Histórias de Sucesso

Audiovisual

Criatividade que move economias

Indústria da economia criativa gera emprego e renda ao mesmo tempo em que posiciona países e regiões perante o mundo


Ana Cláudia Vieira

Pense em tudo que move sua criatividade: literatura, cinema, jogos, música, teatro, televisão, entre outros. É um universo que contribuiu para a sua visão e entendimento de mundo e que faz parte da indústria da economia criativa. O segmento foi responsável por ter movimentado mundialmente, em 2020, US$ 524 bilhões apenas em exportações, conforme dados do relatório Creative Economy Outlook 2022, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento.

O audiovisual, especificamente, é uma potente atividade econômica, capaz de ampliar o poder de convencimento e influência de nações, a exemplo dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, que possuem alto grau de investimento nessa área, tendo alcançado resultados evidentes e transformadores, como avalia a analista do Sebrae Minas Nayara Bernardes. Para ela, o audiovisual e os demais negócios da cadeia da economia criativa conseguem “ampliar a imagem de um país com grande velocidade, imprimindo sua cultura pelo mundo e reforçando a credibilidade econômica”, o que favorece grandes investimentos. “Este é um exemplo de abrangência global. Porém, o audiovisual pode ser estruturado em níveis locais e regionais”, complementa.

Dados do Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, de 2022, mostram que, entre 2017 e 2020, a participação do PIB Criativo no PIB do Brasil aumentou de 2,61% para 2,91%. Como resultado, em 2020, o PIB Criativo totalizou R$ 217,4 bilhões, ocupando mais de 935 mil profissionais criativos formalmente. Minas Gerais ocupa o terceiro lugar em geração de empregos, com 82 mil profissionais criativos formalmente empregados.

Flora Manga, de Ipatinga, é storyteller e vive exclusivamente de sua arte há mais de dez anos
Crédito: Pedro Vilela

Dessa forma, a indústria criativa tem recebido a atenção do Sebrae Minas. Por meio do Fazer Criativo, a instituição busca impulsionar os negócios criativos de maneira sustentável, reforçando iniciativas para tornar a economia criativa fator determinante de desenvolvimento. “A valorização da identidade e da diversidade cultural também é um aspecto relevante nessa estratégia”, destaca Nayara.

O Sebrae Minas conta com parcerias com os setores público e privado e a sociedade civil para promover o encontro entre as artes criativas, os promotores culturais e a tecnologia. A partir da geração de novas propostas de valor e soluções práticas, as pequenas empresas e toda a indústria criativa podem encontrar formas de ampliar os resultados financeiros. Em Timóteo, por exemplo, o grupo de Empreendedorismo Cultural criado pela instituição foi o ponto inicial para que a ipatinguense Raquel Vieira, também conhecida pelo nome artístico de Flora Manga, storyteller e produtora cultural, pudesse formatar um produto comercializável e se tornar uma referência em sua área.

“Foi uma escola, porque até então, por mais que eu já tivesse feito todos os processos de abrir uma empresa, eu não conseguia vender minhas apresentações. Eu ainda não tinha um produto. A gente teve a chance de encontrar, formatar, experimentar e fazer uma prova desse produto até que ele estivesse realmente pronto para vender”, relembra a produtora, que participou da capacitação por três anos.

"Com o Sebrae Minas, aprendi a dar preço ao meu produto e a descobrir o meu valor, porque são coisas diferentes."
Flora Manga,
Storyteller

Em sua jornada no Empreendedorismo Cultural, Flora descobriu que era uma storyteller, com o dom de criar histórias para comunicar valores, conceitos e ensinamentos de forma eficaz, por meio da afetividade e da conexão. A aceitação pelas empresas locais veio com o aval de ninguém menos que Luiza Trajano, CEO do Magazine Luiza. Após ter sua palestra aberta com um storytelling criado por Flora, Luiza agradeceu e enalteceu o trabalho. “De certa forma, ela validou meu produto, me apadrinhou. As empresas começaram a me contratar”, conta.

Outro aprendizado para Flora foi sobre valorizar e precificar seu produto. “Antes da minha consultoria com o Sebrae Minas, eu não sabia qual era o meu preço. Lembro que fechei uma apresentação por um valor, com negociação, e, no fim, não sobrou quase nada para mim e os outros contadores de histórias, e ainda teve o gasto com gasolina. Eu pensei: ‘Gente, não dá. Eu preciso viver dessa arte”. Ela relata que, quando fechou a primeira palestra por R$ 5 mil e as pessoas pagaram supersatisfeitas, ela finalmente entendeu que o produto era, de fato, bom, forte.

Hoje são mais de dez anos em que a produtora se dedica exclusivamente à sua arte. Além da comercialização do storytelling empresarial, ela tem três livros infantis publicados, ministra workshops e cursos, é palestrante, desenvolve projetos de educação patrimonial e apresenta o programa A Fantástica Loja de Histórias, distribuído para plataformas de streaming, como Claro Tv, Youtube Kids, Funkids, ZooMoo e Lumine TV.

Salão de negócios

Ao longo de sete anos de realização do Minas Gerais Audiovisual Expo (MAX), o maior evento de negócios do mercado audiovisual brasileiro, inúmeros projetos em estágio de produção, coprodução e finalização foram viabilizados. Os números surpreendem: mais de 2,8 mil agendas e mais de R$ 3 bilhões em negócios foram gerados entre empreendedores e grandes empresas do setor de 18 estados do Brasil. São mais de 6 mil participantes, com média de geração de negócios por edição no valor de quase R$ 500 milhões.

Na MAX, são realizadas rodadas de negócios, painéis de capacitação, pitchings, desafios de inovação audiovisual, mostras de conteúdos e exposições artísticas. E foi na MAX de 2017 que a cineasta Elza Cataldo consolidou uma parceria com a Cineart para obter recursos, por meio da Agência Nacional de Cinema (Ancine), para a filmagem do longa As Órfãs da Rainha.

Elza Cataldo fechou parceria para a filmagem do longa As Órfãs da Rainha
Crédito: Pedro Vilela

Com mais de 30 anos atuando na indústria cultural, Elza tem no currículo a produção, o roteiro e a direção de inúmeros longas e curtas. Tem também o mérito de ser cofundadora do atual Cine Belas Artes, na década de 1990, à época chamado Belas Artes Liberdade. Seu trabalho tem uma assinatura sob o ponto de vista das narrativas femininas em contextos históricos. É o caso de As Órfãs da Rainha.

Elza conta que a partir de um primeiro patrocínio da Energisa, no início do processo, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, ela pôde desenvolver e finalizar o roteiro, conceituar a arte, o figurino, a própria direção e a linguagem do filme, além de fazer o estudo de locação e da cidade cenográfica. Com o projeto estruturado, a apresentação no pitching público, que teve a presença de grandes nomes da indústria audiovisual e da diretora da Cineart, Thais Henriques, a parceria foi fechada. “Ela marcou comigo uma reunião na semana seguinte, decidindo entrar com um projeto no Prodecine 02 da Ancine. Por isso eu falo que a MAX tem um papel muito importante para realizar um filme e minha experiência é muito positiva.”

Para Carol Silva, fundadora, sócia e produtora executiva da Limonada Content House, a MAX é um relevante gerador de networking, possibilitando o surgimento de parcerias futuras, que nem sempre serão seladas dentro da feira, mas a partir dela. Sua primeira participação foi como convidada, em 2016. Mas não parou mais, tendo possibilidade de conhecer produtores e cineastas que admirava e fazendo seu primeiro pitching em 2018.

Em 2020, após a apresentação de uma ideia de uma série distópica, chamada Bandoleiras, Carol foi atrás de uma parceria com uma de suas preparadoras, a produtora da Têm Dendê Vânia Lima. O resultado de sua proatividade veio recentemente, em maio de 2023, com a aprovação no edital do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), com coprodução da Têm Dendê. “Foi um encontro que a MAX me proporcionou”, reconhece.

Carol Silva é fundadora, sócia e produtora executiva da Limonada Content House
Crédito: Pedro Vilela

Novos rumos
O ano 2022 foi um marco para a reestruturação da estratégia de comunicação da MAX e da economia criativa do Sebrae Minas com o público-alvo, proporcionando o engajamento da audiência e a qualificação dos empreendedores culturais. “Queremos tornar o evento cada vez mais reconhecido, como uma das principais ações voltadas ao setor no Brasil”, afirma Nayara Bernardes.

Para este ano, o foco é a inclusão dos elos da literatura e da música ao setor audiovisual, ampliando ainda mais os negócios mineiros da economia criativa à forte atividade econômica do cinema. “Essa ação consolida a estratégia de ampliar a abordagem da MAX para toda a economia criativa, fortalecendo o audiovisual e cadeias adjacentes”, acrescenta.

Fique ligado

A 8ª edição da MAX será realizada de 7 a 9 de novembro, na sede do Sebrae, em Belo Horizonte. Acompanhe as novidades aqui.

Minas Literária integra educação, cultura e turismo

Dentro da estratégia de fortalecer a cadeia produtiva do livro e incentivar a leitura como atividade da economia criativa, o programa Minas Literária, criado em uma parceria entre o Governo do Estado e o Sebrae Minas, propõe uma abordagem transversal entre educação, cultura e turismo. O investimento inicial do Governo do Estado será de R$ 9 milhões nos próximos dois anos. “O programa será realizado em todas as regiões do estado, incluindo a criação da Rede de Bibliotecas Integra Gerais, implementação da biblioteca digital, criação do selo Minas Literária, entre outras ações”, informa Nayara Bernardes.

Entre as ações previstas, o Sebrae Minas atuará no estímulo à cadeia produtiva do livro, a exemplo do projeto Meu Negócio é Literatura, que visa à aceleração da cadeia produtiva do livro, com foco no empreendedorismo criativo. “Para isso, bibliotecas públicas serão usadas como espaços de rodadas de negócios, contribuindo para novas soluções de geração de renda”, conta a analista. Outra ação prevista para 2024 é a realização de um pitching editorial dentro da MAX.