Histórias de Sucesso

Mercado

Energia solar sustentável, mais barata e promissora

Pequenas empresas consolidam-se no mercado de geração fotovoltaica com o apoio do Sebrae Minas


Tatiana Rezende

As projeções da Agência Internacional de Energia (AIE) indicam uma mudança histórica no horizonte mundial do setor em 2023. Os investimentos na captação fotovoltaica e em outras tecnologias neutras em carbono ultrapassarão os realizados em petróleo, gás e carvão. A expectativa é de um aporte de US$ 1,7 trilhão.

No Brasil, o segmento de energia solar é um dos que mais crescem. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), desde 2012 o país recebeu cerca de R$ 78,5 bilhões em investimentos, que resultaram em mais de 450 mil empregos, evitaram a emissão de 20,8 milhões de toneladas de CO2 e tornaram a energia solar a segunda maior fonte da matriz elétrica brasileira. Minas Gerais é o segundo estado com maior potência instalada de geração – aproximadamente 2,94 GW em operação ou 13,5% do total nacional.

As empresas integradoras oferecem consultoria técnica para atestar a viabilidade de um empreendimento de energia solar fotovoltaica, negociam com fabricantes, instalam os equipamentos e fazem a conexão com as concessionárias.

Vislumbrando as muitas oportunidades existentes, o Sebrae Minas tem apoiado pequenos negócios do setor. O projeto Energia Fotovoltaica começou em 2018, com diversas capacitações. Um dos resultados desse trabalho foi a criação da Central de Negócios Integradores, posteriormente chamada de Imersol, grupo que reúne dez empresas integradoras.

Segundo o analista do Sebrae Minas Diogo Dias Lisboa, o projeto visa proporcionar oportunidades de negociação entre os fornecedores e estimular a criação de uma marca própria, prospecção de negócios de maior valor agregado, treinamento de empregados, compras em conjunto buscando redução de custos, entre outras facilidades. “As empresas trocam experiências e conhecimentos por meio de reuniões semanais, mostrando o know-how de cada área”, explica.

Juntos e fortes

Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicou a Resolução Normativa 482, que facultou a qualquer consumidor de energia atuar também como gerador, desde que utilize fontes renováveis, como a solar e a eólica. A novidade estimulou o recém-formado Marcos Vinícius Eloy Xavier a convidar o colega Ivan Magela Corgozinho a abrir uma empresa. “Sabia que esse mercado tinha tudo para crescer. Começamos pequenos, vendendo aquecedor solar e painéis de energia fotovoltaica”, lembra. A empresa cresceu em paralelo ao desenvolvimento do setor, principalmente após a publicação de uma nova resolução, em 2015, que autorizou consórcios e cooperativas a usar painéis fotovoltaicos.

Marcos Vinícius apostou no setor de geração de energia em 2012, criando a Imax Energia
Crédito: Pedro Vilela

Foi em 2018, entretanto, que a Imax Energia experimentou sua “grande virada”, como avalia Marcos Vinícius. “Entendíamos muito de engenharia e de projetos, mas nada de gestão, finanças, marketing e gestão estratégica. Essas questões constituíam uma grande lacuna para nós, que pudemos preencher com o apoio do Sebrae Minas.” Além de adquirir conhecimentos relevantes, a participação nas atividades gerou muitas trocas, parcerias e sinergia entre empresas do setor, ponto considerado diferencial por Marcos Vinícius. “Éramos concorrentes, mas também parceiros. Assim, começamos a fazer negócios juntos, na Central de Negócios Integradores.”

Com o volume de compras acumulado pelas dez empresas participantes, o grupo ganhou poder de negociação e passou a obter melhores contratos. Em 2020, por exemplo, um dos integrantes, que tinha experiência em exportação, viabilizou compras diretas de um fornecedor da China. “Em 2021, a iniciativa passou a chamar-se Imersol e se dividir em quatro empresas: uma holding, uma especializada em serviços e engenharia, outra voltada para execução das obras de engenharia e a quarta responsável pela importação de equipamentos”, explica.

Sócio da empresa Solsist, o empresário Alexandre Andrade celebra a parceria na Imersol. “Estamos em mais de 20 estados diferentes, já instalamos mais de 140 mil painéis e reduzimos em 30 mil toneladas por ano as emissões de CO2. Somente no ano passado, contabilizamos um faturamento de R$ 16 milhões, e a meta para este ano é de R$ 40 milhões”, enfatiza.

Energia compartilhada

A Solsist foi criada em 2014 por Alexandre junto com Luciano Vinti e Paulo Breyner, todos engenheiros, visando ao desenvolvimento de projetos de energia solar fotovoltaica conectada à rede para os setores comercial e industrial. Menos de dez anos depois, a empresa atua em dez estados e contabiliza mais de 700 usinas instaladas.

Equipe da Solsist: Paulo Henrique Oliveira, Alexandre Andrade e Luciano Andrade
Crédito: João Carlos C1

A geração compartilhada possibilita compartilhar energia de mini ou microgeração entre dois ou mais consumidores, com a condição de todos os participantes estarem na mesma área de concessão.

Como explica Alexandre Andrade, a Solsist baseia seu trabalho em três pilares: economia, aprendizagem e investimento. “Oferecemos economia para nossos clientes, oportunidade para investidores que querem atuar no mercado de energia, utilizando a modalidade de geração compartilhada, popularmente conhecida como “fazendas solares”, e capacitamos profissionais do setor, em parceria com o Senai de Belo Horizonte, oferecendo cursos de projetistas e instaladores, além de treinamentos e mentorias on-line para integradores de todo o país”, destaca. Segundo ele, mais de 1,5 mil profissionais foram capacitados pela Solsist em todo o Brasil.

Sobre os contatos com as empresas do setor viabilizados pelas atividades do Sebrae Minas e a formação da Imersol, o empreendedor relata que só há benefícios. “Por exemplo, nós comprávamos 300 Watt-pico (Wp) por mês e passamos a comprar, juntos, 1 MWp, três vezes mais, por semana. Dessa forma, o valor cai drasticamente, e quem se beneficia é o consumidor final.”

Cláudio Paixão é sócio da integradora Eletromecan, outra integrante da Imersol. Com trajetória longeva, a empresa foi criada em 1985, sempre atuando no mercado de geração e transmissão de energia para grandes corporações. Para atuar no mercado da geração fotovoltaica, precisou redirecionar sua atenção para residências, comércios e fábricas com até 5 quilowatt (kW) de potência. Mas isso não significou perdas, ao contrário. “Desde o primeiro dia, vimos o potencial. Juntamente com o consultor do Sebrae Minas, percebemos que, trabalhando juntos, na Imersol, poderíamos multiplicar o faturamento das nossas empresas. É isso o que tem acontecido”, relata Cláudio.

Ele pontua que os resultados são possíveis por diversos fatores, mas se devem, principalmente, às pessoas envolvidas. “Conseguimos juntar profissionais com formação acadêmica muito sólida e com experiência de mercado muito forte. Cada um agregou seu conhecimento e compôs essa liga.”

Cláudio Paixão mostra um dos trabalhos realizados pela Imersol, em campus da UFMG
Crédito: Pedro Vilela

Futuro

No final de 2022, o trabalho evoluiu para a criação do Instituto Imersol, uma entidade sem fins lucrativos dedicada a promover o desenvolvimento sustentável e as boas práticas do uso da energia renovável. Para este ano, a proposta é capacitar pessoas, principalmente em regiões onde a energia solar é mais demandada, por meio de parcerias com universidades e o poder público. “Além disso, o grupo pretende entrar no mercado de transmissão e geração de energia para fazer projetos maiores”, conta Cláudio Paixão.

Marcos Vinícius reconhece que, para a Imax, fazer parte da Imersol representou uma grande mudança de patamar. “Em 2017, tínhamos um faturamento em torno de R$ 800 mil por ano e, para 2023, a nossa meta é um valor seis vezes maior. Foi realmente uma grande mudança na nossa história”. O próximo passo é migrar dos setores residencial e comercial, que têm o tíquete médio mais baixo, para o de investidor, para comercializar energia. “Um passo de cada vez e tudo bem planejado”, finaliza.

Já a Solsist quer escalar ainda mais as vendas para empresas, oferecendo 15% de desconto nas contas de luz. “Os consorciados ‘alugam’ parte dos nossos equipamentos da usina fotovoltaica. Mensalmente, fazemos a gestão da operação da usina solar e do consórcio para que os consumidores recebam a sua economia acordada e o investidor, o seu retorno esperado. Esse processo é chamado de Sistema de Compensação de Energia Elétrica e é autorizado pela Aneel por meio da Resolução Normativa 687/2015”, explica Alexandre.

Minas solar percorre dez cidades do estado

Os diversos negócios da cadeia da energia fotovoltaica reúnem-se na feira
Crédito: José Sena Júnior

Inserir os pequenos negócios mineiros na cadeia de geração distribuída de energia solar fotovoltaica, de forma competitiva e sustentável, é objetivo do Minas Solar. O evento é promovido pelo Sebrae Minas, em parceria com a Genyx Solar e com apoio da Absolar. Em 2023, já percorreu sete cidades: Arinos, Belo Horizonte, Governador Valadares, Itajubá, Janaúba, Montes Claros e Teófilo Otoni.

Integradores, distribuidores, fabricantes e profissionais do setor de energia solar fotovoltaica se reúnem em torno de uma ampla programação de painéis, palestras, mini-workshops, feiras e rodadas de negócios. Visões de mercado, inovação, gestão, ambiente técnico, políticas públicas e inovação são compartilhadas.

Outras três cidades vão receber o evento até o fim do ano: Juiz de Fora, em 10 de agosto, Uberlândia, em 21 de setembro, e Pará de Minas, em 26 de outubro.