Histórias de Sucesso

Estratégia de Origem

Doce conquista

Mel de aroeira do Norte de Minas recebe Indicação Geográfica na modalidade Denominação de Origem


Ana Cláudia Vieira e Fernanda Pereira

Júlio César Pereira produz 800 quilos de mel por ano

No Cerrado do Norte de Minas, floresce uma espécie de árvore que renova a esperança de prosperidade para os apicultores da região. Trata-se de um tipo de aroeira, vegetação típica de locais com clima árido e baixos índices de chuvas, da qual abelhas retiram insumos para a produção de mel. Rico em compostos com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana, características que o diferem de outros tipos produzidos a partir de espécies vegetais, o mel de aroeira do Norte de Minas conquistou, em fevereiro, o registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Denominação de Origem (DO), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) – um marco para a valorização do produto e a conquista de novos mercados.

Por ser muito escuro, de cor âmbar forte, o mel de aroeira já foi considerado de pouco valor comercial. Porém, quando pesquisas apontaram as suas propriedades terapêuticas, os produtores passaram a se empenhar para agregar ainda mais valor a ele. E, desde 2017, o Sebrae Minas tem contribuído diretamente para esse esforço e a busca da concessão da DO, apoiando a Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas (Coopemapi).

O analista do Sebrae Minas Walmath Magalhães conta que o levantamento dos fatores naturais e dos processos que conduzem a produção do mel de aroeira levou quatro anos. “Paralelamente, a Coopemapi realizou um trabalho de sensibilização dos produtores, para que seguissem corretamente as etapas de obtenção do produto, incentivando a participação em eventos do setor”, informa.

O presidente da cooperativa, Luciano Fernandes de Souza, ressalta que o processo de caracterização e valorização do mel de aroeira foi intenso. “Os esforços incluíram uma pesquisa ampla para analisar o pólen, o néctar e o solo da região, a fim de identificar a qualidade dos compostos fenólicos e os 64 municípios onde o produto pode ser encontrado.”

Controle de qualidade

Para Luciano, com a conquista da IG, o principal desafio é dar continuidade ao trabalho de conscientização para manter o modo de produção. “Só assim conseguiremos um produto com qualidades e características oriundas do meio geográfico”, adverte.

Entre as técnicas utilizadas para garantir a pureza e a qualidade do mel estão a identificação e a separação do produto de acordo com as floradas. Isso porque a região também produz outras variedades silvestres de mel silvestre, como o de pequi, o de café, o de velame e o de betônica, cada um em uma fase do ano. “Além de permitir a diferenciação entre eles, o cuidado com as técnicas de manejo previne a contaminação por possíveis fontes próximas do apiário, como criações de animais confinados, resíduos e efluentes domésticos”, explica Luciano. Ele acrescenta que tanto o mel de aroeira quanto os demais são livres de contaminações químicas e biológicas indesejáveis.

Produtores já nota o maior reconhecimento do mel de aroeira após a obtenção da IG

Negócio familiar

A apicultura é fonte de emprego e renda para cerca de 1,5 mil famílias no Norte de Minas, e há quase 5 mil pessoas envolvidas na atividade. O volume de mel de aroeira produzido é de 150 toneladas anuais, grande parte concentrada no município de Bocaiuva, que se posiciona em terceiro lugar no ranking dos maiores produtores do Estado.

Júlio César Pereira conta que sua história com o mel começou por acaso e, hoje, o apiário produz 800 quilos do produto da aroeira por ano. “Participei de um curso de apicultura na região, enquanto estava de férias da siderúrgica onde trabalhava, e me interessei muito pelo que vi. Depois, meu cunhado me presenteou com uma colmeia, tomei gosto pela atividade e comecei a produzir aos poucos.”

A apicultura ainda é uma atividade secundária para Júlio, que tem como ocupação principal o trabalho como técnico agrícola, prestando consultoria para alguns apicultores da região. A renda obtida com a produção do mel já é, no entanto, vital para o orçamento familiar. “Hoje, minha família toda também trabalha com a produção do mel, e nossa expectativa é aumentar cada vez mais nossa dedicação, à medida que a demanda pelo produto aumentar”, afirma, dizendo-se muito confiante quanto aos resultados decorrentes da IG. “Ainda estamos trabalhando alguns pilares, mas tem sido uma experiência muito bacana manter contato com produtores de outras regiões para trocar conhecimentos e experiências”, diz Júlio.

Apesar de a conquista da IG ser recente, o apicultor já maior reconhecimento do mel da região. Para ele, o apoio dado pelo Sebrae Minas tem sido decisivo para isso. “Vai muito além da obtenção do selo, há orientações para ações de marketing, formulação de embalagem e rótulos, formação de preço e outras”, conta.

Estamos estudando meios para incentivar o consumidor a conhecer o mel de aroeira

Luciano Fernandes de Souza
Presidente da Coopemapi

Mais mercados

A Indicação Geográfica na modalidade Denominação de Origem é conferida a regiões que passaram a ser reconhecidas pela oferta de produtos ou serviços cujas características se devam exclusivamente ao meio geográfico, o que atribui a eles reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos similares disponíveis no mercado. No caso do mel de aroeira do Norte de Minas, o apicultor precisa submeter o produto a análises que comprovem seu vínculo com o território. Com os investimentos feitos em tecnologia e capacitação das equipes, a Coopemapi consegue realizar, em sua própria estrutura, as análises necessárias e o envasamento do mel produzido pelos cooperados.

Outro ponto que concentra os esforços da cooperativa atualmente é a estratégia de marketing. “Estamos estudando meios para incentivar o consumidor a conhecer o mel de aroeira”, afirma Luciano. E o Sebrae continua apoiando o trabalho. “Nossa missão é ajudar a consolidar o produto como um item orgânico, com princípios ativos que ajudam no tratamento de problemas relacionados à gastrite e na cicatrização, e cuja produção gera mínimo impacto ambiental, colaborando também para a geração de emprego e renda para milhares de famílias do Norte de Minas”, acrescenta o analista do Sebrae Minas Walmath Magalhães.

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