Histórias de Sucesso

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OPORTUNIDADE PARA OS PEQUENOS CRIADORES

Sebraetec FIV oferece acesso subsidiado a processo de melhoramento genético do rebanho bovino


Lucas Alvarenga

Após o Sebraetec FIV, Francisco (na foto) e os irmãos comemoraram: uma única novilha chegou a render 22 litros de leite em um dia

O peão pastoreia o rebanho como quem conduz um “trem de gado” em marcha lenta. Ele sabe: é preciso guiar as vacas para a ordenha. Ao longe, uma bruma branca – clara como o leite – toma conta do Cerrado, de onde se avista parte das Gerais. É nessa imensidão de terra que está a quarta maior população bovina do país, formada por 22,2 milhões de cabeças de gado, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal 2020, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 310 mil fazendas mineiras dedicam-se à pecuária de leite ou de corte, de acordo com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), e, em muitas delas, o crescimento natural do rebanho tem dado lugar à fertilização in vitro (FIV).

O processo funciona assim: o veterinário aspira o oócito primário – o óvulo antes da fecundação – de uma vaca doadora. Depois, encaminha o material a um laboratório, para que a maturação dê origem ao óvulo. Em seguida, fecunda a célula e gera um embrião, que é implantado em uma vaca comum. “O fruto dessa barriga de aluguel é uma ‘pedra preciosa‘. É um animal de patamar genético que um pequeno produtor rural jamais ousou ter”, orgulha-se o diretor técnico do Sebrae Minas, João Cruz Reis Filho.

Esse sonho, materializado em forma de prenhez, tornou-se uma realidade para muitos produtores desde setembro de 2019, com o início do Sebraetec FIV. Embora já existisse em outros estados, o programa ganhou uma versão aprimorada ao ser encampado pelo Sebrae Minas. Segundo o diretor técnico, a instituição solicitou que o Sebrae Nacional estabelecesse requisitos de qualidade genética para que os doadores se situassem acima da média da raça. O pedido foi acatado, e o resultado tem sido visto no campo.

Engenheiro agrônomo e doutor em Genética, João Cruz acredita que o melhoramento genético do gado proporciona o que ele chama de “efeito locomotiva” nos negócios. “Quando um produtor rural introduz um animal geneticamente superior na sua propriedade, ele logicamente redobra os cuidados com a nutrição, o manejo e a sanidade, para que aquele animal expresse seu potencial. Com isso, o programa se torna um agente indutor da transformação do campo, aumentando a produtividade e a lucratividade nas propriedades”, analisa.

Custo-benefício

A FIV também altera outros fatores de produção. Com um rebanho geneticamente superior, o criador pode entregar ao mercado a mesma quantidade de carne ou leite com um menor número de bovinos, uma opção que diminui a pressão tanto por mais recursos naturais quanto pela expansão de área, comum à pecuária extensiva. Em outro cenário, o proprietário rural pode elevar a produção com a mesma quantidade de animais, fazendo com que a rentabilidade cresça.

Atento ao contingente de 600 mil micro e pequenos negócios rurais no estado, o Sebrae Minas chegou a subsidiar o custo da fertilização in vitro em 80% durante o auge da pandemia de Covid-19. Atualmente, a entidade subvenciona 70% do valor. “A cadeia pecuária funciona em um sistema de pirâmide. Na base está a maioria dos criadores; no topo, quem faz a seleção e o melhoramento genético. O Sebraetec FIV dá chance ao pequeno e médio produtor de sonhar com aquele material, de quem está no topo, porque o programa é subsidiado”, ressalta João Cruz.

O produtor José Avilmar Lino cruza vacas Gir com touros da raça holandesa via FIV

Só no ano passado, o programa beneficiou 1.150 produtores vinculados às nove regionais do Sebrae no estado, por meio de 18 mil embriões implantados. Além da capilaridade, a iniciativa se destaca pelo bom retorno de fecundidade das matrizes, como são chamadas as receptoras. A taxa de prenhez das vacas atingiu 41%, índice superior à média do mercado, segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária, órgão que avalia o cumprimento dos requisitos pelos mais de 30 laboratórios credenciados ao programa e registrados no Ministério da Agricultura.

Fertilização in vitro melhora a qualidade genética do rebanho

A parceria do Sebrae Minas se estende a outras entidades, como Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado Minas Gerais (Emater-MG), cooperativas de crédito e de produção, sindicatos rurais, cooperativas, associações de produtores e criadores de gado e prefeituras. Além disso, para acelerar a prestação de serviço e atender às áreas mais carentes, o Sebrae tem cadastrado novos laboratórios, inclusive fora do estado.

Consolidado no mercado, embora tenha apenas dois anos de atividades em Minas, o Sebraetec FIV segue em evolução. Segundo João Cruz, a iniciativa ainda deve alcançar a genotipagem dos rebanhos. "Geneticamente, é possível produzir um queijo de mais qualidade melhorando os componentes do leite. Há estudos que mostram como a beta-caseína A2A2 – uma proteína predominante nos rebanhos zebuínos – pode contribuir para a melhor digestão de lácteos, enquanto a kappa-caseína e a beta-lactoglobulina têm potencial para elevar o rendimento queijeiro."

Atitude pioneira

Em média, 85 em cada 100 FIVs realizadas no estado são destinadas a rebanhos de gado leiteiro. A primeira ocorreu na fazenda de Willer Martins, que possui uma propriedade de médio porte a 20 quilômetros de Carlos Chagas, no Vale do Mucuri. Ele produz leite na região há mais de duas décadas, mas só alcançou a marca de 2 mil litros por dia há pouco mais de dois anos, quando soube que o Sebraetec FIV atendia pequenos e médios produtores em Minas Gerais.

Desde então, Willer já aderiu ao programa em três ocasiões. Na primeira, seu rebanho atingiu um índice de prenhez de 31%; na segunda, o percentual subiu para 52%. Agora, o criador espera pelos resultados da terceira fertilização in vitro, cujas prenhas devem parir em janeiro de 2023. “Com as bezerras entrando no primeiro cio entre outubro e novembro, teremos um gado melhorado geneticamente, o que elevará a qualidade do leite produzido”, acredita.

O produtor indica que o custo do projeto em comparação aos preços praticados pelo mercado foi um grande atrativo. “Se você procurar outras iniciativas, vai gastar quase R$ 1 mil por embrião sexado. Pelo Sebraetec FIV, esse valor cai bastante. Dessa forma, o pequeno ou médio produtor consegue ter um rebanho de qualidade, produzir um leite com mais valor e gerar renda”, avalia Willer.

Sucesso reprodutivo

Há 25 anos, o ginecologista e obstetra José Avilmar Lino da Silva concilia a carreira de médico com a rotina de produtor rural em Martinho Campos, a 197 quilômetros da capital mineira. Ciente dos benefícios da reprodução assistida para o melhoramento genético do rebanho, o criador investe na fertilização in vitro desde 2000, cruzando vacas Gir leiteiro com touros da raça holandesa.

Em média, 85 em cada 100 FIVs realizadas em Minas são destinadas a rebanho de gado leiteiro

Há dois anos, ele aderiu ao Sebraetec FIV. Além da redução de custo no processo, José Avilmar descobriu a possibilidade de utilizar todas as matrizes da fazenda como receptoras. “Antes, só usávamos as novilhas que nunca haviam emprenhado, produzindo 90 embriões por ano. Com o Sebrae, tivemos 197 prenhezes, 183 de fêmeas”, enumera.

Dessa forma, José Avilmar pôde disponibilizar parte das novilhas para o mercado, aumentando a renda da fazenda. Esse recurso ajuda na manutenção das despesas e retorna na forma de novos investimentos em FIV. Ele prevê que, a partir de 2023, a produção de leite praticamente dobrará – chegando a 4 mil litros por dia – e que mais 150 fêmeas serão disponibilizadas.

Incremento de renda

A melhoria de produtividade do gado leiteiro atraiu os olhares dos irmãos Eduardo, Francisco, Marilza e Marina Ferreira, de Morro da Garça, na região Centro-Oeste de Minas. Há duas décadas atuando como criadores, eles não só realizam a FIV, como participam do Educampo Leite – consultoria gerencial do Sebrae Minas que gera, organiza e disponibiliza dados reais para que produtores tomem as melhores decisões na sua propriedade.

Realizados com o Sebratec FIV, os irmãos se gabam de uma de suas novilhas ter dado 22 litros de leite em um dia, graças ao apoio recebido por meio do programa. “É uma potência de gado, registrado e melhorado geneticamente. Antes, tivemos outras experiências com FIV, que deram uma taxa de prenhez de 20%. Com o Sebrae, já chegamos a 55% de gestações em um dos três processos que fizemos”, conta Francisco Ferreira.

Com a produção adquirida pela Nestlé, graças à parceria com o Educampo, os produtores já se preparam para dar um salto: após ajustes no fornecimento de água e suprimentos aos animais e a ajuda da FIV, eles esperam que o volume de leite ordenhado atinja 2 mil litros por dia. “Com mais novilhas a caminho, o faturamento da fazenda deve crescer de 30% a 40%. São cem vezes mais do que há 20 anos, quando começamos”, compara Francisco.

Geraldo obteve um grande sucesso com a FIV: 80% de taxa de prenhez