendizado coletivo, o programa cria condições para que produtores rurais e técnicos construam e apliquem soluções inovadoras responsáveis e transparentes.
metano entérico Gás produzido no sistema digestivo de animais ruminantes, como vacas e ovelhas, durante a digestão da matéria vegetal, cujo impacto sobre as mudanças climáticas é significativo.
Vale destacar que, além de assumir um compromisso com a conservação do planeta e com a mitigação das mudanças climáticas, as ações sustentáveis podem impactar positivamente a eficiência das propriedades. O aumento da produtividade, por exemplo, é reflexo direto da adoção de manejo centrado em nutrição equilibrada, conforto ambiental e bem-estar dos animais, como explica o analista do Sebrae Minas Expedito Netto. “São avanços que resultam, por exemplo, na redução da emissão de
metano entérico por litro de leite produzido, um indicador importante do impacto ambiental da pecuária.”
Análise minuciosa

para reduzir as emissões de carbono até 2030
Crédito: Matheus Garcia
Na prática, o Educampo amplia a visão do produtor rural na medida em que o conecta a outros produtores e viabiliza seu acesso a práticas sustentáveis. É o que explica o produtor Alexandre Renato Ribeiro, de Ibiá, no Triângulo Mineiro, fornecedor de leite para a Nestlé há mais de 20 anos. “O mais importante do Educampo, sem dúvida, é o benchmarking. O sistema dá um parâmetro comparativo que nos ajuda a aprimorar continuamente a gestão de custo e a qualidade, além de viabilizar a adoção de soluções alinhadas a questões ambientais”, afirma. Proprietário da Fazenda Campo Redondo, ele se mantém atento às demais propriedades fornecedoras da Nestlé – cerca de 1.200, atualmente. “Se vejo uma que está no top 1, analiso os dados de gestão para identificar o que posso aplicar em minha fazenda e trabalho com a equipe para isso. O interessante é que conseguimos comparar e, também, visitar os outros negócios para ver de perto o que estão fazendo”, diz.
Entre as soluções já implementadas, Alexandre cita galpão de compostagem, energia fotovoltaica, lagoa de dejetos, separador de sólidos, coleta seletiva, entre outras. Há também medidas que visam ao conforto e bem-estar dos animais, como o resfriamento das vacas quatro vezes ao dia. E outras iniciativas estão em andamento, como as direcionadas à agricultura regenerativa, além de investimentos específicos em melhoramento.
Não por acaso, a fazenda de Alexandre está entre as cinco no Brasil selecionadas pela Nestlé para o Net Zero, projeto que visa reduzir pela metade as emissões de carbono até 2030.
Medir para melhorar
Outra gigante do setor de alimentação e bebidas, a Danone obteve o selo da B Corp, em 2021, com auxílio do Educampo. A certificação atesta que a companhia atende a elevados padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade.
Especialista de Qualidade do Leite C&P da Danone Brasil, Jemmerson Silva explica que o inventário de carbono elaborado por meio do programa foi determinante para a certificação. Com os dados, foi possível mapear as principais fontes de emissão nas propriedades leiteiras fornecedoras: produtividade (43,2%), consumo de soja (18,1%), proporção de vacas em lactação (13,9%) e consumo de matéria seca (7,8%). E, a partir de então, foram tomadas medidas para a melhoria da gestão do rebanho, como ajustes na dieta animal, adoção de estratégias nutricionais e capacitação dos produtores. Dessa forma, de 2020 para 2024, os produtores parceiros da Danone melhoraram seus indicadores-chave.
Jemmerson ressalta que o trabalho do Sebrae Minas tem sido essencial para fortalecer a cadeia de fornecimento da empresa. Além da troca de conhecimentos, ele destaca a relevância das missões técnicas promovidas e das supervisões contínuas, que garantem um acompanhamento próximo e personalizado em cada propriedade.
O Educampo Danone tem atualmente cerca de 120 produtores envolvidos. Dezenas de palestras e workshops já foram realizados, além de visitas técnicas a fazendas-referência. Outro foco do trabalho são as consultorias Bem-Estar Animal e Cool Farm Tool – que auxilia as propriedades com um diagnóstico personalizado de emissão de gases de efeito estufa.
Além disso, em outubro de 2024 os produtores estiveram na região de Buenos Aires, na Argentina, em uma imersão de cinco dias em fazendas de alta performance. A analista do Sebrae Minas Adaiby Gonçalves destaca que as visitas inspiraram a modernização do manejo leiteiro no Brasil. “Propriedades de lá têm forte tradição leiteira, e nosso objetivo foi proporcionar aos produtores uma visão mais ampla sobre qualidade, sustentabilidade e eficiência produtiva”, diz.
Práticas avançadas

Crédito: Dante Bragança
No Sul do estado, um dos fornecedores de leite da Danone tem se destacado pelas práticas sustentáveis avançadas que adota. Elcio Mendes Vilanova e Silva conta que, desde que se tornou proprietário da Fazenda São Francisco, em Carmo de Minas, a redução das emissões de carbono esteve entre seus objetivos. Utilização de painéis solares, reciclagem dos dejetos agrícolas, compost barn – espaço coberto e com cama de material orgânico, como serragem ou feno, para descanso das vacas – e aplicação de adubo orgânico nos plantios de milho são exemplos das práticas adotadas. Elcio diz que o Educampo o ajuda na atualização de dados econômico-financeiros e zootécnicos, em ações de melhoria e targets dos KPIs e treinamento de funcionários. Ele também costuma utilizar dados de benchmark como referência. “Temos ações bem-definidas para entrega até o fim de 2026 e já melhoramos nossa classificação ESG, CCS, sólidos, escala de produção e custos. Tudo com o apoio do Educampo. O resultado é que, de 2022 para 2024, as emissões de carbono caíram 28%.”
União por práticas sustentáveis no agro
Garantir a continuidade e a sustentabilidade da produção cafeeira no Cerrado Mineiro foi o objetivo inicial da formação do Consórcio Cerrado das Águas (CCA). Após estudos indicarem que a escassez de água poderia colocar em risco a produção local, empresas privadas, esferas governamentais e sociedade civil se uniram em prol da restauração ambiental e da adoção de práticas de agricultura regenerativa.
O consórcio promove o uso adequado e sustentável da terra, ao mesmo tempo em que busca mitigar os impactos das mudanças climáticas. Entre outras iniciativas, há o Programa de Investimento no Produtor Consciente (PIPC). O Sebrae Minas investiu na ação, que orienta e incentiva o produtor na implantação de estratégias para a provisão de serviços ecossistêmicos. Como resultado, o CCA já contabiliza a conservação de 202 hectares de vegetação nativa e a transição de 4 mil hectares de áreas agrícolas para práticas de agricultura regenerativa.
Outro investimento, realizado em parceria com o poder público e entidades locais, já ultrapassa R$ 1,6 milhão dedicados a uma área de 1.503.447 hectares. É o Programa Restaurar, que, desde 2019, tem conduzido estudos e diagnósticos aprofundados de bacias hidrográficas de nove municípios. E o Sebrae Minas também apoia o Estudo do Leito dos Rios, que propõe a criação de um corredor ecológico vital para interligar propriedades de café e favorecer a conectividade ambiental e a biodiversidade.
Segundo o presidente do Consórcio, Marcelo Urtado, um estudo recente avaliou 2 mil propriedades em mais de 55 municípios para identificar áreas prioritárias para restauração e adoção de práticas agrícolas sustentáveis. “Hoje, o consórcio não trabalha somente com o café. Também estamos incentivando produtores de outras culturas. É preciso ter uma visão sistêmica e holística para identificar todas as áreas de potencial produtivo da região e se dedicar ao que exige mais atenção em relação à conservação”, afirma.
Primeira cooperativa de café de baixo carbono do mundo
Para contribuir para o avanço da neutralização das emissões de carbono, o Sebrae Minas tem atuado junto a pequenos negócios rurais no Cerrado Mineiro, região que detém a maior área certificada em agricultura regenerativa mundial: 45 mil hectares. Com 55 municípios produtores de café, a região é reconhecida pela qualidade, quantidade e consistência no fornecimento do produto aos mercados nacional e internacional.
E é possível aliar alta produtividade e menor impacto ambiental, como mostra o exemplo da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo (MonteCCer). A entidade obteve apoio do Sebrae Minas e do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) para se tornar a primeira cooperativa de café de baixo carbono do mundo. Um inventário de sustentabilidade, iniciado em 2018, revelou que as fazendas associadas absorvem mais carbono do que emitem – as emissões alcançam apenas 3,80 toneladas de CO₂ por hectare ao ano, 65% abaixo da média mundial.
“O exemplo da MontCCer confirma que a produção agrícola pode ser economicamente viável e ambientalmente responsável”, diz Naiara Marra, analista do Sebrae Minas.
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