Indústria
EVOLUÇÃO GUIADA
Subsolador desenvolvido no Vale do Aço, com apoio do Sebrae Minas, beneficia pequenas propriedades rurais
ISABELA LOBO
No coração industrial de Minas Gerais, o Vale do Aço, uma inovação está mudando a realidade de pequenos produtores rurais, que convivem com grandes períodos de estiagem em um território com solo altamente degradado. Trata-se de uma versão compacta e resistente de um subsolador, equipamento utilizado para melhorar a infiltração de água no solo e reduzir a erosão. O novo dispositivo foi desenvolvido por empresas do Arranjo Produtivo Local (APL) Metalmecânico de forma customizada, e seu processo de criação teve apoio técnico e estratégico do Sebrae Minas.
Sebastião Tomás, idealizador do projeto, ressalta que a ferramenta é essencial para a sustentabilidade no campo. “O subsolador é usado para mitigar os efeitos da compactação superficial do solo. Ele cria fendas que facilitam a penetração e retenção de água das chuvas, evitando o escoamento excessivo, que causa erosões e carreamento de nutrientes. Ou seja, permite que a água permaneça no solo por mais tempo, o que é vital para a agricultura em regiões com problemas de escassez desse recurso”, explica. A demanda surgiu da necessidade de um subsolador que pudesse ser usado por tratores de menor potência, comuns em pequenas propriedades. “Até então, só grandes empresas conseguiam utilizar esse tipo de equipamento, já que os modelos existentes no mercado eram muito grandes e precisavam de tratores enormes para puxá-los – o que não é a realidade do pequeno produtor.”
MOBILIZAÇÃO E PARCERIA
O Sebrae Minas articulou as parcerias necessárias ao desenvolvimento do projeto, com o objetivo de impulsionar a geração de negócios a partir do novo produto. De 2019 em diante, a instituição realizou uma série de encontros com empresários do setor metalmecânico e entidades como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Vale do Aço (Sindimiva) para desenvolver um equipamento que atendesse à demanda identificada.
De acordo com Alessandro Challub, analista do Sebrae Minas, a missão da instituição é ajudar os empreendedores a transformar ideias em realidade. “O mais interessante foi perceber que havia espaço para que fossem desenvolvidos novos produtos, que pudessem estar disponíveis no mercado de imediato, diferentemente do que é praticado hoje no Vale do Aço, onde as grandes empresas contratam, sob demanda, a produção de equipamentos. É uma forma de ampliar negócios e atingir novos mercados”, afirma.
TECNOLOGIA
O projeto foi desenvolvido com o apoio técnico do Senai, que ajustou o protótipo para garantir a durabilidade e a eficiência necessárias para o trabalho nas pequenas propriedades. Com isso, o subsolador criado no Vale do Aço tornou-se o primeiro de sua categoria, projetado especificamente para ser usado em tratores de até 85 cavalos.
Testado em vários locais, como Sabinópolis, Peçanha e Periquito, o equipamento demonstrou contribuir para uma significativa melhoria na retenção de água e na conservação do solo. Os benefícios são claros: aumento da produtividade, menor custo de manutenção e, sobretudo, a preservação dos recursos hídricos.
EXPANSÃO E OPORTUNIDADES
O sucesso do subsolador despertou o interesse de prefeituras e cooperativas de pequenos produtores, que veem na tecnologia uma oportunidade para modernizar suas práticas agrícolas e aumentar a rentabilidade. Empresas locais do setor metalmecânico, como a Tecweld, já estão produzindo as primeiras unidades do equipamento, e outras quatro empresas do APL Metalmecânico estão prontas para entrar no mercado.
O Sistema Faemg/Senar Minas também desempenha um papel crucial na expansão dessa inovação. Segundo Luiz Ronilson Paiva, coordenador de Formação Profissional Rural do Senar Minas, o projeto tem grande potencial para ser difundido em toda a região. “Começamos a perceber que faltava um apoio maior para alavancar e difundir a subsolagem como prática de conservação de água e solo, especialmente em regiões de topografia acidentada. Nossa proposta para 2025 é expandir os dias de campo e ampliar o uso do subsolador”, comenta Ronilson.