Ecossistemas Locais de Inovação
CONECTADOS PELA INOVAÇÃO
Metodologia do Sebrae acelera o desenvolvimento de Ecossistemas Locais de Inovação em Itajubá e Lavras, no Sul de Minas
Lucas Alvarenga
Localizada no Sul de Minas, Itajubá possui a quarta maior densidade de startups per capita do mundo – são mais de 150 empresas de base tecnológica para quase 100 mil habitantes, segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Juntos, esses negócios movimentam R$ 150 milhões ao ano e constituem a quinta maior fonte empregadora do município, com 1,5 mil postos de trabalho.
Se por um lado a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) ocupa papel central na formação e consolidação do ecossistema Itajubá HardTech, por outro, o Sebrae Minas atua como parceiro estratégico desse ambiente inovador desde 1990. Não por acaso, o município foi selecionado para participar do programa Ecossistemas Locais de Inovação (ELI), cuja abordagem se estende a outras nove cidades mineiras. A iniciativa busca fortalecer as startups por meio de uma metodologia que avalia seus níveis de maturidade e promove uma intervenção coordenada a partir de sua vocação econômica e de seu potencial tecnológico.
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Crédito: Pedro Vilela
“A abordagem ELI em Itajubá tem gerado resultados consistentes desde a sua implantação, em 2022. Conseguimos mapear todos os ambientes locais de inovação, criar uma rota de visitas técnicas, estruturar uma agenda compartilhada, estimular a abertura de programas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o Ensino Médio, formar uma rede de mentores voluntários para apoiar as startups e fortalecer a governança local. Essas ações certamente atrairão mais recursos e investimentos para o município”, avalia a analista do Sebrae Minas Andresa Paes.
Atento às transformações do Ecossistema de Inovação de Itajubá, o reitor da Unifei, Edson Bortoni, destaca o papel de entidades, como o Sebrae Minas, para o fortalecimento da liderança da região. “O modelo de governança local que temos atualmente demorou alguns anos para se consolidar. Ele começou na década de 1990 e se aprimorou nos últimos anos com a participação de vários atores, desenvolvendo tecnologias disruptivas e retendo talentos que geram renda e oportunidades para a região”, ressalta.
Engenheiro elétrico com especialização em Finanças, Maurício de Pinho Bitencourt se dedica ao ambiente de inovação em Itajubá desde 2005. Mentor e corresponsável pelo crescimento de mais de cem startups ao longo de 18 anos, o consultor é diretor-geral da Associação Itajubense de Inovação e Empreendedorismo (Inovai), entidade que apoia o desenvolvimento de tecnologias complexas (hard tech) elaboradas pelo ecossistema local, como hardwares e inovações para a exploração do petróleo na camada de pré-sal e produção de hidrogênio verde. Fundada em 2017, a Inovai nasceu de um consenso entre entidades dos governos federal, estadual e municipal, associações de classe da indústria e do comércio e instituições de ensino. Com o tempo, tornou-se um hub que desenvolve, de forma colaborativa, ações para acelerar startups e promover ciência, tecnologia e inovação na região. “O Sebrae foi nosso parceiro na formação da Inovai, articulando e fortalecendo a governança local. Além de oferecer parcerias, convênios e capacitações, apoia o ecossistema por meio do programa Agentes Locais de Inovação (ALI) (veja no nox abaixo), acelerando os pequenos negócios dessa cadeia de valor”, enaltece Maurício.
Os esforços empreendidos pelo município foram reconhecidos em setembro do ano passado, quando o Itajubá HardTech recebeu o Prêmio Nacional de Inovação (PNI) na inédita categoria Ecossistema de Inovação de Médio Porte. Ele foi o único ecossistema da região Sudeste do país representado no concurso. “O PNI atrai novos investidores, mas também eleva nossa responsabilidade com o desenvolvimento local”, ressalta o diretor-geral da Inovai.
Crédito: Arquivo NexAtlas
Apaixonada pelo ecossistema itajubense, Ana Raquel Calháu nasceu em Aimorés, no Vale do Rio Doce, e foi criada em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas. Ainda como graduanda de Sistemas de Informação pela Unifei, descobriu sua vocação empreendedora ao organizar eventos em parceria com o Sebrae – como hackathons, startups weekends, palestras, cursos e visitas – e ao ser selecionada para o Young Leaders of the Americas Initiative (YLAI), em Washington (EUA). O intercâmbio não só fortaleceu sua atuação como jovem liderança local, como a preparou para assumir – com dois sócios – a NexAtlas, plataforma de planejamento de voo e navegação aérea.
O “Waze da aviação” atende a mais de 2,3 mil pilotos brasileiros, que visualizam cartas e mapas aeronáuticos e recebem informações sobre aeródromos, meteorologia, distância e tempo de voo em um só lugar. Hoje CEO da NexAtlas, Ana Raquel reconhece o papel estratégico do Sebrae no desenvolvimento do ecossistema local. “O Sebrae tem sido um grande parceiro da Inovai e da Prefeitura na criação do Arranjo Produtivo Local (APL) de Asas Rotativas e Defesa, que reúne mais de 40 empresas do ramo, fundamentais para o crescimento do Itajubá HardTech.”
VALE DOS IPÊS
Na confluência entre o Sul e o Oeste de Minas, Lavras se destaca não só pela produção de café e leite, tradicionais na região. Nos últimos anos, o município se tornou um polo de inovação e empreendedorismo, assim como Itajubá. O ecossistema Vale dos Ipês abriga enorme potencial científico, tecnológico e educacional, consolidado em 49 cursos de graduação, 31 de mestrado e 21 de doutorado – a maioria ofertada pela Universidade Federal de Lavras (Ufla). Fundado em 2020, o parque tecnológico Lavrastec abriga, por sua vez, duas empresas residentes, além de uma incubadora e um núcleo de empreendedorismo e inovação.
A vocação do município, associada ao potencial local, mostrou oportunidades de inovação em áreas como agronegócio, alimentos e biotecnologia, automação e tecnologias para informação e comunicação (TIC), educação e saúde. Esses segmentos foram mapeados por meio de um diagnóstico feito pela Fundação Certi, em parceria com o Sebrae, de 2021 a 2022. “O estudo reuniu os principais atores do Vale dos Ipês, que hoje conta com uma governança estabelecida e representada pela Agência Rhizoma, criada com o apoio da nossa instituição”, explica Glaucya Vale, analista do Sebrae Minas.
Presidida pelo ex-agente ALI Álex Valentina, a Agência discute e apoia a integração dos atores locais, colaborando para o surgimento de várias verticais de negócios em Lavras. É o caso da Vertics, vertical de comércio, serviços e indústria, criada para alavancar o varejo local por meio do estímulo à inovação e de conexões entre startups, investidores e mentores. “A Rhizoma surgiu em 2023, da vontade dos próprios empresários do município de promover e evidenciar a cidade como um polo de inovação e empreendedorismo”, conta Álex.
Crédito: Pedro Vilela
A governança forte e proativa, no entanto, se apoia em parceiros como o Sebrae Minas para acelerar o desenvolvimento do Vale dos Ipês. Mentorada pela entidade, a Incubadora de Base Tecnológica (Inbatec) da Ufla obteve, em 2022, a certificação nível 1 de implantação de boas práticas em incubação do Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne). Agora, a Inbatec pleiteia atingir o nível 3 de maturidade, que demonstra a participação efetiva da rede de parceiros da incubadora dentro do ecossistema de inovação.
O Sebrae Minas também promove uma série de programas de incentivo à inovação na cidade. Além disso, apoia eventos de ideação e aceleração de startups realizados por parceiros, organiza consultorias para planejamento do ecossistema, oferta mentorias e realiza ações para a adequação da legislação municipal ao marco legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, instituído em 2018.
Crédito: Pedro Vilela
O arquiteto Rodolfo Alvarenga participou de uma das mentorias promovidas pela entidade para empreendedores do Vale dos Ipês. Ex-professor universitário e coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo (NITE) da Unilavras, encontrou no agronegócio um caminho para a inovação. Com os sócios Rennan Campos e Pedro Paulo Albernaz, Rodolfo criou uma fábrica de startups, a Viveiro AgroHub. “Na venture builder, conduzimos propostas de negócio baseadas em pesquisas acadêmicas, da ideação ao momento da captação, aproximando pesquisadores, investidores e empresários”, detalha.
Desde 2022, quando foi fundado, o Viveiro mapeou mais de 60 projetos, modelou 15 iniciativas e transformou duas delas em startups, que passaram a ofertar soluções para gestão de negócios das cadeias produtivas do leite e do café. “Lavras é um dos maiores celeiros de inteligência e formação de pessoas para o agronegócio. Aqui, produzimos tecnologias de ponta que tornam o agro brasileiro cada vez mais moderno e competitivo. Com o Sebrae, diluímos custos e riscos relacionados à venture builder, criando um ambiente ainda mais propício ao empreendedorismo inovador”, afirma
AGENTES DE INOVAÇÃO E MUDANÇA
O desafio de ativar a governança nos ecossistemas locais mobilizou o Sebrae a inovar. A entidade lançou uma modalidade do programa Agentes Locais de Inovação (ALI) para articular e engajar os representantes dos ELIs em torno da implementação de um plano de estruturação proposto pela metodologia. Em Itajubá, por exemplo, o ALI apoia mais de 30 representantes de instituições e empresas locais, organizados em sete vertentes.
A iniciativa também está presente em outras dez cidades mineiras. Bolsistas selecionados por meio de edital do Sebrae atuam para aumentar a maturidade nesses espaços inovadores, sem custos para as instituições e empresas atendidas. Para saber mais, clique aqui.
Seguro e inovador
Acostumada a instalar e realizar a manutenção de sistemas de telecomunicação e segurança eletrônica, a Televale encontrou uma forma de proteger vidas e gerar novas receitas. Sediada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a empresa desenvolveu um sistema de alerta sonoro para rompimento de barragens, já utilizado em mais de 60 usinas hidrelétricas e cinco áreas mineradoras.
Pelo feito, a Televale recebeu o Prêmio Nacional de Inovação 2023, na categoria Inovação de Produto, modalidade Média Empresa. O empresário Pedro Flávio Portela explica que o sistema foi pioneiro ao utilizar tecnologia totalmente brasileira. “Representar Uberaba e Minas Gerais é motivo de muito orgulho. Hoje, a nossa tecnologia protege, aproximadamente, 300 mil vidas humanas, do extremo norte ao extremo sul do Brasil”, garante.