Turismo
VIAGEM À ORIGEM
Sebrae Minas e produtores premiados promovem turismo de experiência na Rota do Café do Cerrado Mineiro
Ennio Rodrigues
Caminhar sem pressa pelos longos corredores entre as fileiras da plantação, escutando sobre a história e o zelo de quem trabalha a terra. No fim do dia, ver o pôr-do-sol sentado à mesa e desfrutar de delícias harmonizadas com a bebida premiada que é a estrela do passeio. A novidade é que não é preciso sair do país para ter essa experiência única, comum em vinhedos chilenos ou europeus. Desde o fim de 2023, essa viagem à origem produtora é possível na Rota do Café do Cerrado Mineiro, em Patrocínio, no Oeste do estado.
O Cerrado Mineiro é uma região cafeeira reconhecida como Indicação de Procedência desde 2005 e a primeira do Brasil a conquistar o reconhecimento como Denominação de Origem, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2014. O local, entre Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas, tem condições climáticas que permitem o cultivo de cafés com identidade e terroir únicos. Os grãos ali produzidos têm atributos sensoriais exclusivos e são reconhecidos nacional e internacionalmente.
“Patrocínio é o maior produtor de café do Brasil. Tem fazendas belíssimas, é uma região que respira café. Por isso, entendemos que era momento de a cidade se abrir para receber os amantes da bebida”, explica o analista do Sebrae Minas Renato Moreira. A instituição participou do trabalho de implementação da rota, assim como atua em outros roteiros turísticos pelo estado. De acordo com a também analista do Sebrae Minas Nathália Milagres, a articulação se dá em três eixos: estruturação de destinos, fomento à governança e qualificação de pequenos negócios. O objetivo é tornar a atividade turística mais atrativa e competitiva para visitantes brasileiros e de outros países. “As rotas são boas para o turista e para as comunidades. Com o maior fluxo de pessoas, consegue-se dinamizar a economia local em vários aspectos. Por isso a importância de organizar a atividade, permitindo que ela ocorra com sustentabilidade econômica, ambiental e social”, afirma.
A iniciativa beneficia os produtores e, indiretamente, hotéis, bares, restaurantes e várias outras atividades ligadas ao turismo na cidade e na região. “A Denominação de Origem do Café do Cerrado Mineiro abrange 55 municípios produtores. Por enquanto, a rota está centralizada em Patrocínio, mas nossa intenção é expandi-la para Patos de Minas e Monte Carmelo em breve”, adianta Renato Moreira. Além disso, a meta é agregar outros negócios do agro, como cachaça e queijo, para montar uma “cesta de produtos” da região.
Do solo à mesa
Na Rota do Café do Cerrado Mineiro, os visitantes podem conhecer todo o processo - do solo à mesa - de produção de cafés especiais. A Fazenda Bela Vista é um dos destinos do itinerário. Com mais de 15 hectares de produção do grão, a propriedade está sob gestão da terceira geração de produtores e tem reconhecimento internacional. Lá, o cultivo segue princípios da agricultura familiar e de processos inovadores, com manejos agroecológicos, integrativos e sustentáveis, dando origem ao Alado Coffee.
O início do cultivo na propriedade foi em 1974, sendo uma das fazendas pioneiras da região. De 1998 a 2016, a segunda geração cuidou dos trabalhos. Após o falecimento do patriarca, Alan Batista assumiu, aos 17 anos, a condução da propriedade. “Posso dizer que fui criado debaixo de um pé de café. Mesmo muito novo, já conhecia o ramo e, hoje, sou muito feliz de levar o legado da família adiante”, orgulha-se.
Ele relata que, depois da pandemia, houve muitos pedidos de consumidores para visitar a fazenda. Eles queriam saber mais sobre o café que bebiam e conhecer os processos de produção. “Eu me lembro de uma pessoa que veio junto com a família e nunca tinha visto um pé de café na vida, não sabia que era uma fruta. Ela teve uma surpresa. Depois, como ainda não havia provado um café especial, teve mais um estalo. É sempre muito bacana, as pessoas terminam a visita empolgadas”, conta.
O interesse dos visitantes também foi percebido em outras propriedades locais, como as que compõem a Expocaccer, cooperativa que reúne centenas de famílias de produtores dos municípios de Patrocínio e Patos de Minas. Em 2014, a entidade inaugurou a Cafeteria Dulcerrado, um espaço que funciona como um laboratório de cafés especiais e promove o conhecimento sobre a produção local. “Até o café chegar à gôndola, ele passa por um longo processo que envolve muita tecnologia e, principalmente, muito zelo e cuidado”, afirma Camila Paiva, gerente de cafés industrializados da cafeteria. De acordo com ela, a visita à região pode transformar a forma como as pessoas veem o café que consomem: “Cada vez mais, o mito de que os bons cafés brasileiros vão para exportação fica para trás”.
Na Coffee Roaster Porto Feliz é o momento de conhecer a torrefação dos grãos, com demonstrações ao vivo. “Participar dessa experiência única permite sentir os aromas e experimentar a adrenalina de tempo e temperatura para o preparo correto que o torrador fornece”, explica Poliana Almeida, proprietária da Coffee Roaster. Ela considera a implantação da Rota do Café do Cerrado Mineiro o resultado de um esforço coletivo de décadas. “A rota coroa o trabalho que nossa microrregião vem construindo há 52 anos. Nossa expectativa é que cada vez mais pessoas despertem para esse maravilhoso mundo”, afirma.
Caminhos de Minas
A Rota do Café do Cerrado Mineiro é uma das sete rotas turísticas em implementação pelo Sebrae Minas em parceria com o Governo do Estado. “Não existe um destino turístico forte sem uma boa estrutura para receber as pessoas, sem empresas fortes. As rotas são uma forma de colocar novos produtos na prateleira do turismo”, explica a analista do Sebrae Minas Nathália Milagres.
Em 2023, foram também lançadas as Rotas do Café do Sul de Minas e das Artes. Para este ano, o objetivo é lançar a Rota Bahia Minas, a Rota Geoparque Uberaba e dois trajetos relacionados aos queijos artesanais do estado, a Rota Queijo Canastra e a Rota Queijo Serro. Os percursos valorizam as cadeias produtivas mineiras e estimulam as economias dos municípios por meio do turismo.