Escola do Sebrae
EMPREENDEDORES DO PRESENTE E DO FUTURO
Escola do Sebrae completa 30 anos dedicados a formar jovens com metodologia inovadora
LUCAS ALVARENGA
Na década de 1990, o então presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Stefan Bogdan Salej, implantou um projeto ousado com o objetivo de preparar os jovens para os desafios do mercado. Ele idealizou uma metodologia de ensino inovadora, com raízes austríacas, voltada à formação de estudantes com mentalidade empreendedora e com capacidade técnica em gestão de negócios, competências essenciais para o desenvolvimento empresarial do estado. Nascia a Escola do Sebrae, em 16 de agosto de 1994.
Após 30 anos, a instituição já formou mais de 15 mil jovens e se tornou referência nacional no ensino da educação empreendedora, conjugando Ensino Médio de qualidade com formação técnica em Administração ou Marketing. A diretora da Escola do Sebrae e mestre em Educação Karinne Mendes se encantou com a instituição desde o estágio, há 26 anos. “Sempre sonhei com uma escola que respeitasse as individualidades e ajudasse o aluno a potencializar seus saberes e competências. Ao chegar aqui, me apaixonei por essa metodologia, que transforma vidas por meio do empreendedorismo, da inovação e da sustentabilidade”.
Professora e pedagoga, ela superou as dificuldades de aprendizagem na infância para realizar o sonho de ensinar. Movida por esse desejo, Karinne se tornou coordenadora pedagógica da Escola do Sebrae, depois gestora de projetos para, enfim, tornar-se diretora, em 2019. “Sinto-me honrada em fazer parte desta escola, cuja metodologia se baseia em projetos, experiência e resolução de problemas. Damos significado e experimentação aos conteúdos, estimulando o aluno a desenvolver competências, habilidades e saberes no processo de aprendizagem. Esse é o nosso DNA”, ressalta.
Referência nacional em educação empreendedora, a Escola do Sebrae baseia seu modelo em três projetos estruturantes: Tutoria, Empresa Simulada e Vitrine, aplicados na 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio, respectivamente. “Os jovens são estimulados a desenvolverem atitudes empreendedoras, como autonomia, proatividade e pensamento crítico, não importa a profissão que venham a seguir. Nosso objetivo é prepará-los para serem protagonistas dos seus projetos de vida”, frisa a gerente de Educação Empreendedora do Sebrae Minas, Fabiana Pinho.
Na 1ª série, com o projeto Tutoria, os estudantes conhecem o dia a dia de uma empresa por meio de visitas guiadas. No fim do ano letivo, eles produzem um relatório com os aprendizados da prática e sugestões de melhorias. Na 2ª série, os alunos fazem a gestão de um negócio em um ambiente virtual e simulado, passando por todos os setores da empresa. Na 3ª série, durante o projeto Vitrine, eles desenvolvem um plano de negócios de um produto ou negócio real, a ser apresentado para uma banca de investidores.
PREPARADOS PARA EMPREENDER
Ex-aluno da primeira turma da Escola do Sebrae, Mateus Rabelo recorda-se da antiga sede, situada na Rua Cláudio Manoel, na capital mineira. “Aquela atmosfera era diferente de qualquer outra instituição de ensino que já havia frequentado. Mais do que saudades, meus professores deixaram uma impressão duradoura em mim. As simulações e projetos me prepararam para enfrentar os desafios do mercado, enquanto o contato direto com o ambiente de negócios moldou minha forma de enxergar o mundo e empreender dentro das corporações”, explica.
Logo depois de se formar, em 1997, Mateus ingressou como trainee na MRS Logística, na qual permanece até hoje. Agora como gerente industrial de uma ferrovia de carga, ele reconhece o papel da Escola do Sebrae na sua carreira como intraempreendedor. “A formação técnica em Administração na Escola do Sebrae permitiu que eu desenvolvesse uma mentalidade inovadora, habilidades de liderança, visão estratégica e foco em resultados, transformando atitudes empreendedoras em experiências valiosas para o meu dia a dia na empresa”.
Natural de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, José Bento Meirelles é CEO e cofundador da Moon Ventures. Ao se mudar para a capital mineira para estudar, o administrador iniciou uma jornada em que o saber deu lugar à inovação. “A Escola do Sebrae me preparou para a vida. A formação empreendedora adquirida há dez anos me permitiu não só criar uma marca de café com o meu pai, como fundar um clube de moda minimalista, o Minimal Club, que virou uma holding para a criação e aceleração de e-commerces, com 80 funcionários”.
A jornada durante o curso técnico de Administração da Escola do Sebrae abriu outras portas para José Bento. Durante o projeto Tutoria, ele foi convidado por uma empresa norte-americana – na qual estagiava – a trabalhar na sede da companhia, no exterior. “Quando concluí os estudos na Escola do Sebrae, fiz um intercâmbio de seis meses nos Estados Unidos para depois ingressar no curso superior de Administração. Eu sobressaí em várias disciplinas, porque aprendi, na prática, com os professores do Sebrae, o que é administrar um negócio”, destaca.
As missões nacionais e internacionais reforçam o caráter prático do modelo de ensino proposto pela Escola do Sebrae. Realizada desde 2008, a iniciativa estimula a participação dos estudantes da instituição nos principais eventos de empreendedorismo do mundo. As missões – sejam nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil – reúnem feiras de empresas simuladas e desafios globais de negócios, proporcionando aos alunos a oportunidade de interagir com culturas e jovens de todo o mundo.
Prestes a finalizar o técnico em Administração, Maria Carvalho Cotta pôde representar a Escola do Sebrae em duas missões a Nova Iorque. “Em 2023, fui selecionada para participar do Global Innovation Challenge, um desafio global de inovação e sustentabilidade com casos reais. O meu grupo terminou em terceiro lugar. Já em julho deste ano, participei de outra missão, desta vez para fazer dois cursos de verão: Ideias para Empreender e Marketing Esportivo. São vivências simplesmente incríveis, repletas de aprendizado”, recorda-se a estudante, de 18 anos.
A paixão pela música e os dons artesanais conduziram Maria para o empreendedorismo de forma natural, mas é a vivência na Escola do Sebrae que amadurece esse desejo nela. “Durante o primeiro ano, meus colegas e eu escolhemos a Luisa Barcelos – uma das maiores referências do ramo calçadista do Brasil – para ser nossa tutora de projeto. Dois anos mais tarde, tive a chance de apresentar um projeto de alimentação saudável nas escolas, o GreenBite, junto da minha sócia, Júlia Matosinhos. Hoje, estudo pela manhã e faço estágio à tarde, mas já sonho com minha própria empresa”.
CONSCIÊNCIA SOCIAL
A formação humana dos estudantes é uma preocupação da Escola do Sebrae. Por meio do projeto Empreendedores da Alegria, alunos e colaboradores da instituição levam música, teatro e entretenimento a crianças e idosos em creches e hospitais.
“Este projeto mostra quanto a capacidade de empreender pode mudar a sociedade por meio da empatia e da solidariedade. Por isso, a Escola do Sebrae é encantadora. Ela é uma instituição que, há 30 anos, evolui com o mundo. Afinal, como diz nosso slogan, se a vida te desafia, a Escola do Sebrae te prepara”, finaliza Karinne.
CIDADÃOS EMPREENDEDORES
Descobrir o mercado de trabalho e suas nuances foi o início da metamorfose de Maria Eduarda Xavier. Aos 18 anos, prestes a cursar a 3ª série do Ensino Médio, ela ingressou na unidade de Belo Horizonte do Núcleo de Empreendedorismo Juvenil (NEJ), do Sebrae Minas, por indicação de um conhecido. “No início, tive dificuldade de me adaptar àquela rotina de ensino regular pela manhã e técnico à tarde. Mas essa zona de desconforto foi o meu ponto de virada para entender quem eu era e o que desejava representar no mercado”.
Braço social da Escola do Sebrae, o NEJ já capacitou mais de 3 mil estudantes e egressos de escolas públicas desde a sua fundação, em 2010. O núcleo oferece gratuitamente aos jovens de baixa renda a mesma formação inovadora da Escola do Sebrae. Para Maria Eduarda, a experiência a levou a lançar, ainda no curso, em 2020, o projeto, alçando seus primeiros voos como empreendedora. “A marca surgiu como uma loja de roupas e acessórios, mas logo se tornou um movimento social pela ascensão da juventude preta e periférica da capital mineira. No É de Preto oferecemos workshops, palestras, mentorias e serviços voltados ao empreendedorismo. O NEJ foi essencial nessa construção, pois despertou em mim autonomia e consciência social junto aos negócios”, admite a estudante, atualmente no 8º período de Publicidade.
Para acelerar a capacitação de jovens, o NEJ celebrou uma parceria com o governo de Minas. Desde março deste ano, a unidade da capital mineira e mais 13 escolas da rede pública estadual do estado oferecem o curso técnico em Administração aos participantes do projeto Trilhas do Futuro. Todos os professores alcançados pela iniciativa foram capacitados para adotar o método inovador do NEJ em sala de aula, transformando a vida de mais de 490 alunos do Ensino Médio.
TENDÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO
Para diagnosticar as novas tendências para a comunidade escolar, o Centro Sebrae de Referência em Educação Empreendedora (CER) lançou, neste ano, o estudo Só tem no Brasil – Caminhos para uma educação transformadora. O trabalho qualitativo, promovido pela Ioasys, analisou relatórios e conteúdos nacionais sobre a área da educação, esmiuçados em 25 entrevistas com especialistas. O estudo se concentrou no comportamento da geração Z (nascidos entre 1996 e 2010), a mais populosa em transição para o mercado de trabalho. Os dados evidenciaram como a pandemia de Covid-19 acentuou as perdas de aprendizagem, a evasão escolar e os problemas de saúde mental entre os jovens.
“Com a aceleração do uso da tecnologia, nossa missão está em mostrar como a inovação pode favorecer desde o processo de aprendizagem até a preparação para o mundo do trabalho. O futuro da educação se encontra na junção entre a promessa da tecnologia, como é o caso da inteligência artificial, e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais que nos levem a uma formação integral”, defende a gerente de Educação Empreendedora do Sebrae Minas, Fabiana Pinho.
Conheça as principais tendências apontadas pelo estudo e adotadas pela Escola do Sebrae:
2) Educação flexível
Os papéis da escola e do professor ganharão outros contornos. A troca e o diálogo no ambiente externo tornarão a educação mais flexível, valorizando a coletividade.
3) Aprendizagem prática
A aprendizagem orientada por projetos fará com que as escolas deixem de ser as únicas detentoras do conhecimento.
4) Fluência emocional dos jovens
A necessidade de engajar os jovens durante a aprendizagem acelerará o surgimento de cursos em formatos mais curtos e de técnicas imersivas e gamificadas de ensino.
5) Transformação digital
A inteligência artificial e a Web 3.0 devem acentuar a digitalização do ensino, integrando novas ferramentas tecnológicas ao processo de aprendizagem e gestão educacional.