
Internacionalização
Holofote Internacional
Quinze startups mineiras apresentam o potencial de Minas Gerais em Portugal e na Espanha
Josie Menezes
Minas Gerais já é reconhecida como um polo de inovação e tecnologia, com diversos ecossistemas em atividade. Mas esse potencial pode ser ampliado, e há todas as condições para isso. Exatamente para elevar a percepção internacional do estado como um destino atrativo para investimentos tecnológicos e inovadores é que foi realizado o Programa de Aceleração & Internacionalização, promovido pelo Sebrae Minas em parceria com o Governo do Estado em 2024. A iniciativa teve grande participação, resultando na presença de 15 startups mineiras em uma missão internacional em Portugal e na Espanha.
Matchmaking remete ao pareamento de elementos similares; já benchmarking objetiva identificar oportunidades de melhoria e adotar as melhores práticas.
A seleção para o programa foi feita por meio de chamada pública, na qual 147 startups se inscreveram. Dessas, 25 participaram da primeira fase, culminando nas 15 finalistas. “Nosso intuito foi o de aprimorar a capacidade dessas startups mineiras para o acesso aos mercados internacionais, aumentando sua competitividade”, ressalta a analista do Sebrae Minas Carla Batista. Para tanto, a missão internacional propiciou encontros de matchmaking e benchmarking, oportunidades de somar a força dessas empresas e conectá-las aos investidores, gerando parcerias, negócios e evolução dos serviços.
Softlanding refere-se a programas de imersão para empresas que desejam entrar ou expandir suas operações em novos mercados.
Antes da viagem, as empresas passaram por um longo processo de capacitação junto ao Sebrae Minas. Foram realizadas mentorias para a construção de planos de internacionalização e treinamentos em pitch (“apresentação rápida”, traduzido do inglês). A instituição também organizou as agendas de matchmaking com potenciais clientes e viabilizou reuniões com instituições locais de softlanding e parceiros estratégicos, como investidores e câmeras de comércio dos países presentes.
Complementando os encontros de negócios realizados nos dois países, as startups mineiras puderam participar do Web Summit Lisboa, a maior conferência de tecnologia da Europa. Lá, elas apresentaram suas soluções para mais de mil investidores, de 170 países.


Crédito: Pedro Vilela
Intensa preparação
Os CEOS das empresas contaram com a assessoria do Sebrae Minas para potencializar a agenda de negócios e tirar dúvidas relativas à precificação e aos modelos de internacionalização. Uma curadoria das principais tendências apresentadas no Web Summit também foi disponibilizada, para facilitar a absorção dos conteúdos.
Entre as selecionadas para a missão estava a Sapiens Agro, startup de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Há cinco anos, a empresa faz análise do mercado de agronegócio via modelos matemáticos que permitem prever movimentos de preços. Para a participação na missão europeia, o CEO Maurício Lemos destaca que cada etapa de preparação foi desenhada passo a passo. “Foram inúmeras reuniões semanais via Sebrae Minas, nos permitindo estruturar a estratégia de internacionalização da Sapiens para participar da missão com segurança”, diz. Maurício voltou da viagem com cinco contratos fechados na Europa, tendo uma empresa multinacional entre os novos clientes. Outro dado positivo foi a ampliação da rede de contatos. “Fizemos mais de 170 atendimentos e trouxemos 25 leads bem qualificados”, acrescenta o CEO.
O bom resultado é atribuído ao preparo prévio viabilizado pelo Sebrae Minas. Segundo Maurício, a instituição ajudou a Sapiens a conhecer a organização do evento, aprender sobre como se comportar nas negociações e saber que tipo de pessoa contatar. “Tínhamos somente uma ideia na cabeça, e o programa descortinou tudo. A cada semana íamos ampliando a visão e nos estruturando, até que materializamos a internacionalização”, recorda.

Crédito: Pedro Vilela
Impactos
Ao se inscrever para participar da missão do Sebrae Minas, a Wonder DataLabs mirava os Estados Unidos, mas acabou descobrindo um caminho no mercado europeu. Atuando com análise de dados para o setor de petróleo e gás, a startup de Itajubá conseguiu migrar de uma simples ideia para um produto viável e lucrativo em menos de dois anos.
Para o CEO Diego Mercadal, o valor da missão superou muito os leads comerciais: “O trabalho gerou parcerias que já estão abrindo os caminhos para a DataLabs na Europa, graças aos contatos mantidos com a consultoria internacional PwC, a empresa norueguesa NORTECH.AI e a Unicorn Factory, uma das maiores aceleradoras de startups europeias”.
Alfredo Vespa, cofundador da Wonder DataLabs, afirma que a preparação ofertada pelo Sebrae Minas foi essencial. “Somos engenheiros, ou seja, temos um olhar muito técnico. Por isso, precisávamos das táticas aplicadas pelo Sebrae para nos posicionarmos de forma estratégica no evento”, diz. Ele relata que houve vários meses de reuniões semanais junto a outras empresas no Brasil. “Nós gostávamos muito do conceito de Roundtable que o Sebrae nos trouxe, colocando várias startups reunidas, na qual debatíamos sobre uma situação comum para todas. Depois, em Madrid, nos reunimos novamente para ajustar o pitch para os encontros que aconteceriam. Foi tudo muito profissional, colaborativo e assertivo”, recorda.

Crédito: Arquivo pessoal
Quer participar da jornada de internacionalização?
Procure o Sebrae Minas por meio deste link.
Parceria bem-sucedida
“No Sebrae Minas, entendemos que cada mercado traz desafios únicos e oportunidades imensuráveis. Nosso compromisso é fornecer as ferramentas, o conhecimento e a rede de contatos necessários para que os pequenos negócios possam se posicionar de forma competitiva e sustentável no cenário internacional. Esse trabalho é resultado de uma visão compartilhada: construir um ecossistema que transcenda fronteiras, promovendo o crescimento econômico, a inovação e a colaboração.”
Marcelo de Souza e Silva, Presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas
“Minas Gerais ter um estande no Web Summit, o maior evento de tecnologia e inovação do mundo, por meio da parceria com o Sebrae Minas, foi estratégico. Conseguimos conversar com diversas empresas, instituições e governos sobre as oportunidades do nosso estado em tecnologia e deixamos claro que Minas é o melhor lugar para inovar.”
Bruno Araújo Oliveira, Secretário-executivo de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais
“A parceria entre o Sebrae Minas e a Invest Minas na missão ao Web Summit foi um marco na promoção de Minas Gerais como um destino estratégico para inovação e negócios. O estande atraiu a atenção de centenas de participantes, que tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre as vantagens competitivas do estado, como a forte rede de inovação, os incentivos fiscais e a infraestrutura estratégica.”
Gustavo Garcia, Diretor de Gestão e Novos Negócios na Invest Minas

Crédito: Arquivo pessoal
Mercado internacional acessível a pequenas empresas
Foi-se o tempo em que o mercado internacional era uma alternativa acessível somente a grandes empresas. Com as tecnologias e ferramentas atuais, um pequeno negócio no Brasil pode, sim, levar seu produto ou serviço a várias partes do mundo – e vice-versa. O Sebrae Minas promove missões internacionais justamente para desmitificar a internacionalização entre os pequenos negócios mineiros, de vários setores produtivos.
Em 2024, 26 missões foram realizadas e 208 empreendedores puderam ampliar sua visão sobre o mercado externo. Participaram negócios dos setores de moda e queijo Canastra, no Centro-Oeste; mel de aroeira e beleza, no Norte; leite, no Sul; e educação, gastronomia e startups, em diversas regiões do estado. “Ir a uma missão internacional é como prever o futuro, pois o empresário consegue antever o que virá para o Brasil nos próximos anos. Assim, ele se antecipa e implementa boas práticas previamente, a partir do aprendizado obtido”, explica o analista do Sebrae Minas Jefferson Dias Santos.
A empresária Kescia Silvia Dourado Madureira foi uma das selecionadas pelo programa Prepara Gastronomia para participar da missão empresarial do Sebrae Minas, que visitou Lima e Arequipa, no Peru. E voltou com uma ideia para implementar na Pousada e Restaurante Recanto das Pedras, localizada em Januária, no Norte de Minas. “Lá, todos os negócios ofereciam um coquetel típico aos visitantes, o Pisco Sour. Ao retornar, eu peguei a minha cachaça e elaborei um drink, o Pêsco Peruaçu, que passei a oferecer aos meus clientes”, conta.
Para ela, a missão possibilitou compreender que a gastronomia é um ponto forte para desenvolver qualquer ponto turístico. “Foram dez dias visitando vários estabelecimentos em Lima e Arequipa, entendendo a gastronomia local. É perceptível que quem viaja está em busca de comer e ter experiências”, avalia. Agora, a empresária planeja melhorar o espaço do seu negócio e valorizar o diferencial da culinária “do interior”. “Quero propor a experiência de estar num lugar lindo, no meio do mato, numa pousada que te oferece a comidinha mineira, com tempero da roça e com gosto de comida de mãe e de vó.”
Outro participante da missão ao Peru foi Fernando Abdallah, proprietário da Fornace Pizzaria, em Uberaba. A experiência de visitar locais renomados, como o restaurante da escola francesa Le Cordon Bleu, a escola de gastronomia do Centro de Fomento ao Turismo no Peru e o restaurante do chef Palmiro Ocampo Grey, mostrou ao empresário o quanto o êxito de uma cidade turística está relacionado à gastronomia. “Foi uma experiência completa. Pudemos conhecer a cultura e a história, interagir com os proprietários, entender parte técnica e teórica, para, depois, visitar vários estabelecimentos, degustar e experimentar na prática”, relata.
Abdallah destaca, sobretudo, a possibilidade de mesclar o requinte de locais de renome com a tradição local. “Conhecemos chefs famosos na maior escola de gastronomia do mundo, em Lima, que atende a 1.200 estudantes, ao mesmo tempo em que estivemos nas picanterias de Arequipa, com as ‘cozinheiras raiz’, que plantam seus próprios alimentos e mantêm técnicas tradicionais muito antigas”, lembra.
Hoje, o empresário diz estar muito mais aberto a inovações. A ideia é seguir valorizando a cultura regional por meio de releituras, sem deixar de lado as tradições e as raízes.