Histórias de Sucesso

Entrevista

DE R$ 0 A R$ 200 MILHÕES

A Revista Histórias de Sucesso conversou com Walter Galvão Neto, empreendedor “de berço” e um dos protagonistas de um exemplo de grande sucesso nos negócios


Cristina Mota

Já imaginou ver o seu pequeno negócio crescer e ser vendido para uma grande em- presa por nada mais, nada menos do que R$ 200 milhões? Pois o empresário Walter Galvão Neto viu isso ocorrer com a Ioasys, startup que fundou com seu primo, Gilson Vilela Júnior, em 2021. O negócio foi comprado pela Alpargatas, empresa brasileira gigante no mercado, dona de marcas como a Havaianas. Nesta entrevista, Walter fala sobre a sua trajetória no empreendedorismo e dá dicas para uma jornada de sucesso nos negócios.

Walter Galvão Neto (à esquerda) e Gilson Vilela, fundadores da Ioasys Crédito: Wanessa Soares

Você empreende desde cedo, como despertou para isso?
Meu avô era muito empreendedor e, além do nome, herdei isso dele. Tive o meu primeiro negócio com 15 anos: abri uma lan house em Nepomuceno, no Sul de Minas, minha terra natal. Alugava videogame por hora, tinha uns 45 aparelhos, que, na época, eram caros. Deu muito certo, mas tive de fechar o negócio pouco tempo depois, para focar a finalização do Ensino Médio. Com 17 anos, entrei na graduação. Então, começou a minha carreira: trabalhei com telemarketing para me manter, e cresci rápido profissionalmente. Aos 23, eu já era gerente de uma companhia de médio para grande porte, tinha 300 pessoas sob minha gestão. E foi nessa época que larguei tudo para fundar a Ioasys, junto com o Gilson, que é meu primo. E essa não foi a única empresa que criei: tem uma rede de clínicas médicas (a Clínica do Bem), uma empresa de logística, da qual sou investidor atualmente, uma pizzaria, entre outros. Agora, eu atuo em várias frentes, como em construção civil para o mercado de luxo, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Sempre gostei, então, de empreender e, em 37 anos de vida, tive várias experiências.

Quais as principais lições aprendidas nesse percurso?
Eu acho que eu poderia passar um dia inteiro contando sobre elas, mas há algumas que gosto de destacar. Já apanhei muito em negócios que criei, mas isso ocorria naqueles em que eu não conseguia despender energia. Não dá para fazer tudo. Agora, eu não abro um novo negócio se eu não tenho alguém com perfil empreendedor e capaz de se dedicar 100% a ele para me apoiar. Outro aprendizado é sobre a viabilidade da ideia, que tem de ser atestada. A ideia pode ser maravilhosa, mas, se o empreendedor não tiver a capacidade de executá-la, não vai para a frente. Eu acho que a resiliência é uma característica fundamental para o empreendedor, porque ter um negócio é uma montanha-russa, você pode estar no topo e, de repente, descer ao fundo do poço. Você pensa que vai quebrar e, às vezes, tem esse mesmo sentimento duas vezes por dia. O empreendedor deve ter “pé no chão”, não se empolgar demais, pois isso é bem fácil de acontecer.

Sobre a Ioasys, como foi a evolução da empresa?
A Ioasys foi de R$ 0 a R$ 200 milhões em oito anos, que é o valor pelo qual vendemos a companhia. Tivemos várias ondas no negócio, e o interessante é que houve uma sensibilidade muito grande para nos adaptar aos contextos de mercado, que mudam muito no nosso ramo. A Ioasys nasceu desenvolvendo aplicativos para startups, em 2012. Fomos incubados na Fumsoft, uma aceleradora de negócios, e o próprio Sebrae Minas teve uma participação rele- vante no início, atuávamos no Sebraetec, desenvolvendo aplicativos para algumas empresas mineiras. Em 2015, fizemos a primeira migração. Percebemos que a empresa deveria desenvolver apps multitela, não apenas para mobile, em alinhamento com a transformação digital das indústrias tradicionais brasileiras, das grandes em- presas. Mudamos de sede nessa época para termos uma estrutura coerente com esse novo público. Foi um divisor de águas para nós, começamos a atender a grandes clientes no processo de transformação digital, de ponta a ponta. Em 2021, a Ioasys foi vendida em uma transação de 100% para a Alpargatas. Eu continuo como executivo do grupo, assim como o Gilson, e a empresa continua atendendo ao mercado normalmente.

Esse olhar atento aos movimentos de mercado, às novas demandas, é essencial, certo?
Essa sensibilidade do empreendedor é importantíssima para analisar o mercado e decidir como e quando agir. Além disso, as pessoas tendem a falar do sucesso, mas pouca gente fala de outro lado, sobre as coisas que não deram certo. É relevante abordar isso. Nós tivemos muitas tentativas e erros até achar um padrão ideal. Eu brinco que a internet vende muito o sucesso da noite para o dia, mas há raríssimos casos assim. Atrapalha muito ter expectativas tão altas, de o negócio ser extremamente grande e promissor na largada. Existe uma caminhada: pode ter sucesso hoje, amanhã o jogo pode virar. Aí, tem que ter resiliência.

Com base nas suas experiências com os pequenos negócios, poderia citar quais eram as principais demandas desse segmento em relação à tecnologia?
Da época em que atuávamos com esse segmento para cá, penso que o cenário mudou muito. Além disso, acredito que o volume de novas tecnologias criadas tem facilitado o acesso dos pequenos empreendedores às várias soluções, porque há muito que pode ser feito a custos baixos. Plataforma de vendas, inteligência artificial, redes sociais e WhatsApp são exemplos. Ao mesmo tempo, com esse acesso mais facilitado, o pequeno negócio passa a competir não apenas no âmbito local, mas no nacional e até no global. Por exemplo, uma loja de bairro tem de que competir com a Shoppee, que está do outro lado do planeta. Ou seja, as novas tecnologias trazem benefícios, mas exigem um esforço muito maior. Aí, o foco é ter diferenciação da experiência: como um pequeno negócio, eu consigo entregar uma experiência muito diferente da de uma em- presa grande, que não tem a capacidade de trabalhar no detalhe, na individualização.

Que tendência tecnológica é mais relevante atualmente?
A inteligência artificial generativa é a número 1 e é muito disponível para um pequeno negócio. Há opções baratas, fáceis de usar. As ferramentas de comunicação, como chat e WhatsApp, permitem expandir a prospecção, que antes tinha de ser feita “na unha”. As automações agilizam esses processos.

Quais recomendações você faria a um pequeno empreendedor, tanto com dias quanto com pontos de atenção?
Uma dica que serve para todos os negócios, especialmente os pequenos: gerir bem o relacionamento com o cliente é mais barato do que trazer um cliente novo. Nos dias atuais, as pessoas estão extremamente conectadas e isso gera uma sensibilidade maior para a mudança em padrões de consumo. Há muitas marcas disponíveis. Por isso, quanto mais você cativa, fideliza o seu consumidor, mais protegido o seu negócio fica. Só que, para criar uma relação íntima e próxima com o cliente, que gere a fidelidade, o empreendedor tem que entregar uma experiência muito bacana, diferenciada.

Um ponto de alerta é a gestão de caixa. Este é um gap nos pequenos negócios, a má administração financeira. Tem de separar bem o que é da empresa e o que é da pessoa física. Parece clichê, mas as pessoas acabam confundindo. E ter essa disciplina é extremamente importante.

Outra dica: é preciso ter mentalidade de experimentação. Testar hipóteses sem ter dispêndio grande de dinheiro. Muita gente gasta uma fortuna, e depois o negócio dá errado, o business inteiro vai embora por causa de uma aposta. Pode testar no WhatsApp? Pode testar em alguma outra ferramenta que não vai gerar despesa ou investimento? Opa, então faz os testes ali, porque, se você errar barato, não tem problema. O problema é quando você erra caro.

Como avalia o trabalho de instituições como o Sebrae Minas, que têm disponibilizado cursos, treinamentos e outras atividades para capacitar os pequenos negócios?
O Sebrae Minas é uma arma poderosíssima que o empreendedor tem à sua disposição e, por incrível que pareça, muita gente não sabe como usar, não sabe o quanto está disponível. Particularmente, fiz uso. Eu sempre me qualifiquei, sempre estive envolvido em movimentos. Recomendo que os empreendedores acessem, desde mentorias até cursos, treinamentos, é um leque muito grande. Quem está começando, principalmente, precisa fazer uso disso para minimizar riscos, para aprender com o sucesso de outros.