Nosso Mercado
Abrigo de tradições
Com o apoio do Sebrae Minas, Nepomuceno inaugura espaço dedicado a valorizar sabores locais e incentivar o turismo
César Macedo
Os mercados municipais costumam ser vetores importantes para impulsionar a economia e o turismo. Seja em capitais como Belo Horizonte, São Paulo, Belém e Salvador, seja em cidades menores, os espaços abrigam produtos artesanais variados e proporcionam autênticas experiências gastronômicas e culturais Nepomuceno, cidade do Sul de Minas com cerca de 25 mil habitantes, passou a contar com um centro comercial que pretende cumprir todas essas funções: o Mercado Municipal Sílvio Lucas, inaugurado em 22 de março. A criação do espaço foi uma iniciativa da prefeitura local e teve a parceria do Sebrae Minas por meio do projeto Nosso Mercado, que propõe iniciativas inovadoras de gestão. O município, inclusive, é o primeiro a finalizar todas as etapas do projeto, em andamento em outras cinco cidades mineiras.
Erguido no terreno da antiga rodoviária, desativada desde 2015, o mercado começou a ser construído em 2021. A ideia original tinha dois objetivos claros: revitalizar uma das principais áreas da cidade, na Praça Negrão de Lima, na região central, e criar um ambiente propício para incentivar o comércio.
Parceria
A prefeita de Nepomuceno, Iza Menezes, conta que, assim que o projeto saiu do papel e começou a ganhar corpo, a preocupação voltou-se às estratégias para a boa gestão. Em busca de soluções, houve o contato com o Sebrae Minas, que, por sua vez, conectou a Prefeitura de Nepomuceno ao Mercado Central de Belo Horizonte. “O espaço está entre os melhores do mundo, é uma inspiração. Daí surgiu a parceria com o Sebrae, sob orientação de Luiz Carlos Braga, superintendente do Mercado de BH”, conta a prefeita.
O trabalho dedicou-se a ter uma consultoria de negócio que incluísse estratégias de venda e marketing, além de gestão profissional. “Queríamos qualificar nossos comerciantes para tornar o mercado rentável e autossustentável, ou seja, um equipamento que sirva para negócios, geração de emprego, renda e incentivo ao turismo”, explica Iza. Por indicação do Sebrae Minas, optou-se por um modelo administrativo cuja governança ficou a cargo da Associação dos Comerciantes do Mercado Municipal de Nepomuceno (ACMMN), efetivando uma parceria público-privada que conta diretamente com a participação dos 12 comerciantes selecionados. Entre os estabelecimentos em operação estão cafeteria, empório de ovos, confeitaria, sorveteria, hortifrúti, peixaria e lojas de presentes artesanais e de produtos naturais.
“Conseguimos criar um mix de produtos diversificados, visando atrair consumidores locais e visitantes”, acredita Iza Menezes. Para ela, o mercado será um ponto turístico de peso para o município, que já conta com atrações naturais, como o Jequitibá Gigante e a Pedra de Deus, além de eventos culturais e folclóricos, como a Congada, a Folia de Reis, a Festa do Café e o Trilhão de Bike. “Queremos que o mercado seja um ponto de encontro e de eventos gastronômicos e culturais. A edificação, em si, já é um grande atrativo, inspirada na arquitetura de mercados europeus. O prédio ficou muito bonito e cumpriu o objetivo de deixar a região central mais atraente”, comemora a prefeita.
Autonomia
Uma das características do projeto Nosso Mercado é conduzir as consultorias de maneira personalizada, procurando entender as características de cada centro comercial e a cultura dos municípios. O trabalho leva em conta, ainda, o grau de maturidade de cada empreendimento – se já está em funcionamento ou não, qual o modelo administrativo mais indicado, entre outros aspectos.
A analista do Sebrae Minas Glaucya Vale acompanhou de perto todo o processo de consultoria ao Mercado Municipal Sílvio Lucas. Para ela, o principal fruto da parceria com o Sebrae Minas foi a sugestão de se criar uma associação de comerciantes para “gerenciar o negócio coletivo”, proposta que foi aceita prontamente tanto pela prefeitura quanto pelos lojistas. “O ponto central foi estruturar a operação do mercado de maneira organizada, buscando dar sustentabilidade financeira para o equipamento turístico sobreviver e ter autonomia”, diz.
Segundo Glaucya, a associação precisa ter rumo próprio e traçar estratégias de curto, médio e longo prazos, independentemente das mudanças de governo. “Nosso trabalho ainda não acabou. Vamos seguir acompanhando e apoiando a administração do mercado por meio de orientações técnicas que ajudem a minimizar os gargalos que a operação venha a enfrentar”.
Integração
Primeira presidente da ACMMN, Allana Maria Bernardes Junqueira é professora e atua em escolas públicas, particulares e na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Mais recentemente, ela passou a produzir cafés especiais, e a loja que abriu no mercado de Nepomuceno, o Café do Carmo, é sua primeira incursão no comércio. Allana relata que os 12 empreendimentos do mix de lojas foram escolhidos por edital público: “Como houve inscrição de negócios similares, a Secretaria de Agricultura e Pecuária do município conduziu um sorteio para a seleção”.
A associação tem contrato com a prefeitura por um período de dez anos, renováveis por mais dez. Para Allana, o modelo administrativo escolhido tem tudo para dar certo. “Com a autogestão, todos os lojistas vão participar efetivamente de cada decisão, o que gera mais representatividade. Isso é um facilitador para resolvermos, com agilidade, questões de gerenciamento, limpeza e organização para atendermos ao público com comodidade e conforto”, analisa.
Com experiência de 15 anos no ramo de alimentação, incluindo restaurante e pizzaria, o empresário Christian de Oliveira Alves não titubeou quando soube da proposta do empreendimento em Nepomuceno, onde montou o Botequim Espaço Santè. “O ambiente é aconchegante, com design moderno e bem familiar, inspirado nos tradicionais bares do Mercado Central de Belo Horizonte. A ideia é trazer o público para o balcão, onde ele pode degustar um torresmo de rolo, uma porção de fígado com jiló e carnes grelhadas na hora, sempre acompanhados por um chopp bem gelado”, descreve.
Como o espaço para abrigar cozinha e copa é pequeno, Christian conta com infraestrutura externa para dar apoio e facilitar a vida tanto dos colaboradores quanto do público, que sempre espera agilidade e bom atendimento. “O projeto do mercado é ótimo, faltava algo assim na nossa cidade. E, mesmo com pouco tempo de funcionamento, acredito que os moradores já abraçaram a ideia, porque a visitação tem sido boa. Eu estou muito otimista.” Christian destaca, ainda, a facilidade de estar situado lado a lado com alguns de seus principais fornecedores. “Está sendo uma ótima experiência a integração com os produtores e comerciantes do próprio Mercado, que nos abastecem com hortifrútis, carnes, peixes e ovos”, celebra.
Um dos parceiros é o Verdurão MMM, de propriedade de Israel e Marcelo Rodrigues, pai e filho, pequenos produtores rurais. Ao tomarem conhecimento do edital para ocupar o mercado, eles decidiram realizar o sonho de abrir o primeiro ponto de comércio. As três letras M do nome da loja fazem referência às iniciais dos nomes dos filhos de Israel: Marcelo, Mariely e Mileny.
No sacolão, os clientes podem comprar verduras, frutas e legumes frescos e de qualidade, cultivados pela família. “O diferencial do negócio é que cerca de 80% do que vendemos é de produção própria, vem direto da roça”, orgulha-se Marcelo.