Inovar gera valor e está ao alcance de qualquer negócio

Cristina Mota

Inovar está ao alcance dos pequenos negócios? Exige investimentos altos ou a adoção de tecnologias de ponta? Está associado apenas à modernização de produtos e serviços? É uma prática que pode – ou deve – ser incorporada ao dia a dia dos negócios, fazer parte do seu DNA? Por quê? Para esclarecer dúvidas como essas e falar sobre a atuação do Sebrae Minas para melhorar o posicionamento dos pequenos negócios no mercado, com base na inovação, a revista Histórias de Sucesso conversou com a gerente da Unidade de Inovação e Competitividade do Sebrae Minas, Lina Volpini. Ela deixa bem evidente: para inovar, é preciso primeiramente ter uma mudança de mentalidade. Confira!

Ainda há uma frequente associação da inovação às tecnologias que promovem mudanças radicais ou revolucionárias. Mas isso não condiz com a realidade, certo?

A inovação pode envolver tecnologias disruptivas ou uma mudança em processos, no modelo de negócios, na forma de atender os clientes etc. Nós adotamos um conceito para inovação segundo o qual ela é qualquer coisa que o empresário faça de forma diferente e que gere valor para a empresa, para os clientes, para a comunidade na qual está inserida ou para as pessoas que trabalham naquela organização. Ou seja, algo feito de forma diferente é uma inovação na medida em que ela causa um impacto positivo. E, com base nesse entendimento, classificamos a inovação em quatro tipos.

Um dos tipos é a inovação de melhoria, em que a empresa olha para o seu negócio e avalia as oportunidades de aprimoramento. Por exemplo, verifica que pode melhorar a produtividade a partir de um ajuste em processos, diminui desperdícios, reduz custos. Outra modalidade é a inovação por oportunidade, quando o empreendedor olha para fora, avalia novos hábitos de consumo, por exemplo, e desenvolve um novo canal de vendas ou um novo produto, e isso aumenta a sua receita. Ou seja, enquanto a de melhoria aumenta o fôlego da empresa, a de oportunidades permite que ela cresça, e o crescimento sustentável é importante para o negócio. Esses dois tipos de inovação são os que observamos com mais frequência nos pequenos negócios, com impacto positivo no dia a dia deles, e sem necessariamente envolver grandes investimentos ou a adoção de tecnologias disruptivas.

O terceiro tipo é a inovação de base tecnológica, que surge nas universidades, com criação de novas tecnologias que provocam mudanças significativas em negócios, como, por exemplo, a tecnologia de troca de mensagens instantâneas que permitiu a criação do Pix, importante meio de pagamento, usado hoje amplamente nos negócios. E a quarta modalidade é a inovação radical, que, por alterar a forma como todo um segmento se comporta, a partir da mudança de hábitos de consumo, cria um novo mercado. Um exemplo de inovação radical é a Uber ou a Netflix.

Por que a inovação é essencial?

Porque no mundo atual um negócio não sobrevive sem inovar. Vimos isso muito fortemente na pandemia: a digitalização tornou-se uma exigência devido ao momento, e a empresa que não conseguiu se adaptar, que não conseguiu entrar nos canais digitais, teve dificuldade de sobreviver. Ou seja, o uso dos canais digitais foi vital para que a empresa permanecesse competitiva. Outro ponto: no passado, as indústrias ditavam a forma como a gente consumia, e, hoje, a gente diz como, onde e a que preço quer consumir. O consumidor muitas vezes determina o comportamento da indústria e do mercado, então é sempre necessário estar atento ao que o público-alvo da empresa demanda, ter agilidade em entender e implementar essas demandas. Para isso é fundamental inovar.

Quais são os principais desafios para que os pequenos negócios coloquem a inovação em prática?

Incorporar a cultura da inovação é um deles. Para inovar, o empresário tem que tomar uma decisão de fazer diferente e ter disciplina para implementar o jeito de inovar na empresa, às vezes ter acesso a tecnologias que hoje existem para atender as diversas realidades e necessidades dos pequenos negócios. Outro desafio importante é a mentalidade, pois muitos empresários acham que não precisam mudar nada, que a forma como estão fazendo está dando certo, gerando uma resistência em inovar de forma contínua e proativamente. Então fazer diferente é uma tomada de decisão do empresário, que precisa estar sempre atento ao que está acontecendo no mercado e disposto a fazer as mudanças necessárias, mesmo aquelas que possam causar certo desconforto.

Como é possível estimular a cultura da inovação nos negócios, por menor que ele seja? E como o Sebrae Minas atua nesse sentido?

O Sebrae Minas auxilia bastante o empreendedor nesse processo, começando por entender a necessidade do negócio, suas dores, e avaliar o que pode ser feito para solucioná-las.

Mostramos que a resposta às vezes pode ser simples, inovando com poucos recursos ou até sem investimentos, com melhorias em processos. E, se houver a necessidade de mudanças mais significativas, apresentamos soluções subsidiadas que podem ajudar no desafio, como o Sebraetec. Em outra frente, estimulamos o contato com uma rede que pode contribuir para o desafio do negócio, por meio do Sebrae Connect. Também promovemos eventos diversos focados em inovação, disponibilizamos conteúdos e outras ações de apoio.

Trabalhamos ainda para desenvolver os ecossistemas locais, auxiliando os territórios que estão em estágios diferentes de maturidade para a inovação a se organizarem para criar um ambiente favorável a esse processo. E começamos recentemente um trabalho com o poder público, que está em fase de estruturação, para também estimular o processo por esse ator, tão relevante.

Como as soluções oferecidas têm contribuído para melhorar os processos/produtos, a produtividade, alavancar as vendas e garantir o melhor posicionamento dos pequenos negócios?

Temos dados bem impressionantes em relação a isso. Fizemos uma pesquisa em 2021 para mensurar os impactos das nossas ações e apuramos que, entre as empresas atendidas pelo Sebrae Minas no ano passado que implementaram inovações, 86% melhoraram o atendimento aos clientes; 69,1% aumentaram a produção e as vendas; 79,9% registraram melhorias na qualidade dos produtos; 65,6% reduziram custos; 69,2% cortaram desperdícios; e 67,7% criaram ou melhoraram sites e redes sociais. Ou seja, os pequenos empreendimentos de fato têm obtido excelentes resultados ao inovar.