Histórias de Sucesso

Cooperação

Artesanal e orgânico

Com apoio do Sebrae Minas, cidade da Zona da Mata vai expandir a comercialização de açúcar mascavo


Josie Menezes

Em todo o mundo, a busca por maior produtividade agrícola tem levado ao uso de diferentes tecnologias e insumos. Em São José do Mantimento, cidade de 3 mil habitantes na Zona da Mata Mineira, produtores locais optaram por valorizar métodos tradicionais, produzindo açúcar mascavo de forma artesanal e com práticas que dispensam defensivos agrícolas.

A produção de açúcar mascavo é uma tradição de séculos em São José do Mantimento
Crédito: Leo Morais

A produção local tem mais de um século de história: começou em 1918, quando imigrantes alemães e italianos passaram a habitar a região. E os produtores que os sucederam permaneceram fiéis às origens da atividade, principalmente os descendentes daqueles que iniciaram a cultura, como as famílias Kaizer, Mattos, Keller, Sarr, Klem, Gomes, Guerra, Berbert e Sperber.

Após o intervalo de uma década, período em que a fabricação artesanal do açúcar mascavo quase chegou ao fim, a produção foi retomada em 1990, com a união dos produtores rurais do município e a criação de uma associação. Quem conta essa história é o secretário-adjunto de Agricultura do município, o produtor Hildebrand Kaizer, mais conhecido como “Brand”.

Ele relata que, daquele momento para cá, a técnica foi sendo aperfeiçoada. E, em 2021, o grupo buscou ajuda do Sebrae Minas para alcançar resultados ainda melhores, especialmente a elevada pureza que caracteriza o produto atualmente. “Somos 12 na cooperativa e estamos ganhando muito conhecimento a respeito de produção e comercialização”, conta.

Hildebrand Kaizer mantém a tradição familiar
Crédito: Leo Morais

Atualmente, São José do Mantimento tem 19 engenhos registrados. Brand relata que a última safra, de 2024, alcançou cerca de 50 toneladas. Para este ano, a projeção da cooperativa é de 80 toneladas. Os principais estados consumidores do açúcar mascavo são Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e as vendas são feitas diretamente para os clientes que fazem uso doméstico.

Segundo o produtor José Antônio de Souza, presidente da Central de Negócios Cooperativa Regional Mantimento Solidário (Coopermasol), há a crença de que a variedade de cana plantada na região foi trazida da Alemanha pelos imigrantes que habitaram a área. “Levamos ao centro de pesquisas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e eles não reconheceram essa variedade em outro local”, pontua. Ele ressalta que as análises da matéria-prima indicam excelência e qualidade, porém pouca sacarose, ponto que merece atenção. O modo de produção é outro diferencial: usa-se apenas o caldo de cana. “Não adicionamos cal ou soda”, diz José Antônio.

Projeto Açúcar Mascavo

Os agricultores de São José do Mantimento querem, agora, abrir novos mercados para o produto. Essa é uma das ações que vêm sendo trabalhadas por meio do Projeto Açúcar Mascavo do Sebrae Minas, realizado em parceria com a prefeitura local e o Sicoob Credilivre.

O primeiro passo foi regularizar a cooperativa, que estava temporariamente inativa. Em paralelo, o grupo de produtores rurais participou do curso de Cultura da Cooperação oferecido pelo Sebrae Minas e recebeu visitas de consultores para obter suporte e adequar suas propriedades às legislações vigentes.

O produtor José Antônio de Souza é presidente da Coopermasol
Crédito: Leo Morais

Além disso, o Sebrae Minas ajudou na análise do potencial produtivo da cooperativa. A instituição também promoveu visitas de benchmarking do grupo a entidades de referência para a atividade, como a Cooperativa de Agricultura Familiar Sustentável com Base em Economia Solidária (Copabase), em Arinos (MG), a Central de Negócios Forte Pão, em Blumenau (SC), o Centro de Estudo da Cana-de-Açúcar da Epamig, em Oratórios (MG), além de feiras do setor. “Com o projeto, também conseguimos investigar os motivos para a baixa sacarose e trabalhar a genética do açúcar”, conta José Antônio.

Efeitos já percebidos

Secretário municipal de Agricultura de São José do Mantimento, José Guilherme Gomes comemora a regularização da Cooperativa e afirma que o apoio dado pelo Sebrae foi de grande importância, pois possibilitou que os produtores tivessem acesso a informações relevantes para o desenvolvimento da atividade. “Conhecemos pesquisas sobre produtividade e vivemos experiências importantes com as visitas técnicas realizadas. Foi uma oportunidade de aprender e obter mudas de cana com o que há de mais novo em termos de qualidade”, ressalta.

O secretário municipal de Agricultura da cidade comemora os resultados do Projeto Açúcar Mascavo
Crédito: Leo Morais

Para o presidente da Coopermasol, o conhecimento era o que faltava para levar o negócio a outro patamar. Produtor de açúcar mascavo e de café, ele destaca que o grupo de associados vivenciou diversos percalços no passado justamente por não ter domínio sobre gestão e administração. “Infelizmente, cometemos erros que prejudicaram a sequência do trabalho por muito tempo, mas replantamos a semente do cooperativismo, ela germinou e segue crescendo, graças à força do associativismo.”

O analista do Sebrae Minas Jean Costa Gomes ressalta que outro resultado dos trabalhos foi o aumento de 30% a 40% da área plantada. “Os produtores aplicaram conhecimentos obtidos e começaram a inserir novas variedades de cana. Assim, eles conseguem ter uma colheita estendida, não somente no curto período. Com o associativismo do grupo restabelecido, o foco do projeto este ano é o acesso a novos mercados, visando à maior valorização do produto e ao aumento do faturamento dos negócios atendidos”, afirma.

Reconhecimento

O produto já foi exportado para países, como Alemanha e Canadá
Crédito: Leo Morais

No ano passado, a Cooperativa fez duas exportações, com o apoio do Instituto Biodinâmico (IBD), de Botucatu (SP). Uma delas levou 18 toneladas do produto para a Alemanha. Em seguida, uma nova remessa foi feita para o mesmo país e outra para o Canadá, totalizando 38 toneladas. Uma prova de que a fama do açúcar mascavo produzido em São José do Mantimento já ultrapassou fronteiras, motivo de orgulho para toda a comunidade. E os produtores esperam que o trabalho os ajude a alçar voos ainda mais altos. Ainda em 2025, há a expectativa de avançar no estudo para identificar demandas de comercialização do produto e a melhor forma de atendê-las. “O potencial da nossa terra é grande, e vamos trabalhar fortemente com o Sebrae”, frisa José Guilherme.

A expectativa de José Antônio é ampliar a comercialização da cooperativa, inaugurar uma fábrica e gerar novos empregos diretos e indiretos para o município. Para isso, será preciso dar um passo de cada vez, sem atropelos. A cautela tem explicação: entre outros cuidados, é fundamental escolher adequadamente o local. Isso para não repetir o exemplo de uma cidade conhecida por José Antônio, que construiu uma fábrica de açúcar mascavo próximo a um brejo, o que levou as autoridades sanitárias a impedir seu funcionamento, a despeito do investimento de R$ 1,5 milhão, feito em 2006.