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CELEIRO DE TECNOLOGIAS
Startups apoiadas pelo Sebrae Minas contribuem para a transformação de processos no agronegócio
Lucas Alvarenga
Em 1950, a população mundial atingiu a marca de 2,5 bilhões de habitantes. Àquela altura, os avanços da ciência e dos padrões de vida resultaram em uma explosão demográfica que fez com que, meio século depois, o número alcançasse 6 bilhões de pessoas – atualmente, são 8 bilhões. Nesse período, ao mesmo tempo em que os recursos naturais se tornaram mais escassos, o agronegócio encarou o desafio de produzir alimentos em escala, conciliando produtividade com responsabilidade ambiental, transparência e compromisso social. Mas a Inteligência Artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT) e a biotecnologia podem ser aliadas para transformar esse desafio em novas oportunidades para o futuro.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, empresas apoiadas pelo Sebrae Minas apostam na inovação para transformar o campo. Para isso, elas também contam com o apoio da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que abriga desde startups até organizações sem fins lucrativos dedicadas a ofertar soluções para o agro.
Desde 2015, a UFU se tornou parceira da Enactus, uma rede global de jovens empreendedores presente em 33 países. Em 2022, movida pelo sonho de promover a economia circular, a estudante de Administração Letícia Maciel e suas colegas de UFU levaram o tema de gestão de resíduos ao Encontro Nacional da Enactus Brasil.

Créditos: Matheus Garcia
Da ideia logo surgiu o projeto Fazendinha de Insetos, que propõe reduzir o alto custo da ração para pequenos piscicultores e avicultores e mitigar o descarte inadequado de resíduos sólidos. A iniciativa utiliza larvas da mosca soldado-negro (Hermetia illucens) para transformar lixo em uma fonte alternativa de proteína para peixes e aves. “Pensávamos apenas em aproveitar as excretas da larva da mosca para gerar energia limpa com um biodigestor até identificarmos uma solução de maior impacto”, explica Letícia, que gerencia o projeto.
O processo de transformação de resíduos em ração começa pela reciclagem. O lixo orgânico que seria descartado é utilizado para alimentar as larvas da mosca soldado-negro. Após absorverem os resíduos, as larvas são trituradas e dão origem a uma farinha rica em proteínas, utilizada como um componente de ração para aves e peixes. Os resíduos e excretas do inseto, por sua vez, são processados em um biodigestor para a produção de biofertilizante e biogás, oferecidos aos agricultores parceiros do Fazendinha.
Lançado há três anos, o projeto foi vencedor do Prêmio Alimentação em Foco 2023, promovido pela Fundação Cargill e pela Enactus Brasil. A premiação reconhece iniciativas que contribuem para a segurança alimentar e a sustentabilidade. Ao transformar 39 kg de resíduos orgânicos em insumo para a ração animal, o projeto também foi selecionado para a segunda fase do Prêmio Pacto Contra a Fome 2024. “Com o Fazendinha de Insetos, encontramos formas de devolver à terra aquilo que retiramos dela”, destaca Letícia.
Parceiro do projeto, o Sebrae Minas colocou as responsáveis pelo Fazendinha de Insetos na rota de importantes eventos, como a Femec – maior feira do agronegócio mineiro – e a Aquishow – referência para a piscicultura na América Latina. “Além do apoio técnico e gerencial do Sebrae, a visibilidade conquistada nesses eventos permitiu à equipe apresentar o projeto a um público maior, fazer contatos estratégicos e entender as necessidades do mercado”, diz a gerente.
Conexão de milhões

de produtos e automação industrial na cadeia do agro
Créditos: Matheus Garcia
Nos últimos anos, a conexão estabelecida pelo Sebrae entre startups de Uberlândia e o mercado do agro se converteu em negócios estratégicos. “Durante o Web Summit 2024, em Portugal, a Sapiens Agro vendeu soluções de inteligência de dados a produtores rurais europeus. No mesmo ano, a Aimirim aproveitou uma missão de negócios a Houston (EUA) para celebrar um contrato milionário com a multinacional americana de petróleo e gás ExxonMobil”, informa o analista do Sebrae Minas, Eduardo Ramos.
Se os eventos renderam contratos às empresas de base tecnológica da região, os programas de aceleração de startups, modelagem de negócios, mentorias e intercâmbios fortaleceram projetos em favor da sustentabilidade no campo. “O Sebrae Minas mantém parcerias com outros ambientes de inovação, como o Moon Hub, em Uberaba, para acelerar projetos de tecnologia conectados à cadeia produtiva do agronegócio. A região conta com mais de 50 startups do setor, que já fecharam vários negócios e elevaram o faturamento”, exemplifica Eduardo.
De acordo com um levantamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), até 2030, a aplicação da IA no campo pode aumentar a produtividade em 20% e reduzir perdas causadas por pragas e eventos climáticos. O potencial econômico por trás dessa revolução se reflete nas projeções globais de investimentos do gênero para o agronegócio. Segundo a empresa de inteligência de mercado Markets and Markets, os projetos de IA devem receber aportes de US$ 4,7 bilhões nos próximos três anos.
Sócio da Aimirim desde 2013, o engenheiro mecânico Renato Pacheco realizou um sonho de infância ao se tornar CEO de um negócio disruptivo. Fundada há 15 anos, por pesquisadores da UFU, a startup é especializada na digitalização do setor agrícola. “A Aimirim integra tecnologias avançadas para personalizar soluções de controle de processos, rastreabilidade de produtos e automação industrial na cadeia do agro”, detalha.
O primeiro escopo de produto da Aimirim surgiu em 2016, após a startup ser contemplada em um edital de inovação do Sebrae, em parceria com a Algar Agro. “Depois disso, nosso produto escalou para os mercados nacional e internacional”, conta Renato. Quatro anos mais tarde, a startup desenvolveu um bem-sucedido algoritmo de IA, responsável por aumentar a eficiência das caldeiras dos parques de bioenergia da Raízen, em Piracicaba (SP). Segundo a companhia, a inovação proporcionou uma economia operacional de R$ 1 milhão por safra.
Renato lembra-se com carinho do apoio do Sebrae em seus primeiros passos, quando a empresa era considerada early stage – o equivalente a iniciante. “Em 2014, participei do programa Promessas, desenvolvido pelo Sebrae em parceria com a Endeavor e a Rede Mineira de Inovação (RMI). A jornada de capacitação e mentoria do programa me preparou não só para o mercado, como possibilitou que aprimorasse minhas habilidades de relacionamento empresarial”, relata.
Uber do agronegócio
A larga experiência no ramo de máquinas agrícolas aproximou o engenheiro agrônomo Werther Ferreira e a Alluagro. Conhecida como a “Uber do agronegócio”, a startup de Uberlândia se notabilizou por conectar produtores rurais a prestadores de serviços por meio de um aplicativo. O serviço, acionado por geolocalização, facilita o aluguel de equipamentos como tratores, arados, pulverizadores, colheitadeiras e caminhões nas imediações. Para quem possui máquinas ociosas, a plataforma é a oportunidade de gerar renda extra com a locação do maquinário.

Créditos: Matheus Garcia
Em seu primeiro ano, ela já contava com mais de 600 máquinas cadastradas. Com a chegada de Werther no ano seguinte, a startup alavancou resultados. Não à toa, a Alluagro mantém, atualmente, 4 mil equipamentos inscritos e 300 fazendas parceiras. “Tínhamos um mercado de aluguel de máquinas agrícolas desorganizado e amador, com contratos informais e insegurança. A Alluagro surgiu como solução para profissionalizar a locação de equipamentos, oferecendo segurança e otimização de recursos”, salienta Werther.
Ainda de acordo com ele, a compra de equipamentos agrícolas pode representar até 45% do valor do investimento de um produtor. Com o serviço de locação, que inclui mão de obra qualificada, a despesa cai até cinco vezes. “A cada evento, feira e exposição de que a Alluagro participa, mostramos como a plataforma ajuda o produtor a construir uma agenda de trabalho mais eficiente e previsível. Para isso, desde a fundação da startup, contamos com o Sebrae para estabelecer networking e garantir mais visibilidade ao nosso negócio”.
A parceria de longa data com a entidade serviu de vitrine para a Alluagro em diferentes ocasiões. Em 2017, a startup participou da competição Like a Boss, promovida pelo Sebrae na Campus Party, na Bahia. No mesmo ano, a empresa representou o Triângulo Mineiro em uma imersão empreendedora: o programa Lemonade. Na sequência, marcou presença na CropUp, da Universidade de Portugal, e na Inovativa Brasil. “Os programas do Sebrae deram respaldo e segurança ao nosso negócio. Sem eles, não teríamos chegado aonde chegamos”, finaliza Werther.
Agronegócio inteligente
Impulsionar a operação, tração e escala de micro e pequenos negócios no campo: na coleção “Inteligência no Agronegócio”, elaborada pelo Polo Sebrae Agro, o empreendedor encontra conteúdos estratégicos para aproveitar as vantagens das tecnologias emergentes no setor agrícola. Os materiais oferecem orientações valiosas para se produzir com sustentabilidade e transformar resultados com eficiência nas operações.
Acesse e prepare-se! Confira o conteúdo disponível no Sebrae Play.