Histórias de Sucesso

Ecossistema local

Rede para evoluir

Programa desenvolvido com o apoio do Sebrae Minas oferece ambiente favorável a empresas mineiras de base tecnológica


Roger Dias

Quando optou por empreender em Viçosa, na Zona da Mata mineira, em 2009, Murici Lopes Duarte tinha ciência da dificuldade envolvida no processo de construção de uma empresa, especialmente de base tecnológica. Ele almejava oferecer uma solução inovadora na área ambiental, e, do planejamento até a consolidação do empreendimento, foram anos de esforço e aprendizado.

Incubadoras são ambientes caracterizados pelas relações entre os atores ou entidades para viabilizar o desenvolvimento tecnológico e a inovação no território.

Foi preciso auxílio para que a ideia da Eco Soluções, especializada no tratamento de efluentes e resíduos de aterros sanitários, pudesse evoluir até alcançar o faturamento atual, em torno R$ 3,5 milhões anuais. E Murici não precisou ir longe: encontrou o suporte necessário por meio da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do CenTev (IEBT/CenTev), vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, uma das incubadoras parceiras e apoiada pelo Programa Habitats de Inovação do Sebrae Minas.

O Habitats é uma iniciativa do Sebrae Minas, em parceria com a Rede Mineira de Inovação (RMI), para apoiar o desenvolvimento e aprimoramento dos mecanismos de inovação em Minas Gerais e o fortalecimento dos Ecossistemas Locais de Inovação (ELIs), com o surgimento e consolidação de empresas de base tecnológica. A analista do Sebrae Minas Luísa Vidigal explica que, “para o surgimento e desenvolvimento de negócios inovadores nos territórios, é preciso criar ambientes propícios para que a inovação aconteça e gere conexão e sinergia entre esses ambientes”.

“Para o surgimento e desenvolvimento de negócios inovadores nos territórios, é preciso criar ambientes propícios para que a inovação aconteça e gere conexão e sinergia”

Luísa Vidigal
Analista do Sebrae Minas

O programa do Sebrae Minas incentiva essa conexão por meio do compartilhamento de conhecimentos, estímulo a pesquisas e construção de parcerias. Para tanto, une pequenos empresários a parques tecnológicos, incubadoras, pré-incubadoras, aceleradoras, espaços makers e labs, hubs de inovação e coworkings, em um ambiente de aprendizagem coletiva.

Graças ao Habitats, Murici validou seu projeto e desenvolveu um plano de negócios sob a orientação de especialistas em tecnologia da UFV. Até se consolidar, a Eco Soluções participou de todas as etapas do programa: pré-incubação, quando havia uma ideia, mas era preciso suporte e orientação para transformá-la em um negócio; incubação, etapa de desenvolvimento da empresa, por meio da capacitação e apoio na sua estruturação e sustentabilidade; e graduação, quando o empreendimento obtém êxito nas etapas anteriores e apresenta capacidade empresarial de gestão, negociação e planejamento. “O suporte nos deu conhecimento, especialmente tecnológico, no momento em que a empresa se estruturava e ganhava corpo”, afirma o empresário.

O Habitats incentiva a conexão por meio do compartilhamento de conhecimentos, estímulo a pesquisas e construção de parcerias

Capilaridade

O Cerne dedica-se a difundir um novo modelo de atuação para ampliar a capacidade das incubadoras de gerar, sistematicamente, empreendimentos inovadores bem-sucedidos.

O Habitats de Inovação reúne, atualmente, 33 mecanismos de inovação em 21 municípios mineiros. O programa inclui workshops e mentorias de preparação para certificação no modelo do Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne) e estruturação de novos ambientes, curso de formação de gestores e pré-aceleração de negócios vinculados aos mecanismos apoiados.

Por meio dos mecanismos de inovação, os pequenos negócios obtêm suporte para assessoria técnica, via contato direto com especialistas e mentores que os auxiliam nos passos para desenvolvimento da ideia; suporte jurídico para a formalização; networking, que lhes dá acesso à rede, integrada, inclusive a instituições de ensino altamente renomadas; e criação de plano de negócios rentável, com auxílio no planejamento de custos, captação de recursos e ações marketing.

Lina Volpini, gerente de Inovação e Competitividade do Sebrae Minas, considera que “os Habitats são os grandes conectores do processo inovativo no território e sua capacidade de gerar negócios inovadores, criar comunidades, trabalhar em rede, gerar riqueza, empregos qualificados e soluções que impactam positivamente a vida da sociedade”.

Resultados significativos

De acordo com dados da Rede Mineira da Inovação (RMI), os mecanismos de inovação já contribuíram para o surgimento de 400 negócios em Minas Gerais. Outros 150 estão em fase de incubação, e 50 são residentes vinculados aos parques tecnológicos de Belo Horizonte, Viçosa, Itajubá, Uberaba e Santa Rita do Sapucaí. “As atividades dos mecanismos de inovação geram know-how para que as incubadoras e os aceleradores contribuam para melhorar cada vez mais seus programas de criação de novas empresas de base tecnológica”, ressalta a presidente da RMI, Adriana Ferreira Faria.

Rafael Mendonça, da 4 Intelligence: empresa continua seguindo as atividades da incubadora, para a melhoria constante<
Crédito:Pedro Vilela

Outro negócio apoiado por um mecanismo de inovação é a 4 Intelligence (4I), startup com mais de 100 funcionários dedicada a prover soluções usando ciência de dados e inteligência artificial, já graduada e instalada na incubadora do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí. De acordo com Rafael Mendonça, CTO da 4I, o projeto não sairia do papel sem a intermediação da incubadora. “Foi muito importante estar dentro desse ecossistema, onde temos startups e nascentes. Absorvemos conhecimentos com pessoas que traziam bagagem relevante.”

A empresa segue as atividades na incubadora, buscando aprimoramento constante. Tanto que participou de outra iniciativa do Sebrae Minas, o Empretec. “Sem dúvida, o desafio para a área de inteligência artificial é grande, e sempre precisamos do conhecimento acadêmico e da expertise do contato da base de tecnologia.”

Ecossistemas para transformar ideias inovadoras

Na biologia, um ecossistema é definido como um conjunto de interações entre componentes vivos e abióticos. Esse conceito foi adaptado com propriedade para a criação do Ecossistema Local de Inovação, um conjunto de diversos atores que dialogam para a transformação de ideias inovadoras em negócios bem-sucedidos. Esse grupo é formado por universidades, incubadoras, aceleradoras, centros tecnológicos, investidores, instituições de fomento e órgãos públicos, como secretarias municipais ou estaduais.

Williane Castro é empreendedora em Congonhas
Crédito:Pedro Vilela

O Sebrae Minas atua em nove ecossistemas, oferecendo suporte técnico e tecnológico aos territórios, favorecendo o desenvolvimento de empresas inovadoras. A instituição e os demais atores do processo analisam os ecossistemas, avaliando os estágios de maturidade de seus integrantes e propondo ações para contribuir para o seu desenvolvimento e resultados.

As atividades vão desde fornecimento de conteúdos e ferramentas até apresentação de boas práticas, passando pelo fortalecimento dos mecanismos de inovação e capacitação dos atores. “Montamos um plano de intervenção para que os ecossistemas se consolidem. Se estiverem em fase inicial, trabalhamos para que aumentem seu nível de maturidade até que sejam considerados formados. Para os ecossistemas em desenvolvimento, daremos mais força”, ressalta Vanessa Visacro, analista do Sebrae Minas.

Trabalho bem-sucedido

Um exemplo de sucesso é o Ecossistema Alto Paraopeba, presente nas cidades de Ouro Branco, Congonhas e Conselheiro Lafaiete. Desde 2020, diversas lideranças foram mapeadas visando à construção de um plano estratégico para a diversificação econômica local, com ênfase na inovação e no empreendedorismo. Instituições como Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Centro Universitário Santa Rita (Unifasar) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) forneceram a estrutura teórica. A partir disso, novas empresas foram criadas, e outras conquistaram mais resultados.

“É um processo contínuo, mas demanda tempo. Vamos atingir resultados mais efetivos em até uma década, mas já colhemos bons frutos desses últimos dois anos”, avalia o analista do Sebrae Minas Luís Paulo Nascimento. Proprietária da Home Inn, voltada para a automação de ambientes residenciais e corporativos, Williane Castro concorda. Ela relata aumento de 40% do faturamento após o apoio do ELI. “Começamos a fazer networking, que nos permitiu conhecer pessoas interessadas do mesmo ramo. Além disso, tivemos e continuamos a ter orientação de profissionais capacitados para desenvolver o negócio”, afirma, ressaltando a expectativa de expandir a empresa, inclusive com novas contratações para o setor de vendas .