Histórias de Sucesso

Moda

Lingerie em alta

Programa estimula formalização e desenvolvimento de negócios em Monte Belo, no Sul de Minas


Ana Cláudia Vieira

Você acha que lingerie é apenas aquele tipo de roupa que se veste por baixo de outras peças? Está subestimando muito o potencial desse produto. Há grande diversidade de peças, que se classificam em diferentes usos e tendências – dia a dia, luxo, noite, para dormir, para praia, para crianças e adultos – e um mercado gigante. Basta ver os números: no ano passado, 1,4 bilhão de peças foram produzidas no Brasil, movimentando R$ 11,5 bilhões, segundo pesquisa da empresa IEMI – Inteligência de Mercado.

Minas Gerais tem vários polos produtores de moda íntima. Um deles fica em Monte Belo, no Sul do estado, que, com o apoio do Sebrae Minas, tem movimentado uma ampla cadeia produtiva e transformado a economia local.

Apesar de ainda manter a tradição como produtor de café, há dez anos o município começou a ter facções de costura para atender à demanda da vizinha Juruaia, onde a atividade está estabelecida há mais tempo. Monte Belo já reúne 135 fábricas, em sua maioria lideradas por mulheres e localizadas na zona rural, que empregam pelo menos metade da mão de obra local – são cerca de 2 mil profissionais contratados.

“Quando passei a atender na Regional Sul de Minas, em 2017, diziam que eram mais de cem unidades produtivas, mas eu não via lojas nem fábricas abertas. Descobri que a maioria estava na zona rural ou dentro de casa”, lembra a analista do Sebrae Minas Adaiby Gonçalves.

A partir da realização de um diagnóstico, a instituição e parceiros como a Prefeitura, a Câmara Municipal e a Associação Comercial e Industrial de Monte Belo (ACIMB) iniciaram o programa Confecção de Lingerie de Monte Belo, iniciativa que compõe um conjunto de estratégias do Sebrae Minas dirigidas especificamente ao setor de moda, o Integra Moda.

O objetivo era gerar valor e renda por meio da formalização dos negócios. “O desafio inicial foi desenvolver a cultura da cooperação para que as empreendedoras entendessem os benefícios do trabalho coletivo, que tem resultado no fortalecimento das empresas, graças ao compartilhamento de informações”, conta a analista.

O trabalho de estímulo ao cooperativismo durou quase dois anos até a constituição da Associação dos Empresários Montebelenses de Moda Íntima (AMMI), que hoje reúne 35 empresas em um grupo coeso e maduro. Em paralelo, o Sebrae Minas seguiu ofertando capacitações, como o Sebraetec, palestras e workshops sobre temas como vendas e gestão de inovação, além de consultorias individuais para os empreendedores. O programa acumula bons resultados, entre eles a realização de quatro edições da Feira de Moda Íntima de Monte Belo (FEAMMI), e tem várias ações previstas para este ano.

Sueli Urbano migrou da agricultura para a fabricação de lingerie em 2007
Crédito: Pedro Vilela

Sueli Maria Oliveira Urbano é uma das mulheres à frente de um negócio de lingerie em Monte Belo. A Angelical Moda Íntima está instalada em um imóvel de dois andares, que abriga loja e fábrica próprias. Lá, são produzidas 22 mil peças mensalmente para atacado e varejo, nacional e internacional. Há 57 funcionários, e o faturamento anual chega a R$ 5,5 milhões. Mas nem sempre foi assim.

Sueli migrou da agricultura para a costura com o objetivo de pagar os estudos da filha Angélica. “Foi dando certo, fomos vendendo. Compramos um terreno, fizemos loja com um galpão nos fundos, contratamos dois representantes”, recorda. Em 2010, três anos depois de abrir a confecção, Sueli participou do Empretec, iniciando um novo capítulo de sua vida. “Foi uma das melhores coisas que fiz, pois aprendi a me ver como empresária.”

A primeira lição colocada em prática, conta ela, foi o planejamento financeiro. A partir do conhecimento adquirido, a empreendedora estabeleceu uma meta de vendas e o que precisaria fazer para alcançá-la, como a contratação de mais uma costureira para garantir o estoque. Os representantes visitavam diversas cidades, deixando as peças com inúmeras sacoleiras. Nesse meio-tempo, Sueli sempre buscou, tanto para si própria quanto para a equipe, suporte do Sebrae para lidar com modelagem e finanças, entre outros temas. “Fui a primeira a empreender e, como foi dando certo, outras pessoas se inspiraram. Com a força e o apoio do Sebrae, elas também aprenderam a gerenciar as empresas”, diz.

Vendas on-line

Com o sucesso do seu negócio, Ana Paula Fidelis decidiu permanecer morando em Monte Belo
Crédito: Pedro Vilela

Para Ana Paula da Silva Fidelis, o sonho de fazer um curso superior em uma cidade maior foi o estímulo para empreender. “Meu namorado, Elton Brás Fidelis, tinha o mesmo objetivo e se mudou, enquanto eu fiquei trabalhando na área da lingerie. Como ele não conseguiu emprego depois de se formar, decidimos trabalhar juntos”, explica, lembrando que, na época, ele foi o primeiro costureiro da cidade, rompendo preconceitos.

Para sair da garagem de casa e abrir o próprio negócio, a Anabela, os jovens seguiram toda a trilha de capacitação do Sebrae Minas, começando pela Cultura da Cooperação. “Eu fiquei encantada. Foi o primeiro projeto de que participei e, a partir dele, o Sebrae foi trazendo mais cursos, consultorias. Faço questão de participar de tudo.”

Aos 29 anos, a empresária tem sua estratégia baseada nas vendas on-line, atendendo a todo o país. Com oito funcionários, ela movimenta cerca de R$ 500 mil por ano. “Esse também foi outro passo dado com o incentivo do Sebrae. Acredito que sou a única em Monte Belo que não trabalha com consignado.”

O céu é o limite

O projeto Confecção de Lingerie Monte Belo segue em desenvolvimento

Resultados

  • Implementação do curso Cultura da Cooperação;
  • Constituição da Associação Montebelense de Moda Íntima (AMMI);
  • Realização de quatro edições da FEAMMI (de 2019 a 2022);
  • Aperfeiçoamento das marcas próprias;
  • Melhoramento e ampliação do mix de produtos;
  • Aumento da carteira de clientes.

Ações em 2023

  • Oficinas da Moda sobre modelagem e tendências para desenvolvimento de coleção;
  • Consultorias de vendas com foco em estratégias de B2B;
  • Evento de Lançamento de Coleções Outono/Inverno (Minas Trend);
  • Lançamento da missão de criação do “Polo referência em organização produtiva de lingerie”;
  • FEAMMI 2023;
  • Consultoria sobre compras coletivas de insumos.

Destaque no segmento de moda autoral

Norberto Resende é designer e proprietário da Norb Brand
Crédito: Arquivo Televale

Desde 1999, o Dragon Fashion reúne atrações para diversos eixos, entre eles moda, gastronomia e música. É o maior encontro de moda autoral da América Latina.

Na área de moda autoral, aquela feita por criadores que acompanham de perto todo o processo produtivo, quem está ganhando cada vez mais reconhecimento é o belo-horizontino Norberto Resende, designer e proprietário da Norb Brand e um dos participantes do Minas Moda Autoral, iniciativa do Sebrae Minas que busca localizar, capacitar e apresentar os talentos da moda mineira para o mundo, sem que eles precisem sair de Minas. Em maio, a Norb Brand desfilou sua nova coleção na edição 2023 da Dragão Fashion (DFB Festival), em Fortaleza, recebendo grande reconhecimento do público.

“Ele é um talento”, comemora a analista do Sebrae Minas Karina Hanun, destacando que o designer também participa do programa Agente Local de Inovação (ALI). Para Norberto, os conhecimentos adquiridos têm sido um diferencial. “Fiquei bem feliz com o conteúdo, que é aplicado por professores extremamente capacitados, por meio de uma didática leve, fácil de ser compreendida”, diz o designer.

Conheça o caderno de saberes

Mestres e seus ofícios manuais que fazem parte do patrimônio imaterial de Almenara, no Baixo Jequitinhonha, foram reunidos no Caderno Saberes e Tradições, idealizado pelo Sebrae Minas em parceria com a Prefeitura da cidade.

Lançado em maio, o caderno é uma das ações do projeto Mãos à Moda, que busca resgatar vocações territoriais a serem aplicadas ao setor de moda para gerar impacto por meio da inovação e da cocriação com o território. Aproximadamente 200 pessoas participam da iniciativa, que capacita e orienta as comunidades em Almenara, com o objetivo de dar autonomia, fomentar a economia local, gerar renda e inovação social por meio da cadeia produtiva da moda.

O próximo passo do projeto é entender como esses saberes podem ser transformados em produtos a serem comercializados por empreendedores locais, integrando a cadeia. “É um estímulo para que os negócios possam alcançar resultados ainda melhores”, pontua a analista do Sebrae Minas Raquel Canaan.

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