Histórias de Sucesso

Premiação

Elas movem a economia

Prêmio Sebrae Mulher de Negócios homenageia empreendedoras que transformam vidas e territórios


Thaís Nascimento

A força do empreendedorismo feminino não é apenas um dado em ascensão: ela tem transformado a história de milhares de mulheres em Minas Gerais. De acordo com levantamento do Sebrae Minas, baseado em informações da Receita Federal, dos 2,1 milhões de pequenos negócios ativos no estado, 40,9% são liderados por mulheres.

Os números revelam trajetórias marcadas por coragem e determinação. A Pesquisa Mulheres Empreendedoras 2025 mostra que oito em cada dez mineiras têm no negócio próprio sua principal fonte de renda. Metade fatura acima de R$ 5 mil mensais, três em cada dez geram empregos e 41% já empreendem há pelo menos três anos.

Para reconhecer esses exemplos, desde 2004 o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios homenageia empreendedoras que se destacam pela inovação, visão de futuro e impacto social. “As mulheres trazem uma perspectiva estratégica e sensível para as necessidades sociais. À frente de negócios, elas não apenas movimentam a economia, mas fortalecem comunidades e constroem um desenvolvimento mais sustentável”, afirma Priscilla Leite, assistente do Sebrae Minas.

Visibilidade feminina

O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios é uma iniciativa nacional que reconhece empreendedoras brasileiras em cinco categorias: Pequenos Negócios, Produtora Rural, Microempreendedora Individual (MEI), Ciência e Tecnologia e Negócios Internacionais. Está integrado ao Sebrae Delas, que incentiva e valoriza a carreira de mulheres empreendedoras. “Em Minas Gerais, o protagonismo das mulheres no empreendedorismo tem se fortalecido de maneira significativa. O aumento expressivo do número de inscritas evidencia iniciativas inovadoras, criativas e inclusivas, com grande capacidade de impulsionar a economia e gerar impacto positivo em toda a sociedade”, destaca a analista do Sebrae Minas Arielle Alexandria, gestora estadual do Delas.

Cerimônia premiou as empreendedoras mineiras em agosto
Créditos: Amanda Ketly

A jornada das candidatas começa com a inscrição on-line e passa pela etapa estadual do prêmio, em que juradas avaliam gestão, inovação e impacto social. Até cinco empreendedoras por categoria são destacadas, mas apenas uma segue para as fases regional e, depois, nacional. Na grande final, uma comissão técnica define as premiadas em todo o país. Além de troféu, certificado e visibilidade, as vencedoras nacionais recebem prêmios em dinheiro: R$ 30 mil (ouro), R$ 20 mil (prata) e R$ 10 mil (bronze), além de capacitação no seminário Empretec, inteiramente custeada pelo Sebrae.

Em 2025, o prêmio alcançou um marco: 5.308 inscritas no Brasil, um crescimento de 101% em relação ao ano anterior. A final nacional será realizada em 30 de outubro, em Florianópolis (SC), durante o Delas Summit 2025. Minas Gerais se destacou ficando entre os cinco estados com o maior número de inscrições: 365 empreendedoras. A etapa estadual foi realizada em 29 de agosto, na sede do Sebrae Minas, em Belo Horizonte, reunindo 21 concorrentes. Ao final, cinco mulheres de trajetórias inspiradoras foram reconhecidas. A Revista Histórias de Sucesso apresenta cada uma delas.

1º lugar – Categoria Microeempreendedora Individual (MEI)

Cintia cria roupas, bolsas e itens decorativos estampados em braile
Créditos: Juliana Flister

Cintia Caroline, criadora da Costuras do Imaginário, foi a vencedora na categoria Microempreendedora Individual (MEI). Seu empreendimento une moda e acessibilidade para pessoas com deficiência visual, por meio de roupas, bolsas e itens decorativos estampados em braile e com QR Codes.

Filha de uma família de empreendedores do ramo de confecção, Cintia transformou uma inquietação em negócio: como pessoas com deficiência visual escolhiam suas roupas? Desde 2009, ela fazia testes de estampas em braile e, em 2016, após deixar o emprego em uma agência de publicidade, fundou a empresa.

Hoje, a Costuras do Imaginário vende on-line para todo o Brasil, já forneceu em larga escala para empresas como TV Globo e Itaú e mantém uma loja física em Belo Horizonte, totalmente adaptada a pessoas com mobilidade reduzida, por possuir rampas, corrimões, banheiros acessíveis e araras de diferentes tamanhos. “Não é caridade, é direito. Pessoas com deficiência

precisam ter autonomia para escolher o que vestir, consumir e viver”, defende a proprietária da marca.

Para Cintia, o prêmio é importante para fortalecer o empreendedorismo feminino e fomentar um mundo mais equânime para todas as mulheres. “Partimos de um lugar diferente dos homens, e muitas de nós são mulheres pretas e com deficiência. Precisamos alcançar um lugar mais justo no mundo, mas, para isso, precisamos de apoio, como a premiação que o Sebrae concede”, reforça.

1º lugar – Categoria Pequenos Negócios

Negócio de Amanda Carvalho promove melhorias habitacionais para famílias de baixa renda
Créditos: Arquivo pessoal

A arquiteta Amanda Carvalho, fundadora da Arquitetas Nômades, venceu na categoria Pequenos Negócios. O empreendimento promove melhorias habitacionais para famílias de baixa renda.

Inspirada pelo avô, que exerceu a função de pedreiro, Amanda cursou Arquitetura e Urbanismo. Após visitar empresas do Vale do Silício (EUA), em 2016, decidiu criar soluções de impacto social e fundou o Arquitetas Nômades.

Sediada em São João del-Rei, a empresa já atuou em diversas cidades mineiras, por meio de modelos de financiamento direto com o cliente final e parcerias institucionais. “Esse prêmio chancela minha trajetória. Ele marca essa transformação da Amanda recém-formada nesta que seguiu como arquiteta e hoje é empresária”, comemora.

1º lugar – Categoria Ciência e Tecnologia

Heloise Duarte criou uma plataforma gratuita que ajuda pequenos produtores a calcular emissões de gases de efeito estufa
Créditos: Amanda Ketly

Na categoria Ciência e Tecnologia, a vencedora foi Heloise Duarte, CEO da ESGPec, startup que desenvolve soluções digitais voltadas para a sustentabilidade no campo.

Veterinária de formação, em 2022 ela decidiu criar a ESGPec com três sócios. Entre os produtos ofertados, está o Despertar Regenerativo, plataforma gratuita que ajuda pequenos produtores a calcular emissões de gases de efeito estufa. “O campo ainda conhece pouco sobre sustentabilidade. Nossa missão é aproximar a temática ESG da realidade do produtor rural”, diz.

Para Heloise, a conquista tem peso especial diante do machismo e do etarismo: “A mulher madura precisa se provar o tempo todo. O prêmio gera uma onda positiva para mim, para a empresa e para as meninas que estão começando agora”.

1º lugar – Categoria Negócios Internacionais

Camilla Sol exporta difusores, velas aromáticas e cosméticos veganos e sustentáveis
Créditos: Arquivo pessoal

Camilla Sol, fundadora da Sol Saboaria, venceu a categoria Negócios Internacionais. Sua empresa produz difusores, velas aromáticas e cosméticos veganos e sustentáveis, já exportados para países como Portugal, Angola e Cabo Verde. Desde criança, Camilla é apaixonada por aromas. “Sempre gostei de perfume, de me lembrar das pessoas pelo aroma delas”, afirma. Em 2020, ela começou a criar produtos em casa e, em pouco tempo, transformou o hobby em negócio.

Hoje, vende exclusivamente on-line para estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, além do exterior, tem mais de 60 fornecedores parceiros e expandiu a atuação para brindes corporativos. Desde 2023, participa de jornadas internacionais – Camilla já esteve na Colômbia

e no Peru. Este ano, o negócio se tornou microempresa (ME).

Ganhar o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios é sinônimo de superação e uma lembrança às mulheres pretas no empreendedorismo. “Essa premiação simboliza a superação de desafios. Em menos de cinco anos, minha empresa conquistou reconhecimento estadual. É um incentivo

para outras mulheres pretas mostrarem que também podem alcançar seus sonhos”, afirma.

1º lugar – Categoria Produtora Rural

Paula Urtado alia a produção de café ao turismo rural
Créditos: Pedro Vilela

Na categoria Produtora Rural, a premiada foi Paula Urtado, gestora da Fazenda Três Meninas, em Monte Carmelo. Produtora de café no Cerrado Mineiro, Paula alia sustentabilidade, impacto social e exportação para a Europa e a Austrália.

Engajada desde a faculdade em projetos de empreendedorismo, ela fundou a fazenda em 2016, ao lado do marido. O nome da propriedade homenageia três mulheres da família: ela própria e suas duas filhas. Além do cultivo, investe em turismo rural pela Rota do Café do Cerrado Mineiro.

Entre as ações de impacto, a fazenda fornece água para Iraí de Minas, município vizinho que abriga 6.500 habitantes. Atenta às mudanças climáticas, Paula aposta em práticas sustentáveis para garantir o futuro do café. “Não precisa de muita sensibilidade para entender que o momento exige mudanças. Quando olhamos o negócio em médio e longo prazos vemos o que vem acontecendo em termos de desafios climáticos e pragas nas lavouras, percebemos que é preciso tomar algumas atitudes.”

Além de vencer a etapa estadual, Paula conquistou o prêmio regional. “Se pude chegar até aqui, muitas outras podem. É inspirador mostrar às minhas filhas que todas podem sonhar grande e realizar”, conclui.