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Programa Sebrae Exporta movimentou polo calçadista no Centro-Oeste de Minas


JOSIE MENEZES

Quando ouvem falar sobre Nova Serrana, os mineiros logo pensam: fábrica de sapatos. De fato, a cidade se destaca pela atividade no estado e no Brasil, tanto que foi intitulado “polo que calça o país”. Apesar de toda a expressividade, os negócios locais passaram por um período complexo recentemente, em função do grande volume de calçados fabricados no exterior e que entravam no mercado nacional sem pagar impostos. Assim, as 1.200 empresas da região se viram ameaçadas pelo e-commerce e buscaram o apoio do Sebrae Minas para investir em novas ações comerciais.

Uma das iniciativas bem-sucedidas nessa parceria foi a Rodada de Negócios do Programa Sebrae Exporta, que promoveu a aproximação comercial entre 45 empreendedores locais e dez compradores internacionais, em junho. O resultado foi surpreendente: em quatro dias, foi confirmado o montante total de mais de US$ 1,1 milhão – o equivalente a R$ 6,2 milhões – em vendas para Chile, Colômbia, Peru e Panamá.

Além da cifra, há a expectativa de continuidade do negócio pelo período de mais um ano. Para os próximos 12 meses, as vendas devem alcançar mais US$ 4 milhões, ou seja, outros R$ 22 milhões serão comercializados com esses países.

OFERTA E DEMANDA

Ronaldo Lacerda atua na indústria de calçados há 26 anos
Crédito: Pedro Vilela

A primeira rodada internacional de negócios foi realizada no Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova). As empresas tiveram a oportunidade de expor os produtos fabricados em estandes individuais. Ao todo, foram realizadas 195 e cada fabricante teve 30 minutos para negociar com os estrangeiros.

Vale lembrar que mais de 90% das indústrias calçadistas de Nova Serrana são de pequeno porte, sendo a análise do perfil de cada uma – avaliando capacidade produtiva, por exemplo – uma etapa essencial para a efetividade da rodada de negócios. Os compradores internacionais passaram pelo mesmo estudo. “Não adianta trazermos um comprador que vai adquirir muito volume se a pequena empresa não tiver condições de entregar. E o contrário, idem”, explica Jefferson Dias Santos, analista do Sebrae Minas.

Poliana Souza, também analista do Sebrae Minas, atribui o sucesso do projeto- -piloto ao alinhamento das necessidades de compradores e ofertantes. “A primeira edição nos surpreendeu positivamente. Não tínhamos expectativas que já nessa primeira rodada tivéssemos a geração de negócios efetivos. Era um momento para eles se conhecerem, iniciarem uma relação de fornecedor e cliente e, posteriormente, efetivassem negócios”, conta.

CONTATOS DE QUALIDADE

O empresário Ronaldo Lacerda se dedica à produção de calçados esportivos na Lynd há 26 anos. Ele sempre participa das rodadas nacionais do Sebrae Minas e, agora, também das internacionais. “São oportunidades de um relacionamento muito rico porque a gente faz um contato de qualidade, direto com o comprador. Quando o cliente do exterior vem, temos de estar preparados para negociar. Todos são empresários e se eles saem de seu país para vir aqui, não vão desperdiçar o tempo”, avalia.

Rodrigo Amaral Martins conta que fez questão de ele mesmo atender aos clientes estrangeiros e apresentar os diferenciais dos calçados femininos de couro da empresa dele, a Marina Mello. Para o empresário, uma vantagem da iniciativa foi o sistema de tradução, que proporcionou muita segurança na negociação, tanto para os clientes quanto para as fábricas. “O evento foi um sucesso, desde a organização, ao matchmaking, à recepção impressionante dos clientes pelo Sebrae”, afirma.

Rodrigo Amaral, da Marina Mello, elogiou a estrutura disponibilizada para a rodada de negócios
Crédito: Pedro Vilela

Os resultados demonstram os impactos positivos que a internacionalização pode ter para os pequenos negócios. “O Sebrae Minas atua na facilitação de conexões comerciais, mas também no desenvolvimento contínuo das empresas, para que possam se destacar no mercado internacional. A experiência e os novos conhecimentos adquiridos nessas ações transformam o modo como esses empreendedores operam e crescem, refletindo na expansão e diversificação de suas atividades”, destaca Jefferson Santos.

Segundo o analista, com a continuidade do trabalho e a implementação de novas estratégias, “o futuro é promissor para as empresas de Nova Serrana e para outras regiões mineiras, como Juruaia, que buscam expandir suas fronteiras comerciais e aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado internacional”.

MISSÕES INTERNACIONAIS PARA NOVOS APRENDIZADOS

Além do Sebrae Exporta, há outras estratégias do Sebrae Minas para apoiar a internacionalização dos pequenos negócios. As missões internacionais estão entre elas. As iniciativas possibilitam aos empreendedores expandir os horizontes: podem conferir, in loco, as tecnologias e inovações exploradas no mercado em outros países, avaliando erros e acertos e como esse aprendizado pode ser aplicado a cada contexto.
Em 2024, foram realizadas várias missões com negócios mineiros de setores como moda e queijo Canastra, no Centro-Oeste; mel de aroeira e beleza, do Norte; leite, no Sul; educação, gastronomia e startups, de diversas regiões. Um destaque foi a visita técnica realizada em maio na Alemanha e na Suíça, envolvendo produtores ligados à Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi), de Bocaiuva. Eles conheceram as boas práticas adotadas por produtores de mel na Europa e entenderam a importância da profissionalização do trabalho para garantir a qualidade, desde a colheita até o envasamento.

Mel de aroeira tem grande potencial no mercado europeu
Crédito: Pedro Vilela

“Entendemos que o mercado para o nosso mel de aroeira existe, cabe a nós nos prepararmos para atender a todas as normas. Temos de treinar nossos produtores a respeito de boas práticas, sobre a importância da certificação orgânica e rastreabilidade”, afirma o apicultor Júlio Cesar Pereira.

O analista do Sebrae Minas Walmath Magalhães explica que a escolha pela região de Bocaiuva para a missão deu-se pelo potencial do mel de aroeira. Antes, houve um trabalho de preparação, durante um ano, para entender quais mercados seriam interessantes para o ingresso do produto, envolvendo apicultores, diretoria da cooperativa e consultoria especializada. Para ele, a missão internacional evidenciou que os hábitos de consumo da comunidade europeia – que se preocupa com alimentos naturais e sustentáveis, produzidos sob condições verdes, sem utilização de agrotóxicos – estão vinculados ao propósito de trabalho da Coopemapi. “A Cooperativa tem um produto de alto valor agregado, com todas as licenças e certificações necessárias para atravessar o Atlântico e entrar no mercado europeu”, comemora.