Histórias de Sucesso

Cooperação

PEQUENOS NEGÓCIOS UNIDOS

Atuação conjunta gera crescimento e melhores resultados para cafeicultores do Sul de Minas e lojistas do Vale do Rio Doce


Laura Baraldi

Participação, solidariedade, união e cooperação por objetivos comuns: essa é a síntese do associativismo, uma maneira de grupos atuarem de forma conjunta em busca de soluções que vão beneficiar a todos. O modelo é adotado por diversos setores e, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Brasil possui cerca de 4,7 mil cooperativas, com mais de 20,4 milhões de cooperados. Especificamente no setor agropecuário, a OCB indica que há 1.185 cooperativas no país, responsáveis por cerca de 24,79 % do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário.

Minas Gerais tem cooperativas e associações relacionadas ao agronegócio em todo o estado. O Sebrae Minas, em parceria com a Organização das Cooperativas de Minas Gerais (Ocemg), oferece suporte e orientação para que os pequenos negócios usufruam dos benefícios do cooperativismo.

No Sul do estado, a Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Serra dos Borges (Aprosb), de Santa Rita do Sapucaí, e a Associação dos Produtores de Cafés Especiais do município de Monte Belo contaram com o apoio da instituição em ações recentes e bem-sucedidas. E, no Vale do Rio Doce, a Rede Super Rural, que reúne lojas de produtos agropecuários, também obteve êxito após as ações da instituição.

Capacitação e lucratividade
O presidente da Aprosb, Donésio Silvério, acompanha desde a infância a tradição familiar de mais de 50 anos no cultivo do café. Antes, sem muita ajuda, a família vendia a produção apenas para conhecidos. Mas tudo mudou com as atividades promovidas pelo Sebrae Minas para estimular os melhores resultados dos pequenos negócios do setor. “Conhecemos muitas coisas novas e pudemos nos aprimorar. Por exemplo, fizemos cursos e começamos a praticar análises sensoriais e degustação de café. Também aprendi sobre a torra, o que foi fundamental para melhorar ainda mais nosso café”, lembra.

Em 2020, Donésio e os demais associados da Aprosb estavam insatisfeitos com o cenário econômico e com a baixa valorização do café. Então, novamente procuraram o Sebrae Minas em busca de apoio para fortalecer o grupo de 18 cafeicultores e a economia da Região da Serra dos Borges. Uma parceria entre a instituição e o Sicredi viabilizou a contratação de um consultor para fazer o primeiro diagnóstico da capacidade cooperativa do grupo. O trabalho começou com a imersão dos cafeicultores no curso Cultura da Cooperação. “A meta era facilitar o desenvolvimento do grupo, aumentando sua habilidade de agir cooperativamente e atingir objetivos comuns com base nos princípios da cooperação. Criamos um ambiente de convivência mediado por um consultor, que auxiliou os membros a superar conflitos e construir consensos”, explica a analista do Sebrae Minas Myrian Sousa.

Tadeu Sequalini, vice-presidente da APCEMB, Reginaldo Oliveira, presidente, e produtores associados: atuação em grupo

A ação mostrou que o grupo estava engajado e apto a assumir desafios coletivos. “Na troca que surgiu, novas demandas se apresentaram, como a comercialização em grupo, as compras conjuntas e a profissionalização dos produtores. Em uma nova reunião, apresentamos a possibilidade de sequência dos trabalhos por meio do Programa Central de Negócios, e a Aprosb aderiu à ação”, explica. A central de negócios foi lançada em abril e, desde então, a associação comercializa cafés de alta qualidade, obtendo maior lucratividade por lavoura e expandindo sua atuação.

“Sem a cultura da cooperação e a central de negócios, não teríamos conseguido unir todos os cafeicultores”, destaca Donésio. O trabalho coletivo envolve colheitas conjuntas e um rigoroso controle financeiro. “Anotamos tudo e temos um tesoureiro, que controla os dados em uma planilha. No final da safra, temos uma reunião geral para mostrar o que produzimos, ganhamos e gastamos.” Com comissões específicas para compras, vendas e administrativo, a organização trouxe economia significativa. “Nós economizamos mais de R$ 200 mil com a compra coletiva de adubo, pagando cerca de R$ 30 por saco. Foi uma redução de 14% em relação à compra individual”, conclui o cafeicultor.

Cafeicultores da Associação dos Produtores de Cafés Especiais da Serra dos Borges: grupo conseguiu uma economia significativa com as compras conjuntas
Crédito: Pedro Vilela

Tradição e inovação

Reginaldo de Oliveira é da terceira geração de produtores de café de sua família e carrega com orgulho a tradição iniciada por seu avô, em meados de 1930. Mesmo depois de décadas, ele segue produzindo café em Monte Belo, com a ajuda da esposa e do enteado. Em 2017, a família decidiu dar um passo ousado e focar a produção de cafés especiais. “Trabalhar em família é a nossa força, e sempre buscamos inovação e melhorias. Não é fácil, mas é possível para quem deseja”, conta.

A transição para cafés especiais foi impulsionada pela necessidade de agregar valor e melhorar a qualidade do café e da vida dos produtores locais. “Antes, nós produzíamos café, mas faltavam conhecimento e oportunidade, principalmente por sermos pequenos produtores. Não tínhamos reconhecimento e apoio do mercado do agronegócio”, explica. A virada de chave veio com a formação da Associação dos Produtores de Cafés Especiais de Monte Belo (APCEMB), que proporcionou a atuação em grupo, agregando valor ao produto, além de acesso a apoio técnico e comercial.

Um dos grandes atores nessa jornada foi o Sebrae Minas. A analista da instituição Adaiby Gonçalves relata que, no início, os cafeicultores da região estavam desorganizados, preocupados em vencer os desafios do setor individualmente. Eles enfrentavam um alto custo de produção e não conheciam o alto potencial do café que cultivavam. “Sensibilizamos aproximadamente 40 cafeicultores de agricultura familiar para a formação do grupo e, após quase dois anos de trabalho, em 2019 e 2020, foi constituída a associação”, lembra.

A partir de então, o Sebrae Minas ofereceu cursos, palestras, consultorias, dias de campo na abertura das safras, além de apoiar concursos de qualidade de café e rodadas de negócios. Atualmente, o grupo está forte e organizado como uma cooperativa para realizar a comercialização coletiva”, explica Adaiby.

O objetivo principal do grupo é reduzir os custos de produção, melhorar cada vez mais a qualidade do café produzido, atingindo pontuações de cafés especiais, e comercializar esses cafés a preços mais justos e superiores aos valores pagos por commodities. Com uma visão otimista, Reginaldo vê um futuro promissor para os produtores de café especiais. “Eu sempre acredito no impossível e vejo o invisível. As dificuldades nos fortalecem para seguirmos adiante”, conclui.

Força coletiva

Em 2017, dez empresários do setor agroveterinário do Vale do Rio Doce uniram seus negócios e formaram a Rede Super Rural, central de negócios que somava 12 lojas em 12 municípios da região. O grupo acessou a metodologia da cultura da cooperação do Sebrae Minas e conheceu outras soluções, além de participar de missões técnicas. “Os resultados foram a padronização das lojas e a adoção de uma estratégia unificada, com aumento expressivo no faturamento e aprimoramento do modelo de gestão”, diz o analista do Sebrae Minas Claudinei Gomes.

No ano passado, o Sebrae Minas apoiou novamente a Rede Super Rural, agora em sua expansão: seis novos empresários foram preparados para integrar a cooperativa, que passou a contar com 18 lojas. Atual presidente da Rede Super Rural, Gustavo Vilela destaca que o cooperativismo se mostrou uma poderosa ferramenta para realizar projetos. “A união de pessoas em torno de um objetivo comum faz com que barreiras sejam transpostas e desafios vencidos, pois todos estão comprometidos com o sucesso”, ressalta.

Gustavo afirma que houve intensa dedicação do grupo, em 18 meses de reuniões mensais com um consultor do Sebrae Minas em Guanhães. “Muitos membros viajavam quilômetros, deixando suas famílias e empresas por dois dias, dedicando-se integralmente ao processo. Essa experiência culminou na criação da rede e formou um grupo unido e coeso.” As missões para visitar empreendimentos similares, como a Agro Rede, em Santa Catarina, e a Rede do Campo, em Alfenas, no Sul de Minas, foram muito relevantes. “Vivenciamos os desafios, erros e acertos de cada uma, o que nos deu um importante direcionamento e motivação para seguir com a caminhada”, conta.

A Rede Super Rural prepara uma nova expansão, com dez novas lojas

O empreendedor confirma que a evolução das empresas e dos sócios é evidente. “Novos produtos e serviços são ofertados em nossas empresas e, por meio das compras conjuntas, conseguimos melhores negociações, obtendo preços menores, que agregam valor ao negócio do nosso cliente”, pontua Gustavo. E os planos continuam com força total: a meta é construir um grande centro de distribuição com uma área de 7.700 m² em Guanhães. “Estamos fazendo novas parcerias com grandes players do mercado e preparando uma nova expansão, que deve incluir dez novas lojas”, finaliza Gustavo.

Empreendedores da Rede Super Rural, do Vale do Rio Doce
Crédito: Arquivo pessoal