Programa ELI
Ambientes propícios à inovação
Iniciativa fortalece ecossistemas de inovação no estado com iniciativas que vão desde a educação empreendedora até o fomento às startups
Josie Menezes
Com o trabalho em prol do desenvolvimento de Ecossistemas Locais de Inovação (ELIs), o Sebrae Minas busca criar um ambiente favorável para o surgimento e o crescimento de empresas inovadoras. Iniciado em 2020, o trabalho vem estimulando a troca de conhecimentos e a colaboração entre diversas entidades que contribuem para implantar um cenário crescente de inovação em Minas Gerais. E os bons resultados evidenciam o sucesso da iniciativa, com destaque para os ELIs de Uberlândia e Divinópolis.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, mais de R$ 150 milhões foram obtidos por startups locais em aportes financeiros, somente nos dois primeiros meses de 2025. Já em Divinópolis, o destaque é a educação empreendedora em 100% das salas de aula da rede municipal de ensino. Em apenas três anos do programa ELI, 15 mil alunos foram impactados.
Para alcançar resultados tão bem-sucedidos, o primeiro passo foi um trabalho colaborativo de mapeamento envolvendo a tríplice hélice dos territórios (universidades, empresas e governo). É o que explica a analista do Sebrae Minas Luisa Vidigal. Segundo ela, uma recente pesquisa realizada com os ecossistemas mostrou evolução na estrutura e amadurecimento das governanças com efetiva participação de representantes do poder público, empresários, instituições de ensino e ambientes de inovação. Além disso, nos últimos anos, o Governo de Minas e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) têm investido significativamente em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento da inovação e tecnologia no estado. “Essa iniciativa tem gerado impactos diretos nos ecossistemas de inovação e fortalecido o protagonismo das empresas mineiras”, comemora.
Luisa Vidigal explica que, para manter o movimento do ELI vivo e com os atores engajados, o Sebrae Minas disponibiliza aos territórios Agentes Locais de Inovação (ALI), que atuam na ativação e dinamização dos ecossistemas, contribuindo para o fortalecimento de governanças locais e das estratégias de desenvolvimento territorial. Embora a expectativa de impactos dessa abordagem seja em longo prazo, os resultados estão aparecendo rapidamente. Atualmente, são 11 ALIs ativos, que atuam em 12 ELIs de Minas Gerais. Uberlândia, por exemplo, reúne 500 empresas de tecnologia, o que a torna uma referência em inovação no país. As startups locais atraem a atenção de grandes investidores, como o do Banco Itaú, que em menos de 48 horas fez um aporte na NeoSpace (US$ 18 milhões), especializada em modelos de IA para o setor financeiro, e também se tornou sócio da fintech Kanastra, voltada a backoffice digital para fundos estruturados.
O analista do Sebrae Minas Eduardo Luiz Ramos relembra que o programa ELI em Uberlândia começou em meados de 2022, com o objetivo de organizar as demandas do ecossistema. Para ele, o engajamento dos atores envolvidos foi o que possibilitou a implantação ágil de rodadas de investimentos, programas de aceleração de startups e grandes eventos. “No ELI Summit, realizado em parceria com o Uberhub, em julho deste ano, os nossos ecossistemas tiveram oportunidades de conexão com multinacionais como a Nvidia e a Oracle, além de conhecerem cases mundiais, como o de Medellín, apresentado pelo colombiano Santiago Uribe, consultor em inovação urbana e transformação territorial”, ressalta Eduardo.
Uberlândia é agro
De acordo com relatório da startup Blink 2023, o Brasil está a caminho de se tornar um dos três principais mercados globais de startups do agronegócio e Uberlândia está entre as cidades-referência em inovações para o setor. A Nagro, fundada por dois produtores rurais locais, é parte desse ecossistema.
Crédito: Matheus Garcia
Com o propósito de transformar o acesso ao crédito no agronegócio brasileiro, a empresa já analisou mais de R$ 10 bilhões em propostas de crédito e concedeu diretamente cerca de R$ 600 milhões em operações. “Nós identificamos a dificuldade enfrentada por pequenos e médios produtores para acessar linhas de financiamento, em razão do alto custo operacional dos bancos tradicionais. Hoje, nos consolidamos como referência em inovação financeira para o agronegócio”, comemora o fundador da Nagro, Gustavo Alves.
Crédito: Arquivo pessoal
Um dos participantes do ELI Summit, ele afirma que o evento possibilitou à Nagro demonstrar que a inovação no agronegócio traz impacto real e comprovado na vida dos produtores. “Inovar não significa apenas desenvolver tecnologia, mas, sobretudo, construir pontes. Pontes entre produtores e crédito, entre startups e investidores, entre ecossistemas locais e mercados globais”, ressalta.
Outro ganho dos ELIs é o intercâmbio de experiências e compartilhamento de aprendizado entre as startups. O empresário Octávio Guerra Braga, fundador da Inngage, teve essa vivência ao participar, em 2024, da missão internacional do Sebrae para Madri e Lisboa. “A missão nos trouxe uma mudança de mindset”, afirma o CEO dessa startup, que se consolidou como plataforma de engajamento e retenção para empresas como Crefisa, Muffato, Fogás e Bodytech.
Octávio relembra que tudo começou antes mesmo de fundarem a Inngage, em 2016. “Enquanto ainda estávamos formatando a ideia de nossa startup, o Sebrae já trazia empreendedores de sucesso para a cidade. Desde essa época aproveitávamos a oportunidade de aprender sobre startups em modo de escala e de tração”, recorda o CEO.
Trilha completa em Divinópolis
O percurso da educação empreendedora em Divinópolis começa nas salas de aula do Ensino Fundamental e segue no Ensino Médio, com o programa Inovem. Na sequência, a inovação passa a ser trabalhada no Acelera Divinópolis, que possibilita a esses mesmos alunos desenvolver as ideias na prática. Este ano, 15 startups estão no programa de pré-aceleração e, em novembro, elas terão oportunidade de atrair investidores apresentando as ideias aceleradas no Divinópolis Summit.
O analista do Sebrae Minas Denis Magela da Silva explica que a lógica da inovação começa na base e vai sendo trabalhada de forma escalonada até os alunos chegarem ao ápice de montarem a própria startup. “Conseguimos propor essa trilha em Divinópolis graças a uma governança muito bem consolidada e estabelecida entre poder público e privado”, diz. Ele ressalta que a curva de crescimento está acentuada no município, visto que o ecossistema de inovação de Divinópolis saiu do zero e conquistou, em pouco tempo, uma posição de referência. Outro ponto destacado por Denis é o trabalho realizado com os professores. “Dentro do Empretec Startup, que trabalha comportamento empreendedor, uma das nossas diretrizes foi envolver os professores orientadores. Assim, eles passaram a despertar alunos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado para que objetos de pesquisa também virassem ideias de negócios”, explica.
O CEO da 4artz, Tiago Mesquista, é um exemplo de quem soube aproveitar a trilha completa. Com 15 anos, ele já era aluno da Escola do Sebrae. Dezoito anos depois, estava no Divinópolis Summit 2024 com seu sócio Elder Freitas recebendo aporte financeiro de R$ 100 mil. “Éramos duas pessoas com uma ideia sólida, mas muitas dúvidas e incertezas. A entrada do investidor João Kepler trouxe mais do que capital: trouxe visão, conexões e confiança no que estamos construindo na 4artz”, celebra Tiago. Com clientes em todo o Brasil, a 4artz é uma startup que centraliza em uma única plataforma tudo que artistas, bandas, produtores e agências precisam: agenda de eventos, propostas, contratos digitais, controle financeiro, tarefas, equipe e arquivos. Com o aporte recebido, os sócios conseguiram avançar na estruturação do time, em melhorias técnicas na plataforma, ações de growth, criação de novos produtos e evolução do posicionamento da marca.
Crédito: Dante Bragança
Outra empresa de Divinópolis que está despontando no cenário nacional é a startup Orangiuz, fundada em 2018. Este ano, entre mais de mil empresas, ela foi classificada como uma das Top 100 startups do Startup Summit 2025, em Florianópolis. O CEO Rafael Cabral Pinto relembra os percalços iniciais, visto que as empresas tinham preconceito com o modelo de contabilidade digital. O que impulsionou o negócio, segundo ele, foi a chegada da pandemia, forçando empreendedores a resolverem a contabilidade de forma remota. “Hoje, atendemos mais de 600 empresas em todo o Brasil. Já evoluímos de uma contabilidade digital para uma plataforma financeira completa, com módulos de contas a pagar, a receber, emissão de notas fiscais e dash-boards de DRE interativos”, explica Rafael. Ele ressalta que as ações do Sebrae Minas têm ajudado a Orangiuz a estruturar melhor o crescimento e a revisar precificação e métricas. Rafael também valoriza o networking com mentores, investidores e as outras startups que estão sendo aceleradas com eles. “Aguardamos a oportunidade de captar investidores no Divinópolis Summit. Para uma startup nascida no interior, é a chance de ganhar visibilidade nacional e mostrar que inovação também nasce fora dos grandes centros”, planeja.
Crédito: Dante Bragança
Inovação na saúde
Crédito: Matheus Garcia
O cenário das startups na área da saúde também está a pleno vapor em Uberlândia, graças a uma parceria entre Sebrae Minas, Unimed Uberlândia, Prefeitura, Uberhub e Zebu Valley. Um programa-piloto foi lançado em abril deste ano, com o objetivo de promover a aceleração de 12 startups e empresas que oferecem soluções para as áreas médicas, hospitalares, bem-estar, clínicas e laboratórios. Para complementar a ação, 20 investidores foram capacitados para promover a conexão entre inovação e mercado.
As startups estão participando de mentorias específicas para acelerar suas ideias de negócios, e três delas foram selecionadas para gerar provas de conceito de suas soluções para hospitais, clínicas e laboratórios. A Reabnet está na segunda fase da aceleração. “Estamos recebendo acompanhamento completo do Sebrae, desde a oficina para pesquisadores, em parceria com a Unimed, até as ações de networking para o crescimento da nossa startup”, diz a empreendedora Isabela Marques. A plataforma da Reabnet utiliza gamificação em realidade virtual, inteligência artificial e visão computacional, eliminando, assim, a necessidade de controles ou sensores nos estabelecimentos da área da saúde.
Esse programa-piloto faz parte do Projeto Inovação na Saúde no Triângulo Mineiro, implantado em 2023. Vale lembrar que, em 2024, 15 pesquisadores da Universidade de Uberaba (Uniube), da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) estiveram em ações de aceleração de pesquisas e apresentaram projetos à multinacional Novo Nordisk.
