Histórias de Sucesso

Pecuária

ESTRATÉGIAS PARA TODOS OS CENÁRIOS

Capacitação e planejamento são as chaves para produtores de leite enfrentarem as constantes oscilações do mercado


Ennio Rodrigues

“Quem não se profissionalizar, não vai conseguir se manter no negócio.” A afirmação é de Ricardo Lacerda de Oliveira, produtor de leite do município de Marilac, no Vale do Rio Doce. Há mais de 14 anos, ele lidera a produção da Fazenda Santana. Dos 320 hectares da propriedade, 136 são voltados para a produção de leite, 2,2 mil litros por dia, em média.

De acordo com Ricardo, o improviso na produção de leite é uma realidade ultrapassada. “O setor leiteiro sempre aceitou o amadorismo, mas essa dinâmica mudou, e isso é um caminho sem volta”, analisa. Foi a profissionalização que permitiu que ele enfrentasse as crises ao longo do tempo em sua fazenda, como a que marcou o último biênio.

Os anos de 2022 e 2023 foram desafiadores para os produtores de leite no Brasil. Diversos fatores ameaçaram a sustentabilidade dos negócios: o custo dos alimentos subiu significativamente, e o aumento da importação de leite derrubou os preços pagos aos produtores nacionais. Segundo a Embrapa, entre janeiro e novembro de 2023, as importações brasileiras de lácteos ficaram próximas de 2 bilhões de litros de leite, o que equivale a uma média mensal de cerca de 180 milhões de litros.

Ricardo Lacerda produz 2,2 mil litros de leite por dia em sua fazenda
Crédito: Pedro Vilela

Para superar os momentos difíceis, produtores de leite de Minas Gerais investiram em planejamento e gestão, com redução de custos, manutenção de um bom fluxo de caixa e diversificação das receitas. É o caso de José Arnaldo Orlandi Pereira, proprietário da Fazenda Campos Bocaina, propriedade de 140 hectares próprios, com 240 hectares arrendados, localizada no município de Passos, no Sul de Minas. Lá, José Arnaldo registra produção anual de 1,08 milhão e de 80 mil litros de leite, com média diária de 3 mil litros.

Para diversificar, investe na produção de milho, soja, granja de suínos, gado de corte e ovinocultura. Mas o produtor destaca que a boa gestão da propriedade foi o que realmente permitiu que ele se mantivesse de pé. “O maior problema é que muitos produtores não trabalham a gestão financeira. E, se não tiver gestão, eles vão acabar saindo do mercado”, analisa. Ter uma visão geral do negócio, desde a dieta mais adequada para os animais até a venda da produção, e entender as melhores formas de reduzir custos são consideradas parte dessa gestão financeira sustentável por José Arnaldo.

Essa perspectiva também é compartilhada por Ricardo Lacerda. “Ter uma visão estratégica, saber a hora certa de comprar, fazer um bom planejamento, pensar o relacionamento com clientes, com a mão de obra, tudo isso mudou minha propriedade”, explica.

Capacitação via Educampo

Tanto José Arnaldo quanto Ricardo Lacerda participam do Educampo, plataforma de gestão do Sebrae Minas que conecta pessoas, conhecimento e tecnologia em um ecossistema colaborativo para desenvolver e impulsionar o agronegócio. Os produtores de leite e café têm acesso a consultores especializados para trocas de conhecimentos focadas em suas propriedades, recebendo informações exclusivas e estratégicas, além de análises integradas que permitem construir o planejamento estratégico do negócio.

O Educampo Leite está presente em mais de 200 municípios de Minas Gerais. “A gestão é, sem dúvida, parte da chave do sucesso de um produtor, e é nessa linha que o Educampo atua, capacitando produtores e parceiros, utilizando hábitos e rituais aliados à tecnologia para que o ato de gerenciar seja simples e inspirador”, resume Expedito Netto, analista do Sebrae Minas.

Os próprios participantes do Educampo afirmam que o trabalho de convencimento dos produtores não é algo simples. “Há resistência quando chega alguém querendo mudar as coisas, foi assim comigo também”, relembra José Arnaldo sobre as primeiras conversas com o consultor do projeto. “Mas, com quatro ou cinco meses, você já vê resultados. A mudança é muito rápida. Hoje em dia, não me vejo sem a troca com o consultor.”

Ricardo Lacerda afirma que o Educampo foi essencial para transformar a sua propriedade. “Com o projeto, consegui elaborar um planejamento estratégico para o negócio, entender alternativas de redução de custos da produção e perceber indicadores que ajudam a tomar as melhores decisões. Quem tiver a oportunidade, tem que participar mesmo”, aconselha.

Além da pecuária leiteira e de corte, José Arnaldo produz milho e soja e tem granja de suínos e ovinocultura em sua propriedade
Crédito: Pedro Vilela

Na alta

Assim como as decisões em momentos desafiadores, de escassez de recursos, podem trazer impactos, também é preciso estar atento a como agir no cenário oposto, de maior disponibilidade de capital. Para José Arnaldo, nada de relaxar na bonança. “Tendo sobra, você precisa diluir o endividamento, pois é esse recurso que pode te salvar em um aperto futuro”, aconselha.

Outra estratégia defendida por Ricardo é guardar o excedente de boas vendas para garantir poder de compra de insumos necessários quando estiverem com os melhores preços. Tudo, claro, dentro do planejamento. “Se eu puder, compro à vista e fujo de juros”, conta.

Especialistas e produtores concordam que o planejamento é um diferencial competitivo. “Os produtores rurais frequentemente reagem de maneira imediatista às flutuações de mercado, tomando decisões que nem sempre estão alinhadas com as necessidades reais do negócio”, avalia Expedito. Por isso, seja nos momentos de preços baixos, seja nas horas que houver sobra de caixa, o planejamento de longo prazo é essencial. “O que for mal feito hoje, vai impactar o resultado futuro: menos vacas para parir, score baixo da produção. É preciso ter o pé no chão: fluxo de caixa equilibrado e compras planejadas”, explica Ricardo de Oliveira. De Passos, José Arnaldo faz coro: “O tempo vai concretizando as coisas que você plantar hoje, tem que ter paciência e ser persistente”.

É o foco no longo prazo que permite aos produtores ter menos desgastes com as oscilações do mercado e mais sustentabilidade para o negócio. “Com uma estratégia bem definida, é possível transformar períodos de crise em oportunidades de crescimento, assegurando que a propriedade prospere, independentemente das condições de mercado”, afirma Expedito Netto

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