Ensino
Habilidades que transformam
Mais de 1.200 educadores e 500 estudantes de Pouso Alegre acessaram a educação empreendedora desde 2019
Josie Menezes
Desde 1991, o Centro Municipal de Educação de Jovens Adultos (CMEJA) de Pouso Alegre promove um trabalho de educação. Com turmas do 1º ano ao 9º ano sem limite de idade, a instituição já atendeu quase 2 mil alunos. Entretanto, a evasão escolar sempre foi um dificultador. “São adultos que precisam priorizar o trabalho, o dinheiro e os cuidados com familiares”, explica Célia Paiva, gestora do Centro. Como reduzir a evasão escolar? Como ajudar o aluno a se preparar para oportunidades de trabalho? Atrás de respostas a perguntas como essas, Célia buscou a educação empreendedora.
Em 2019, a Secretaria Municipal de Educação e a Prefeitura de Pouso Alegre firmaram parceria com o Sebrae Minas para aplicar a educação empreendedora no CMEJA. O objetivo era trabalhar a autoestima e a criatividade dos alunos, para que eles pudessem desenvolver maior autonomia para inserção no mercado de trabalho ou para a criação de negócios próprios. Para Célia, o projeto foi uma virada de chave por ampliar a percepção dos alunos sobre as possibilidades de trabalho e fontes de renda. “Tivemos um bazar com oficinas de produção de chocolates, roscas e sabão e detergente feitos com óleo reciclado. Foi um aprendizado riquíssimo e totalmente associado às disciplinas do ensino regular da escola”, ressalta.
Como principais ganhos, a diretora aponta que os alunos se tornaram aptos a darem novos passos em suas aspirações profissionais. No Projeto Bazar, eles aprenderam a gerenciar estoques, precificar produtos, fotografar, divulgar e organizar um evento. Ao final da ação, o dinheiro foi revertido para a escola e direcionado a melhorias na merenda escolar ou à manutenção e troca de equipamentos.
E o CMEJA foi uma entre as várias instituições envolvidas no estímulo à inovação e ao empreendedorismo em Pouso Alegre. O analista do Sebrae Minas Anderson Faria conta que um grande trabalho tem sido feito para que haja um percurso completo, envolvendo desde as crianças do Ensino Fundamental até os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Nosso objetivo é trabalhar com os estudantes desde cedo para que, ao chegarem aos 17, 18 anos, eles estejam com a mente aberta para a criação de projetos inovadores”, explica.
Feira do empreendedor
“Criar, inovar e empreender: talentos que transformam.” Este foi o tema da feira de empreendedorismo em Pouso Alegre, realizada no início de outubro. “A cada ano, essa feira é aguardada como a culminância dos trabalhos desenvolvidos pelos professores, supervisores, coordenadores, alunos e seus familiares”, diz a coordenadora municipal da Educação em Tempo Integral, Rosângela Lima.
O projeto de educação empreendedora foi implantado nas escolas da educação em tempo integral do município em 2022. De lá pra cá, Rosângela avalia as principais mudanças percebidas na comunidade escolar. “Entre os professores, notamos uma evolução no modo de planejar e conduzir as atividades. Eles passaram a utilizar metodologias mais participativas, com foco em projetos, resolução de problemas e trabalho em equipe”, diz. Já entre os alunos, ela aponta que as mudanças foram ainda mais visíveis. “Eles desenvolveram competências socioemocionais importantes, como cooperação, protagonismo, autonomia e responsabilidade. Houve melhora no planejamento das tarefas, maior criatividade e uma percepção clara de que aquilo que aprendem na escola pode ter aplicação prática em suas vidas”, completa a coordenadora.
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Projeto de destaque
Crédito: Arquivo Pessoal
A Escola Municipal Anita Faria Amaral, com cerca de 60 alunos matriculados na educação em tempo integral, apresentou uma iniciativa de empreendedorismo que envolveu práticas de sustentabilidade, valorização da cultura local e incentivo à alimentação saudável. No projeto Cookies de Ora-pro-nóbis, realizado em 2023, os estudantes atuaram desde o plantio da hortaliça até a comercialização em dois eventos também organizados por eles, passando pela fabricação dos biscoitos.
O trabalho teve tanto destaque que foi um dos 12 selecionados para compor o livro CER Histórias do Sebrae (conheça as várias iniciativas clicando aqui). A coordenadora da iniciativa, Vaneide Amaral, ressalta que o projeto foi uma oportunidade para os professores trabalharem metodologias ativas, aproximando o currículo da realidade dos estudantes. “Trabalhamos com os alunos o tema da alimentação saudável, incluindo as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Colhemos, higienizamos e desidratamos as folhas de ora-pro-nóbis, produzimos a farinha, testamos receitas e, paralelamente, exploramos conteúdos pedagógicos: o gênero textual nas aulas de Língua Portuguesa e medidas e proporções na Matemática”, recorda.
Como resultado, a escola percebeu que os estudantes estão se tornando mais autônomos, participativos e confiantes, o que é um ganho enorme para o município. “Estamos formando uma geração de jovens com espírito inovador, olhar sustentável e senso de cidadania ativa. Em médio e longo prazos, isso pode significar uma comunidade mais engajada, empreendedora e capaz de criar soluções locais para questões sociais, culturais, econômicas e ambientais”, conclui Vaneide.
“Estamos formando uma geração de jovens com espírito inovador, olhar sustentável e senso de cidadania ativa”
Vaneide Amaral
Professora
