Histórias de Sucesso

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Despertando o espírito inovador

Programas Sebraetec e ALI Brasil Mais oferecem soluções customizadas para reduzir custos, aumentar a produtividade e melhorar o faturamento dos negócios


Lucas Alvarenga

Considerado por muito tempo privilégio dos grandes negócios, inovar tornou-se chave para o crescimento das micro e pequenas empresas (MPEs) brasileiras. Com as transformações recentes no mercado, acentuadas pela pandemia de Covid-19, milhares de empreendedores recorreram a programas de inovação para revolucionar a cultura de seus negócios. Segundo pesquisa do Sebrae, 97% deles puseram em prática ao menos uma nova ideia ao longo do ano passado e, em média, implementaram sete mudanças em produtos ou processos.

Uma dessas soluções está disponível no Sebrae Minas há 20 anos – o Serviço em Inovação e Tecnologia (Sebraetec), um programa que oferece atendimento personalizado e soluções sob medida para os negócios. A iniciativa reúne mais de 70 produtos, divididos em quatro eixos: desenvolvimento tecnológico, design, produção e qualidade e sustentabilidade. Até agosto deste ano, 2.382 negócios, em 423 municípios mineiros, foram atendidos com serviços como fertilização in vitro (FIV), boas práticas agrícolas, aceleração digital, comunicação visual e design de ambientes.

Em média, 70% do custo das consultorias ofertadas é subsidiado pelo Sebrae, mas os percentuais podem ser maiores, a depender do financiamento de parceiros. “O Sebraetec atende empresas que faturam até R$ 4,8 milhões por ano. São MEIs, MPEs, produtores rurais e artesãos que desejam produzir com mais eficiência e qualidade, aprimorar a comunicação e converter contatos em vendas”, destaca a analista do Sebrae Minas Juliana Orsetti.

O empreendedor interessado deve procurar uma agência do Sebrae ou acessar o site do programa. Ele pode tanto identificar quais soluções e tecnologias sua empresa precisa quanto solicitar a indicação do Sebrae em um ponto de atendimento. Uma vez incluído no Sebraetec, o empreendedor é encaminhado a um prestador de serviço credenciado pela entidade, que o acompanha por um período de 15 dias a dez meses – a depender da solução escolhida.

Metodologias rápidas

Outra solução para auxiliar os pequenos negócios a inovar é o Programa ALI Brasil Mais. Lançada em 2010, a iniciativa foi incorporada ao programa Brasil Mais, do Ministério da Economia, em 2021, e recebeu o apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ADBI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Diferentemente do Sebraetec, o programa é totalmente subsidiado pelo Sebrae.

A solução conta com os Agentes Locais de Inovação (ALIs), bolsistas que visitam os empreendimentos e auxiliam a implementar melhorias de alto impacto a partir de metodologias rápidas (sprint), em um período de quatro meses. Até agosto, eles eram vinculados ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A partir de setembro, foi reestruturada a atuação do Sebrae, e os profissionais passaram a integrar a Rede de Agentes Sebrae. Em Minas Gerais, foram selecionadas e capacitadas 597 pessoas para atuar em todo o Estado.

Com a nova estrutura, 11 modalidades foram incorporadas ao Sebrae, que até então incluía apenas a categoria de bolsistas na modalidade ALI Produtividade no Programa Brasil Mais. “O ALI é a porta de entrada para a inovação. O programa reúne por Agente até 25 MPEs por ciclo, que seguem uma jornada vivencial de encontros individuais e coletivos. Nesse período, eles mapeiam um problema com ajuda de um Agente, identificam possíveis soluções, que são testadas por meio de protótipos e validação com clientes, atingindo, assim, resultados mais promissores, além do aprendizado e ganho de autonomia para continuar inovando”, destaca o analista do Sebrae Minas e coordenador estadual dos Programas ALI Brasil Mais Transformação Digital e Produtividade, Bruno Falci.

Prático e lucrativo

A empreendedora Janice Pascoal sabe bem como transformar inovação em cultura. Ao ter o primeiro filho, decidiu deixar São Paulo e a advocacia para se dedicar ao bebê. Um gesto de amor serviu de impulso para que descobrisse um novo gosto na vida: em 2016, do forno do seu apartamento passaram a surgir saborosas releituras sem glúten das receitas de sua mãe.

Bolo sem glúten da Boleria do Bem é releitura de receita familiar
Crédito: Pedro Vilela

Sua irmã mais velha , Jamile, foi uma das incentivadoras. Embora uma estivesse em Uberlândia, e a outra, em São Paulo, elas se uniram para produzir os itens sob encomenda. “Da parceria nasceu a Boleria do Bem, nosso jeito de proporcionar bem-estar às pessoas com alimentos saudáveis”, recorda-se Janice.

Com as vendas se multiplicando, Janice decidiu retornar a Pouso Alegre, onde, em sociedade com um cunhado, instalou uma cozinha industrial e uma loja em 2019. Em menos de um ano, os produtos da Boleria do Bem chegaram às gôndolas de 19 redes de supermercados do Sul de Minas. Tudo parecia caminhar bem até que a pandemia e uma obra de mais de um ano paralisaram o negócio, reduzindo a equipe de 12 para dois funcionários.

Mas os dissabores do recomeço deram lugar à esperança a partir do momento em que a empreendedora decidiu se cadastrar no Ciclo 3 do programa ALI. Data desse período a criação do BB Premium, bolo de banana produzido em versões sem açúcar, sem traço de leite e low carb – com farinha de castanha de caju. “O Sebrae Minas me ajudou a adaptar uma receita tamanho família para um bolo de 100 gramas, ideal para lanchonetes escolares e academias, feito no micro-ondas, cujo pote resiste ao calor e ao frio.”

O sucesso do BB Premium, que alcançou 50 unidades vendidas por semana, motivou Janice a se inscrever na consultoria Controle e Melhoria de Processos do Sebraetec. “Recebi a visita de uma nutricionista do Sebrae, que me ajudou a profissionalizar a linha de produção, a ficha técnica e a precificação dos produtos. Desde então, a equipe cresceu para seis funcionários, e voltei a atender supermercados e escolas de Pouso Alegre. Hoje, vejo que a boleria é meu propósito.”

Bolo no pote é um dos carros-chefe da Boleria do Bem
Crédito: Pedro Vilela

O Sebrae Minas me ajudou a adaptar uma receita tamanho família para um bolo de 100 gramas

Janice Pascoal
Empreendedora, sobre o produto BB Premium

Experiências palpáveis

Assim como Janice, a turismóloga Fernanda Silva materializou em um pote seu desejo de inovar. Desde 2017, ela é sócia da Cantos do Mundo Turismo, uma agência de viagens on-line com sede em Bicas, na Zona da Mata mineira. O negócio é a realização de um sonho antigo da empresária, que tem uma história de mais de duas décadas com o Sebrae Minas, seu parceiro da faculdade aos tempos de secretária de Turismo de Bicas – cargo que ocupou de 2013 a 2016.

Fascinada pela área de planejamento, Fernanda se capacitou como agente de desenvolvimento turístico pelo Sebrae. A empreendedora não esconde a satisfação em proporcionar experiências de lazer para casais, famílias e amigos por meio de destinos no Brasil e no exterior. “Sempre gostei de viajar e atender os turistas de forma personalizada. Organizar uma viagem para um cliente é ajudá-lo a realizar um sonho”, diz.

Empreendedores da Cantos do Mundo investem na experiência dos clientes antes mesmo da viagem
Crédito: Lucas Bois

Esses momentos inesquecíveis, no entanto, tiveram que ser adiados após o anúncio da pandemia de Covid-19. Com o mercado paralisado, ela e o marido, Renato, seu sócio, apressaram-se para remarcar viagens e transformar a frustração dos clientes em um sonho futuro. Além disso, aproveitaram os meses sem vendas para reestruturar o negócio. Durante esse hiato, preenchido por cursos e capacitações, a turismóloga se candidatou ao programa ALI.

Selecionada, Fernanda aproveitou a oportunidade para compartilhar uma ideia. “Queria materializar a experiência da viagem em um pote entregue na aquisição dos pacotes, com itens que remetessem aos destinos escolhidos. A consultora do Sebrae Minas não só apoiou a ideia, como nos guiou desde a criação do protótipo aos testes e feedbacks de conhecidos e clientes. Viajar é desfrutar alguns dos melhores momentos da vida. Com o pote, eles podem ser recordados.”

Com o protótipo em mãos, Fernanda procurou fornecedores para criar um pote que coubesse no orçamento, sem abrir mão da beleza. “Nesse momento, recebemos apoio do Sebraetec com o design do produto. Nele, o cliente recebe os documentos da viagem, o identificador de mala, fotos polaroid e um manual com dicas de memórias a serem guardadas, como ingressos, mapas e bilhetes. Eles ficam encantados e nos marcam no Instagram, transformando o pote em nossa vitrine”, orgulha-se.

Atenção ao cliente

A procura pela satisfação dos clientes é uma marca da In Companny Contabilidade. Fundada em 2010 pelo casal Rodrigo Almeida Rodrigues e Lauriana Ferreira, a empresa atua em 50 cidades no Brasil, na Inglaterra e na Suíça. Prestes a completar 12 anos, passou por uma intensa transformação desde que transferiu a sede de Monte Carmelo para Araguari, em 2014. Mas, somente seis anos depois, com o programa ALI, os resultados se acentuaram.

Essa experiência junto ao Sebrae Minas não foi a primeira de Rodrigo. Em 2016, o contador participou do Empretec, no qual expandiu sua rede de contatos e aprendeu fundamentos que oxigenaram sua empresa. Quatro anos mais tarde, o empreendedor também se inscreveu no UP Digital. “Antes dessa mentoria do Sebrae, acreditava que o número de seguidores era a chave para aumentar as vendas. Hoje, vejo que o engajamento é que faz a diferença”, observa.

Com 12 anos de existência, a empresa do casal Rodrigo Almeida Rodrigues e Lauriana Ferreira teve resultados potencializados após participação no ALI
Crédito: Beto Oliveira

Com uma empresa lucrativa, porém estagnada, Rodrigo procurou o suporte do programa ALI para desenvolver a Central de Relacionamento com o Cliente da In Companny. Os indicadores fornecidos pela ferramenta o fizeram enxergar uma nova oportunidade. “Em 2021, tomamos a iniciativa de criar a Seu BPO, empresa focada em gestão financeira de negócios. Ela oferece 28 serviços e um produto – o cartão-benefício –, que já vendemos para 500 vidas.”

A jornada inovadora gerou outras mudanças. Preocupado em cativar os clientes internos e externos, o contador estabeleceu uma rotina de reuniões híbridas de atendimento, colocou os coordenadores à frente da jornada de integração do cliente, revisou a política de cargos e salários, ampliou os benefícios e aumentou de 5% para 10% a comissão em caso de indicação de clientes. “O colaborador recebe esse valor enquanto a empresa permanecer conosco”, conta.

Para ampliar os negócios, Rodrigo investiu em uma ferramenta de automação de marketing. Em um ano, o faturamento da In Companny subiu de R$ 98 mil para R$ 168 mil ao mês. O cenário se repetiu com o tíquete médio, que se expandiu de R$ 660 para R$ 990. “Ao conhecermos melhor os clientes, sugerimos a abertura de filiais para aqueles aptos a aproveitar os benefícios de regimes tributários especiais. Assim, conseguimos expandir nossa carteira de 207 para 309 CNPJs. Por isso digo: quando a inovação se torna uma prática, os resultados aparecem.”

Prevenir para faturar

O letreiro encoberto pela água do Rio das Velhas, em Raposos, era o prenúncio de uma tragédia na vida de Mariana Torres e Alex Sandro Macedo. O casal é sócio da Central Distribuidora de Bebidas e Descartáveis. Fundada em agosto de 2019, a empresa foi destruída cinco meses depois pelo transbordamento do rio, que arruinou o maquinário da antiga loja de 15 m2, paralisando a operação por quase um semestre.

Mariana Torres e Alex Sandro, empreendedores de Raposos
Crédito: Pedro Vilela

Mesmo com o orçamento apertado, o casal reabriu a distribuidora em maio de 2020. Porém, o novo espaço – mais amplo e moderno – foi fechado uma semana depois em razão da pandemia, o que limitou as vendas às entregas em domicílio e à retirada em balcão. “A Covid-19 nos colocou diante de mais uma calamidade. Mas, como as pessoas continuaram bebendo, mesmo isoladas em suas casas, o delivery cresceu e alcançou 60% do nosso faturamento”, lembra Mariana.

Com a retomada dos negócios, eles investiram quase R$ 100 mil para modernizar a loja com energia solar e uma câmara fria em substituição aos freezers. No entanto, o investimento ruiu dois meses depois após uma nova enchente, ocorrida em janeiro de 2022 – a tragédia deixou a cidade ilhada, com 10 mil desalojados. “Tivemos que nos reerguer novamente. Foi nesse momento que o Sebrae chegou, trazendo a ajuda que os governos foram incapazes de oferecer”, ressalta a empresária.

Sensível às calamidades em Raposos e Salinas, o Sebraetec atendeu 25 empresários com 80% de subsídio financeiro para a compra de equipamentos ou reforma de espaços afetados pelas fortes chuvas do início deste ano. O valor foi limitado a R$ 10 mil por empreendedor. “Usamos o recurso para recuperar a parte elétrica, fazer mudanças estruturais e azulejar as paredes da loja, facilitando a limpeza em caso de novas chuvas.”

Com consultoria totalmente subsidiada pelo Sebraetec, o casal conseguiu reduzir gastos, elencar prioridades e identificar gargalos do negócio. “A tragédia nos fez adiantar o plano de abrir uma nova loja para alocar os oito freezers parados, evitando que as chuvas paralisem as vendas. E, graças à consultoria do Sebrae, conseguiremos abrir a filial até o fim do ano”, projeta Mariana.