Histórias de Sucesso

Inovação

Fomento à pesquisa e à inovação

Sebrae Minas impulsiona parcerias para estimular o desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades do mercado


Alexandre Magalhães

Três décadas e meia após a abertura do mercado nacional aos importados, em um ambiente saturado de opções em produtos e serviços, inovar se tornou condição inerente à sobrevivência dos negócios de todos os portes. Porém, nem sempre quem planeja diferenciar-se dispõe de recursos para levar a ideia ao laboratório ou à prateleira. Daí a importância das ações de fomento, como as promovidas pelo Sebrae Minas e parceiros. “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é um dos pilares centrais da inovação. E, para que um projeto inovador seja bem-sucedido, são necessários investimentos que sustentem a pesquisa científica, a criação de novas tecnologias e o aprimoramento de processos, produtos e serviços”, observa Luisa Vidigal, analista do Sebrae Minas.

Dois exemplos de trabalhos estimulados pelo Sebrae Minas em prol da inovação são os desenvolvidos em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e o Catalisa ICT. O primeiro permite que empreendedores que almejam desenvolver tecnologias inovadoras para a indústria possam fazê-lo. O segundo viabiliza que pesquisadores das mais diversas áreas consigam transformar conhecimento científico em soluções de alto impacto.

Desenvolver a indústria

Criada em 2013, por iniciativa dos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Educação aos quais se juntaram posteriormente as pastas da Saúde e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços –, a Embrapii é uma associação nacional de pesquisa e desenvolvimento com propósito de contribuir para o desenvolvimento da indústria brasileira. Para isso, conecta o conhecimento científico presente em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) públicas e privadas de sua rede a indústrias interessadas em inovar, por meio de um modelo ágil, flexível e desburocratizado, que prevê aporte de recursos não reembolsáveis destinados a fomento.

Podem pleitear apoio micro e pequenas empresas – inclusive startups – que desejam desenvolver produtos ou soluções aplicáveis a áreas como biotecnologia, nanotecnologia, inteligência artificial, robótica, sistemas de comunicação e química, entre outras. Elas precisam ter alcançado grau de maturidade tecnológica (TRL) de 3 a 9, apresentar Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) compatível, faturar até R$ 4,8 milhões/ano e estarem dispostas a desembolsar parte do investimento.

O percurso é simples: de posse de um projeto de inovação ou produto/serviço/processo a melhorar, a empresa deve entrar em contato com uma das 93 unidades Embrapii no país e apresentar a ideia, para saber se é ou não elegível à captação. São diversas as etapas que podem ser contempladas: prova de conceito; validação em laboratório; desenvolvimento; testes em ambiente relevante; desenvolvimento de produto; lote-piloto; design; certificações; serviços de TIC; propriedade intelectual; modelagem financeira; incubação/aceleração e experiência do usuário, entre outras.

O Sebrae, por sua vez, destina até R$ 150 mil a projetos individuais e até R$ 300 mil a iniciativas que envolvem mais de uma empresa. “Como a Embrapii pode aportar até 50% do valor total do projeto e o Sebrae cobre boa parte da contrapartida que cabe à empresa, até 90% do custo total pode vir de recursos não reembolsáveis”, diz a analista.

Acesso recorde

Em 2024, Minas Gerais registrou acesso recorde ao Embrapii: o estado foi o segundo no país em captação de recursos, com 45 projetos e cerca de R$ 7 milhões captados. Uma das iniciativas foi apresentada pela Ceifa, empresa de base tecnológica de Lavras que desenvolve máquinas agrícolas destinadas à mecanização da cafeicultura em todas as suas etapas. O projeto criou uma máquina apropriada à colheita de milho plantado nas entrelinhas da lavoura cafeeira, ideia acolhida pelo Instituto Federal de Ensino Superior (Ifes) de Machado, uma das 13 unidades Embrapii localizadas em Minas Gerais e especializada em café.

A máquina faz frente à sua única concorrente, importada, produzida para a soja e de grande dimensão, o que dificulta sua operação em lavouras adultas. Já a solução criada pela startup mineira, por ser bem menor, é capaz de colher até três linhas de milho em meio ao café. E o melhor: funciona acoplada a um trator – equipamento que todo cafeicultor possui – e seu custo é consideravelmente inferior ao da concorrente estrangeira Parte do Ecossistema Local de Inovação (ELI) de Lavras, apoiado pelo Sebrae Minas, a Ceifa já alcançou TRL 8, estágio anterior à produção comercial. Para chegar ao 9, falta consolidar os testes, agendados para a próxima colheita de milho, no primeiro trimestre de 2026. “Será a hora de ajustar velocidades e rotações, verificar a durabilidade dos componentes e ter a certeza de que o equipamento é inteiramente confiável”, detalha um dos sócios da empresa, Fábio Moreira da Silva, que se diz grato ao Sebrae Minas pela oportunidade de desenvolver uma solução que, acredita, será muito útil ao campo. “Sem o aporte financeiro que obtivemos, teria sido muito mais caro. Sem contar que, após criar o protótipo, é preciso pensar em marketing e na apresentação do produto ao cliente, providências que também demandam investimento”, diz. Ele calcula que, do custo total do projeto, cerca de R$ 1,130 milhão, a Ceifa tenha desembolsado cerca de 10%.

Máquina criada pela Ceifa faz frente à sua única concorrente, importada
Crédito: Luciano Firmino/Túlio Kaule

Saúde e orçamento preservados

No segundo semestre de 2024, foi lançado o segundo ciclo do Catalisa ICT, destinado a selecionar mestres e doutores, além de mestrandos e doutorandos, vinculados a programas de pós-graduação stricto sensu reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou que mantenham vínculo formal com instituições de ensino ou pesquisa públicas ou privadas.

Inicialmente, foram selecionados 75 candidatos em Minas Gerais. Destes, 20 alcançaram a etapa 2. “A cada uma das quatro etapas, um novo edital é publicado, ou seja, os pesquisadores passam por uma espécie de funil, até que a pesquisa se torne um negócio inovador”, explica Luisa. Cada um dos selecionados em Minas passou, então, a receber uma Bolsa Pesquisador Empreendedor de até R$ 120 mil por um período de nove meses. Nessa etapa, a tarefa é elaborar o plano de inovação, ou seja, tornar a ideia comercialmente viável. O terceiro edital, por sua vez, terá como finalidade mobilizar, validar e escalar os negócios. “Ou seja, já vamos tentar fazer o match da pesquisa com investidores e indústrias, para que as propostas possam ser convertidas em produtos ou serviços com aplicação prática”, resume Luisa Vidigal.

Um dos projetos selecionados tem tudo para se tornar o primeiro produto com a marca Recombine Biotech, que dá nome a uma startup residente do Parque Tecnológico de Viçosa (tecnoPARQ), vinculado à Universidade Federal de Viçosa (UFV). A empresa desenvolveu um teste rápido para detecção de biofilmes na indústria alimentícia, em especial nos laticínios e frigoríficos, um dos desafios mais críticos para a segurança e a qualidade dos produtos. Resistentes a processos convencionais de limpeza, essas estruturas microbianas podem abrigar patógenos que comprometem a integridade do alimento, reduzem prazos de validade e geram riscos de contaminação em larga escala.

Fundada pela bioquímica Anna Cláudia Alves de Souza, formada pela UFV, a Recombine Biotech é o que ela chama de “uma empresa de cientistas”. Daí a importância dada pela pesquisadora à capacitação obtida por meio do Catalisa ICT. “O Catalisa nos deu o ‘saia do laboratório e vá para o mercado’. Assim, chegamos aos laticínios para acompanhar rotinas e realizar testes”, relata.

Anna Cláudia fundou a Recombine Biotech, de Viçosa
Crédito: Arquivo pessoal

A startup, que faz parte do Ecossistema Local de Inovação (ELI) de Viçosa, apoiado pelo Sebrae Minas, desenvolveu uma solução que, além de poupar a saúde humana, trará uma economia significativa para os laticínios: Anna Cláudia analisa que, no setor de queijos, por exemplo, cujo faturamento chega a R$ 20 bilhões anuais, as perdas causadas por contaminantes alcancem 5%, o equivalente a R$ 1 bilhão. Além disso, a expectativa é que o teste dê resposta em até três minutos, via aplicativo e uso de inteligência artificial. Os testes disponíveis atualmente demandam, em média, 20 dias para o resultado.

Apesar dos benefícios que a P&D proporciona, Anna Cláudia diz que o fato de a área requerer tempo de maturação e recursos vultosos a torna pouco atrativa para o setor produtivo. “Acredito que, para se inserir internacionalmente, um país precisa ter um propósito de investimento em P&D, mas grandes empresas não inovam – quem inova são as startups, que necessitam desse grande elo que é o Sebrae. Do contrário, vamos continuar a produzir muito conteúdo teórico e não teremos produtos que verdadeiramente mudam a vida das pessoas, que é o que importa em inovação”, diz a pesquisadora.

Compete Minas

Uma parceria inédita firmada este ano com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) possibilitará ao Sebrae Minas oferecer consultorias de inovação a pequenos negócios selecionados por meio da chamada Compete Minas 2025 – programa de fomento à competitividade e inovação, criado há três anos pelo Governo do Estado.

O objetivo é disponibilizar recursos públicos não reembolsáveis para que empresas, startups, cooperativas e ICTs possam desenvolver processos, produtos ou serviços inovadores e, assim, se tornarem mais competitivas.

Para conhecer as chamadas disponíveis, os interessados devem acessar a área “Chamadas Abertas” do site da Fapemig e consultar os editais em vigor, a fim de identificar qual deles se adéqua ao seu negócio e saber que documentos terá que apresentar para análise.