Histórias de Sucesso

Entrevista

Acompanhe as tendências

Independentemente do porte, negócios precisam estar atentos às mudanças no padrão de consumo do seu público


Cristina Mota

Uma peça que há dois anos era considerada essencial ao guarda-roupa feminino pode, atualmente, ser tida como inadequada pelo mesmo grupo que a havia adotado. Ritmo musical, preferências gastronômicas e opções de entretenimento também podem estar sujeitos ao mesmo movimento, assim como outras tendências. Isso ocorre porque mudanças em estilos de vida e de valores e necessidades são uma constante na sociedade – e impactam diretamente o padrão de consumo das pessoas.

Por isso, as empresas precisam não só conhecer o seu público, mas estar constantemente atentas às transformações que podem alterar suas preferências. Só assim conseguem antecipar-se no momento certo e otimizar resultados.

Nesta edição, a Revista Histórias de Sucesso ouviu Priscilla Seripieri, Head of Business & Operations Mindset LATAM da WGSN, que atua globalmente na previsão de tendências. Ela compartilhou algumas perspectivas traçadas pela empresa para o momento atual e os próximos dois anos.

Quais são as tendências de consumo que devem predominar neste e no próximo ano, de forma geral?
São inúmeras as tendências mapeadas na WGSN para os próximos anos, mas destaco algumas identificadas em um report que fizemos sobre os compradores de 2025. A primeira refere-se aos gastos emocionais: os compradores buscarão experiências sensoriais e inspiradoras, que refletirão uma busca mais profunda por significado e estabilidade em meio à volatilidade econômica global. Há também o que chamamos de “bem-estar sobrecarregado”, que fará com que os compradores se sintam pressionados a agir de forma a sentir-se saudáveis. Outra tendência é a busca da transparência: os consumidores questionarão a validade das alegações relacionadas à sustentabilidade e buscarão tomar decisões de compra mais informadas.

“A principal estratégia é sempre priorizar e observar o consumidor” Priscilla Seripieri da WGSN
Crédito: Arquivo Pessoal

Como as marcas e negócios, inclusive os pequenos, devem se preparar para pensar as estratégias baseadas nessas tendências?
É importante que marcas e negócios entendam como podem atuar como catalisadores, de forma a ajudar o consumidor a enfrentar esse novo cenário. Pequenos negócios costumam ser mais ágeis e autônomos e podem lançar mão de estratégias que ajudem o consumidor que busca transparência, por exemplo.

Como a WGSN prevê tendências?
Trabalhamos por meio de nossa metodologia exclusiva, combinando dados quantitativos e qualitativos com conhecimento global, especializado, que envolve todas as indústrias. Além disso, dispomos de uma variedade de metodologias de pesquisa para prever o futuro de curto e longo prazo, de 3 a 5 anos.

Para os pequenos negócios, que, em geral, não contam com equipes especializadas ou recursos para investir, quais são os caminhos para se manter em dia com as tendências de consumo?
A principal estratégia é sempre priorizar e observar o consumidor. Ele é o ponto central e comanda toda a jornada de consumo. Portanto, entender o que o consumidor quer e o que está por trás de suas demandas ajuda os empreendedores a acompanhar os movimentos que estão surgindo e ganharão força com o passar do tempo.

Temos novos perfis de consumidores? Quais são eles?
Anualmente, a WGSN lança um report sobre o consumidor do futuro e, em 2025, já temos mapeados quatro perfis para 2027: guardiões da privacidade, convencionais, neoindependentes e energizadores.

Os guardiões da privacidade incluem aqueles que estão resistindo a estilos de vida sempre ativos, motivados pelo ceticismo tecnológico e pelo desejo de proteger seus dados, sua herança cultural e sua saúde mental e recuperar o controle e a alegria. Os convencionais reúnem os que estão trocando a cultura da agitação pelo descanso, criatividade e conforto, redefinindo o sucesso na era digital enquanto buscam experiências e produtos que gerem conexões na vida real.

Já os neoindependentes são os que, em uma era de desconfiança, na qual a opinião supera a experiência, combaterão a desinformação com uma abordagem rebelde e vigilante e esperarão mais responsabilidade das marcas. Por fim, o grupo dos energizadores abraçará o humor e brincará em um mundo sério, tratando a diversão como um direito fundamental. Rejeitando a IA, eles usarão a imaginação para definir a “fun-tilidade” como sua nova medida de sucesso.

As redes sociais e os meios on-line continuam fortes para comunicação e vendas?
Segundo um report da WGSN, com mais pessoas priorizando a saúde mental, a internet vai atravessar um processo de “encolhimento” nos próximos anos, à medida que o nicho passa a ser a norma e mais usuários optam por plataformas baseadas em interesses e menos limitadas pelos algoritmos. Preservar a internet para as gerações futuras, promovendo momentos de contentamento e microalegrias, será fundamental para conquistar o público das redes sociais em 2026.

A sustentabilidade, por meio do consumo colaborativo, os produtos eco-friendly e a escolha de itens artesanais, que valorizam comunidades, têm sido crescentes nos últimos anos. Isso deve prosseguir?
Sem dúvida! A fadiga das tendências está fazendo com que os consumidores reavaliem seus padrões de consumo. Produzir sob demanda é uma forma de desacelerar esse ciclo de consumo desenfreado. Além disso, investir em serviços de reparo customizados também é uma excelente aposta, uma vez que as marcas têm a oportunidade de oferecer um tipo de luxo mais individualizado ao seu público.