Histórias de Sucesso

Capital Inovador

Na trilha dos investimentos

Startups de Minas Gerais já captaram mais de R$ 10 milhões em aportes com o apoio do Sebrae


Alessandra Ribeiro

Quando fez o primeiro investimento na startup Datta Büsiness, em 2020, ainda no início da pandemia de covid-19, a CEO Cintia Gontijo não poderia imaginar que, apenas dois anos depois, a empresa seria reconhecida como Negócio de Destaque no programa Capital Empreendedor, do Sebrae. Mais que isso, Ci Gontijo, como é conhecida, tornou-se a primeira liderança feminina e também a representante da primeira empresa mineira a alcançar tal feito.

Big Data é a área do conhecimento que estuda como tratar, analisar e obter informações a partir de conjunto de dados muito grandes.

A Datta Büsiness é uma martech, ou seja, uma empresa que oferece soluções tecnológicas direcionadas para o marketing. Na era do Big Data, um dos diferenciais é ter nos dados o seu principal pilar. “Essa é uma demanda do mercado, e temos poucos concorrentes diretos”, afirma. A clientela é formada por empresas de pequeno e médio porte, que faturam em média R$ 1 milhão por ano. A missão é possibilitar a expansão digital dos negócios ao oferecer soluções como análise de dados, estratégias direcionadas e sugestões de anúncios.

Formada em Jornalismo e Relações Públicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ci atuou por quase dez anos no mercado de shopping centers, na gestão de fundos de investimento em marketing aplicado ao varejo. De 2017 a 2019, fez um mestrado na Universidad de la Empresa (UDE), no Uruguai, onde mergulhou no universo das startups. Após uma primeira experiência no segmento, ela teve o apoio dos engenheiros Fernanda Pimentel e Marcos de Freitas e da gestora comercial Stephaníe Palma para fundar a Datta Büsiness. “Acredito que o destaque obtido no programa Capital Empreendedor se deve exatamente à diversidade do corpo dos sócios- fundadores”, avalia.

 

Capital Empreendedor

Startups são empresas de base tecnológica focadas na inovação e têm características que as diferenciam de modelos de negócio tradicionais. “Pelo próprio potencial de crescimento rápido, de atingir um público maior, com soluções escaláveis, hoje elas são muito importantes para o país”, afirma o analista do Sebrae Minas Igor Silva. Ele explica que a instituição atua desde a pré-ideação do negócio até a sua aceleração, processo que requer a injeção de recursos financeiros. “O Sebrae entra com a capacitação para a busca de investimentos, de modo que a captação, seja por meio de terceiros, caso do venture capital (capital de risco), ou por outros caminhos, possa ser facilitada”, detalha.

Até chegar ao Ciclo de Investimentos, etapa final do programa Capital Empreendedor, as startups cumprem uma jornada. Na quinta edição do programa, em 2022, a segunda realizada em Minas Gerais, foram 936 startups inscritas em todo o Brasil, das quais 360 foram pré-selecionadas para a fase de mentorias e 60 se apresentaram para investidores reais. “Existem riscos inerentes à atividade das startups, e, muitas vezes, instituições financeiras tradicionais não aportam recursos”, observa Igor. Ainda segundo ele, muitas startups, inclusive, se veem obrigadas a encerrar suas atividades, o que é natural, já que negócios inovadores são, via de regra, mais arriscados. “É onde entra o investidor de risco, que acredita no negócio e no potencial dos empreendedores, exatamente pelo fato de enxergar um crescimento futuro.”

Dados de uma pesquisa realizada pelo Sebrae Minas mostram que, para 93,8% das startups participantes, o Capital Empreendedor foi importante na trajetória do negócio. Além disso, 43,8% afirmaram estar em negociação com possíveis investidores, e 18,8% já receberam investimento após o programa. Outro dado de destaque é que, entre as startups que responderam à pesquisa, seis afirmaram que o faturamento cresceu entre 100% e 500%.

Ci Gontijo confirma que houve “um antes e depois do Capital Empreendedor”. Isso porque, a cada etapa concluída, além de ganhar visibilidade, a empresa acelerava seus processos. “Não é possível mensurar financeiramente o que seria contratar o que recebemos. Os acessos, os investidores, os canais, nem se pudéssemos pagar, conseguiríamos falar com aquelas pessoas”, diz. Ela conta que, há um ano, eram três funcionários na equipe. O número já chegou a 12, e a expectativa é que sejam pelo menos 40 até o final de 2023, todos trabalhando remotamente, em diferentes estados do Brasil: Alagoas, Amazonas, Ceará e São Paulo, além de Minas Gerais.

93,8% das startups participantes consideram que o programa foi importante na trajetória do negócio

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Protagonismo feminino

Ci Gontijo destacou-se no Capital Empreendedor como liderança feminina
Crédito: Arquivo pessoal

Um dos destaques da edição de 2022 do Capital Empreendedor foi a participação expressiva de mulheres como founders – quase 50% do total –, além da premiação Negócio Destaque para uma empresa com liderança feminina. “Como empreendedora de tecnologia, você começa a ver outras mulheres e vários cases de sucesso como inspiração”, comemora Ci Gontijo. Para ela, que tem experiência em outros mercados, o ambiente das startups é mais incentivador para a liderança feminina. “Pressupõe que você possa ter rotinas diferentes. Exemplo disso é que, às vezes, os empreendedores não cumprem horário formal. Mas, ainda assim, o cenário é mais difícil para as lideranças femininas”, ressalta.

Apesar dos obstáculos, o protagonismo feminino tem se imposto. “É uma tendência ter cada vez mais mulheres em posição de liderança. Elas estão empreendendo em negócios inovadores e estão assumindo mais lugares”, constata Igor Silva.

Primeiro cheque

A Checkbits, de Leandro Rodrigues, conseguiu o primeiro aporte em janeiro de 2023
Crédito: Arquivo pessoal

Sediada em Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, a Checkbits foi uma das 50 startups selecionadas na etapa nacional do programa Capital Empreendedor em 2021. No ano seguinte, ganhou o status de empresa, com CNPJ próprio, oferecendo um checklist digital para clientes dos setores da indústria, do comércio e de serviços.

“A Checkbits oferece soluções para digitalização e otimização de processos de auditorias, vistorias e criação de padrões operacionais para empresas. Atuamos em inspeções de qualidade, segurança, manutenção, equipamentos e até mesmo com padrões de atendimento para lojas, no varejo”, exemplifica o CEO Leandro Rodrigues. Ele destaca que os resultados alcançados com o Capital Empreendedor vão além da participação no programa, graças ao apoio contínuo e à oportunidade de participar de eventos de grande porte, dentro de um “ecossistema ativo”. “Com a qualidade das mentorias e dos workshops oferecidos, começamos a entender esse mundo dos investimentos, para então começarmos a traçar nossa estratégia.”

Em janeiro de 2023, a Checkbits conseguiu o primeiro cheque (aporte) da Bossanova Investimentos, que aposta em novas startups e empresas emergentes. Também já recebeu subvenção econômica do Seedes, programa público de aceleração de startups do estado do Espírito Santo, e participa agora do Aceleração Fiemg Lab 4.0, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.

Para Igor Silva, Minas tem grande competitividade no ramo das startups, pelo próprio tamanho do território e pela consequente diversidade de negócios. “Trabalhar com essa temática vai ao encontro de uma estratégia mais ampla de atuação do Sebrae para o fomento de um ambiente de inovação e de negócios inovadores.” Segundo o analista, em apenas dois anos, as startups mineiras já captaram mais de R$ 10 milhões em investimentos.

Smart Money

Leonardo Lima é o CEO da Letwe
Crédito: Arquivo pessoal

Nascida em Belo Horizonte, em meio ao ecossistema do San Pedro Valley, a Letwe é uma empresa de tecnologia especializada em logística. Uma das cinco startups mineiras que chegaram à etapa final do programa Capital Empreendedor em 2021, a empresa recebeu um aporte de R$ 3,1 milhões no ano passado.

“Para nós, foi muito importante, porque trouxe o que chamamos de smart money, ou seja, a possibilidade de estar próximo desse mercado e ter insights decisivos. Nosso know-how é voltado para tecnologia, em como aplicá-la para resolver as dores do mercado logístico, e o investimento de uma plataforma focada em logística contribuiu muito nesse aspecto”, afirma o CEO da Letwe, Leonardo Lima.

Ele recorda que a equipe passou por diversas trilhas no âmbito do Capital Empreendedor, que envolveram, inclusive, aspectos comportamentais. “Fomos submetidos a várias provocações para desenvolver capacidades empreendedoras, do ponto de vista pessoal, e também por trilhas mais técnicas, como jurídicas, que nos ajudaram a elaborar contratos e entender processos burocráticos, além de trilhas de vendas, de mercado”, relata.

De lá para cá, a empresa passou a investir mais em tecnologia e no desenvolvimento da equipe. “Hoje temos um time que cresce de forma acelerada, dividido entre vendas, tecnologia, produto e Customer Success (sucesso do cliente)”, enumera. A startup tem clientes em diversos segmentos, que abrangem pequenas e médias empresas, além de grandes companhias, como Brinks, Klabin, Ambev e Porsche. Segundo Lima, foi possível ampliar a atuação junto aos clientes para além da logística interna. “Estamos desenvolvendo outras soluções para poder, de fato, ser um ecossistema completo, ou seja, uma empresa que vai auxiliar toda a cadeia de suprimentos, em toda a rastreabilidade do produto, desde o controle de estoque até a garantia de entrega ao cliente, que chamamos de last mile, a última milha”, conclui.

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